Pesquisa.

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Em casa, dou um beijo no rosto da minha mãe, porque ela está precisando, e sinto o cheiro do vinho tinto.

— Vocês se divertiram? — Ela pergunta, e a gente sabe que ela espera que imploremos pra nunca mais voltar lá.

— Definitivamente não — Rocky diz e sobe a escada pisando firme.

Minha mãe suspira de alívio antes de tomar mais um gole e ir atrás dele. Domingo é o dia em que ela desempenha melhor seu papel materno.

Yerin abre um pacote de salgadinho e comenta:

— Isso é tão ridículo. — Sei o que ela quer dizer. "Isso" se refere a nossos pais e aos domingos e talvez à nossa vida como um todo. — Não entendo por que temos que ir lá e fingir que gostamos uns dos outros se todos têm plena consciência de que é isso que estamos fazendo. Fingindo. — Ela me passa o salgadinho.

— Porque as pessoas são hipócritas, Yerin. Elas preferem assim.

Ela joga o cabelo por cima do ombro e fecha a cara de um jeito reflexivo.

— Sabe, decidi ir pra faculdade no outono mesmo.

Yerin se ofereceu pra ficar em casa na época do divórcio. Alguém precisa cuidar da mamãe, disse.

De repente sinto fome, e nós dois ficamos passando o pacote de salgadinho um pro outro. Com a boca cheia, digo:

— Achei que você estivesse gostando de ficar um tempo longe das aulas.

Amo Yerin o bastante para fingir junto com ela que esse foi o outro motivo para ficar em casa, que não teve nada a ver com o namorado traidor do colégio, aquele em torno de quem ela tinha planejado o futuro.

Ela dá de ombros.

— Não sei. Talvez não esteja sendo como eu esperava. Estou pensando em ir pra Daegu e ver o que tem de bom por lá.

— Tipo o Kyungsoo? — Mais conhecido como namorado traidor da época do colégio.

— Não tem nada a ver com ele.

— Espero que não

Quero repetir as coisas que falo pra ela há meses: Você é melhor que ele. Já perdeu muito tempo com aquele babaca. Mas ela está rangendo os dentes e franzindo a testa pro pacote de salgadinhos.

— É melhor que ficar aqui.

Não posso argumentar, então pergunto:

— Você lembra do Byun Beakhyun?

— Claro. Era da minha turma. Por quê?

— Ele tem um irmão. — Eu o conheci no topo do prédio da escola quando nós dois estávamos pensando em pular. Poderíamos ter dado as mãos e saltado juntos. Iam achar que éramos amantes amaldiçoados. Escreveriam músicas sobre nós. Viraríamos lenda.

Yerin dá de ombros.

— Baekhyun era legal. Um pouco convencido. Mas engraçado às vezes. Não o conhecia tão bem. Não lembro do irmão dele. — Ela termina o vinho da mamãe e pega a chave do carro. — Até depois.

No andar de cima, procuro um cigarro e mando o novo Jeon ficar quieto. Afinal, fui eu que o criei e posso sumir com ele quando quiser. Quando acendo o cigarro, no entanto, imagino meus pulmões ficando pretos como asfalto e penso no que disse pro meu pai mais cedo: Existem jeitos diferentes de morrer. Você pode pular de um telhado ou se envenenar aos poucos com a carne de outro ser vivo.

Nenhuma animal morreu pra fazer esse cigarro, mas pela primeira vez não gosto do jeito como ele me faz sentir, como se eu estivesse me poluindo, como se eu estivesse me envenenando. Apago o cigarro e, antes de mudar de ideia, destruo todos os outros. Então corto os pedaços e jogo no lixo, ligo o computador e começo a digitar.

The froster brightness  [kth +jjk]Onde histórias criam vida. Descubra agora