O que vem depois.

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Jungkook.

Vejo o SUV antes de vê-lo. Quase passo direto pela minha casa e simplesmente continuo dirigindo, sei lá pra onde, mas alguma coisa me faz parar e entrar.

— Estou aqui — grito. — Pode vir.

Meu pai vem correndo da sala como um tanque de guerra, seguido por minha mãe e Hyoyeon agitadas logo atrás. Minha mãe está se desculpando comigo ou com ele, não sei.

— O que eu podia fazer?… O telefone toca às duas da manhã, deve ser uma emergência… Yerim não estava em casa… Eu não tive escolha…

Meu pai não diz uma palavra, só me faz voar pela cozinha e bater na porta. Levanto, me recomponho e, na próxima em vez que ele levanta o braço, dou risada. Isso mexe tanto com ele que o braço para no ar, e vejo que está pensando: Ele é mais louco do que eu imaginava.

— É o seguinte: você pode passar as próximas cinco horas me batendo até eu virar pó, mas não ligo. Não sinto mais.

Deixo que tente acertar um último golpe, mas quando sua mão vem na minha direção, a agarro pelo pulso.

— Só pra você saber: nunca mais vai fazer isso.

Não espero que funcione, mas deve ter alguma coisa diferente na minha voz, porque ele abaixa o braço. Digo pra minha mãe:

— Sinto muito por ter preocupado vocês. Taehyung está em casa e está bem, e eu vou pro quarto.

Espero que meu pai venha atrás de mim. Em vez de trancar a porta e empurrar a cômoda pra bloqueá-la, deixo aberta. Espero que minha mãe venha ver se estou bem. Mas ninguém vem porque, afinal, aqui em casa ninguém nunca quer se envolver.

Escrevo um pedido de desculpas pro Taehyung. Espero que você esteja bem. Espero que eles não tenham sido muito duros. Gostaria que isso não tivesse acontecido, mas não me arrependo de nada.

Ele responde: Eu estou bem. E você? Encontrou seu pai? Também não me arrependo, apesar de desejar que pudéssemos voltar no tempo e chegar em casa na hora certa. Meus pais não querem mais que a gente se veja.

Escrevo: Vamos ter que convencê-los a mudar de ideia. Aliás, pelo menos você me provou uma coisa, Taetae — existe aquilo de dia perfeito.

Na manhã seguinte, vou até a casa dele e toco a campainha. A sra. Kim atende, mas, em vez de me deixar entrar, fica na entrada, a porta fechada atrás de si. Sorri como se pedisse desculpas.

— Sinto muito, Jungkook. — Ela faz que não com a cabeça, e esse gesto diz tudo. Sinto muito, mas você nunca mais vai chegar perto do meu filho porque você é diferente e estranho e não confiável.

Ouço o sr. Kim lá dentro.

— É ele?

Ela não responde. Seus olhos correm pelo meu rosto, como se procurasse hematomas ou talvez algo mais profundo e ainda pior. É um gesto gentil, mas faz com que eu me sinta como se não estivesse ali.

— Você está bem?

— Claro. Estou bem. Nada pra ver aqui. Estaria melhor, vamos dizer, se pudesse conversar com vocês e explicar e pedir desculpas e ver Taehyung. Só alguns minutos, não mais que isso. Talvez se eu pudesse entrar… — Tudo o que preciso é de uma chance de sentar com eles e conversar e dizer que não é tão ruim como estão pensando, que nunca mais vai acontecer e que não estavam errados em confiar em mim.

Sobre os ombros da esposa, o sr. Kim franze a sobrancelha pra mim.

— Você tem que ir embora.

Simples assim, eles fecham a porta, e fico na entrada, trancado pra fora e sozinho.

Em casa, digito TaeBaek.com e o resultado é um aviso: Servidor não encontrado. Digito de novo e de novo, mas toda vez é a mesma coisa. Ele se foi, se foi, se foi.

No Facebook, escrevo: Você está aí?

Taehyung: Estou.

Eu: Fui te ver.

Taehyung: Eu sei. Eles estão tão bravos comigo.

Eu: Não falei que sempre estrago tudo?

Taehyung: Você não fez isso sozinho — fizemos juntos. É culpa minha. Eu não estava pensando direito.

Eu: Estou deitado, desejando que pudesse voltar no tempo até a manhã de ontem. Quero que os planetas se alinhem de novo.

Taehyung: Vamos dar um tempo pra eles.

Escrevo: Tempo é a única coisa que não tenho, mas então apago.

Na mesma noite, me mudo pro closet do meu quarto, que é quentinho e aconchegante, como uma caverna. Empurro os cabides pra um canto e estico no chão o edredom da cama. Coloco a jarra de água medicinal de Mudlavia no chão e uma foto de Taehyung na parede — ele na Flash Azul —, junto com a placa que peguei no local do acidente. Então apago a luz. Apoio o laptop nos joelhos e ponho um cigarro apagado na boca, porque o ar já está escasso aqui.

É o Acampamento Jeon de Sobrevivência. Já estive aqui e conheço os passos como a palma da minha enorme mão. Ficarei aqui o tempo que for preciso, o quanto for necessário.

Os Caçadores de Mitos afirmam que não é possível se afogar em areia movediça, mas diga isso à jovem que viajou até Antígua pro casamento do pai (segunda esposa) e foi sugada pela praia enquanto assistia ao pôr do sol. Ou aos adolescentes que foram engolidos por um poço de areia movediça construído na propriedade de um empresário de Illinois.

Aparentemente, pra sobreviver à areia movediça, é preciso ficar completamente imóvel. Ao entrar em pânico, você é puxado pra baixo e afunda. Então, talvez se eu ficar parado e seguir os Oito Passos para Sobreviver à Areia Movediça, vou superar tudo.

1. Evite a areia movediça. Tá. Tarde demais. Próximo.

2. Leve uma vara grande quando estiver se aproximando de um território de areia movediça. A teoria aqui é a de que você pode usar a vara pra testar o chão à frente e até se erguer caso afunde. O problema é que nem sempre sabemos quando estamos entrando em território de areia movediça até que seja tarde demais. Mas gosto da ideia de estar preparado. Imagino que já saí deste passo e passei para:

3. Largue tudo caso se encontre em areia movediça. Se tiver algo pesado com você, é possível que seja puxado mais rápido pro fundo. Arranque os sapatos e se livre de qualquer outra coisa que esteja carregando. É sempre melhor fazer isso quando sabe de antemão que vai encontrar areia movediça (veja o número 2), então, em suma, caso esteja indo para algum lugar onde exista essa possibilidade, vá despido. Minha mudança pro closet faz parte de “largar tudo”.

4. Relaxe. Isso remete à máxima fique-completamente-imóvel-pra-não-afundar. Curiosidade adicional: se você relaxar, seu corpo vai boiar naturalmente. Em outras palavras, é hora de ficar calmo e deixar o efeito gravitacional de Júpiter-Plutão assumir.

5. Respire fundo. Isso anda lado a lado com o número 4. O truque, aparentemente, é manter o máximo de ar possível nos pulmões — quanto mais você respirar, mais vai boiar.

6. Fique de costas. Se começar a afundar, simplesmente caia pra trás e se espalhe o máximo que puder enquanto deixa as pernas livres. Assim que se desprender, poderá seguir devagar até a terra firme e a segurança.

7. Não se apresse. Movimentos rápidos só vão prejudicar, então se mexa devagar e com cuidado até ficar livre de novo.

8. Faça pausas. Sair da areia movediça pode ser um processo demorado, então certifique- se de fazer pausas quando sentir o fôlego chegando ao fim ou o corpo cansando. Fique com a cabeça erguida pra ganhar tempo.

The froster brightness  [kth +jjk]Onde histórias criam vida. Descubra agora