A respiração de Ray é quente no meu rosto, e seus lábios são macios como plumas. Ele é mais delicado do que eu esperava e na verdade nada disso estava planejado pra hoje. Ele me segurou forte todo o tempo enquanto mexia a cabeça e acariciava meu corpo. E saboreei cada segundo até que tive que me afasta pra recuperar fôlego. Suas mãos em minhas cotas eram a unica coisa que ainda me mantinha em pé.
-Quem disse que você podia me beijar? - perguntei mas as mãos ainda sobre a nuca quente dele. Seus olhos quase não se abriram, mas o verde era bem visível daquela distância.
-Você não tentou me impedir. - Ray abriu um sorriso terno pra mim. - Eu acho que você queria. - ele sussurrou aproximando o rosto novamente do meu, me beijando mais uma vez.
Eu mal conseguir raciocinar. Não achei que ele realmente me atacaria desse jeito, mas não está errado. Eu queria. De um jeito ou de outro, não tentei impedir e ainda provoquei. Do nada me veio uma vontade de pegar ele pra mim. Mesmo eu achando o tipo de pessoa que ele é um pouco estranha. Só espero que isso não me prejudique. Foi uma forma de atração repentina, porque afinal, eu não me deixo ir por aparências. Mas foi mais do que isso. Difícil de explicar, mas eu sei que é mais complicado do que simplesmente uma menina que achou um cara bonito e quis beija-lo. Talvez seja exatamente isso que ele pense sobre mim, e também deve ser o que aconteceu com ele. Mas não é isso. Eu só não sei explicar o que realmente é.
-Nós precisamos ir. - eu soltei tentando me desvencilhar das mãos dele. Subitamente achei que seria melhor deixar tudo em segredo, até porque isso faria as pessoas pensarem o que não devem.
-Tudo bem. - ele respondeu e me soltou, logo voltei a caminhar e ele me seguiu ao meu lado. - Eu espero que você não fique chateada por isso. - ele disse depois de alguns minutos, quando estávamos bem perto do campus onde ficam os dormitórios.
-Chateada não, eu só espero que isso não vire uma distração.
-Não vai. - ele disse.
Eu passei o resto da caminhada mentalizando o quanto isso tinha sido irresponsável da minha parte. Eu poderia até mesmo ter perdido a hora de chegar as dormitórios. Isso estragaria todos os meus planos pros próximos anos, tudo por culpa de uma recaída estranha. Mas não foi ruim. Posso começar a me desesperar? Porque esse tipo de pensamento confuso é sinal de paixão. A terrível paixão. A única coisa na minha vida que tenho medo. Não quero.
-Aí estão estes dois! -Layla disse se aproximando de nós dois com as mãos na cintura. - Posso saber onde os dois pombinhos foram?
O que? Porque chamou a gente de pombinhos? Ela desconfia de alguma coisa? Eu nunca precisei inventar uma mentira sobre algo assim antes. Aliás, eu nunca precisei mentir antes. Não tenho ideia do que pensar pra responder. Layla começou a ficar impaciente e levantou uma sobrancelha pra mim, mas eu continuei encarando-a sem reação.
-A gente veio andando pelo parque. - Ray respondeu seriamente sem nenhum tipo de deslize a voz, como que tem certeza do que diz.
-Ah, só isso? Podiam ter chamado o resto de nós. - Layla pareceu acreditar perfeitamente nele.
-Ah, vocês pareciam bem felizes na discussão. Não quis interromper. - ele disse ainda mais convicto por ela ter acreditado. E por isso ficou. Layla sem ideia de nada do que aconteceu, mas não graças a mim. Ela só sorriu pra ele e deu as costas pra se encontrar com os outros e entrar no campus.
-Obrigada. - eu sussurrei pra Ray quando ele voltou a andar ao meu lado.
-Você não parece ser uma boa mentirosa.
-Eu não tenho pratica.
-Bom saber que você não pode mentir pra mim também. Então me diz, você gostou?
-Gostei de que?
-De poder me beijar. - eu corei. Não conseguia pensar em um fora coerente e talvez não tivesse porque dar um fora. Mas eu sabia que essa pergunta era pra ele inflar o próprio ego; ele já sabia a resposta.
-Sim. - eu respondi baixo, sem olhar diretamente pra Ray. Agora nós estamos sentados num banco longe de qualquer outra pessoa, já que os grandes portões de ferro que dava pra rua principal do Campus, ainda estavam fechados. Talvez tivéssemos chegado cedo.
-Que bom. Porque eu estou pensando eu deixar você me beijar mais. E olha que não é sempre que eu deixo isso. - ele segurou meu queixo e me forçou a olhá-lo com seu sorriso sedutor mas bem planejado, estampado no rosto. Não posso deixar de me perguntar quantas vezes Ray já não seduziu alguém assim.
-Você sempre se garante assim?
-Só nos finais de semana.
-Então segunda feira não é o seu dia, senhor Spears. - eu afastei a mão dele do meu rosto. - As pessoas estão reparando em você segurando meu rosto. - eu disse me referindo a grupo pouco a nossa frente, que não hesitavam em encarar.
-Se eu quiser continuar com isso aqui, as pessoas vão ter que reparar mesmo. Eu sou homem de uma mulher só. - Eu ri.
-Você acha que é fácil assim? - sério, isso foi ridículo. - você me beija e acha que já pode me chamar de sua mulher? - eu levantei e alisei minha blusa lentamente. - eu sou um pouco mais exigente. Pra começar não sei nem porque esse interesse repentino em mim.
-Eu não acho que posso. - ele disse e eu me sentei de volta, um pouco mais longe que antes. O sol estava atras de umas poucas nuvens que surgiram do nada e agora um vento fazia barulho nas árvores perto de nós. - Mas então você não está interessada em mim?
-Não é bem isso - eu respondi sem graça. - Mas eu não sei muito sobre você mesmo. Você não parece que é muito pegador. - eu sorri pro chão e ele me encarou.
-Você devia ler mais revistas que falam sobre mim. - não tenho ideia do que publicam lá, mas deve ter algo sobre isso. - não é isso o que pensam de mim por aí.
-Não é problema meu o que dizem por aí. Eu não mudo minha opinião a toa, não. - me levantei de novo quando os portões se abriram e todos começaram a caminhar pra dentro do campus.
-Vamos fazer assim então. Vamos manter contato, pra saber se você muda de ideia.
-Eu acho que já vamos ser obrigados a "manter contato" porque estamos na mesma equipe, senhor Spears. - Fiz aspas com as mãos e continuei andando pra perto de Layla.
-Eu quero dizer por fora das provas. - Ray se aproximou rápido e estendeu o braço com o celular nas mãos pra que eu pudesse perceber seu pedido. Eu parei e olhei por alguns míseros segundos, avaliando a situação. Por fim, dei de ombros e digitei rapidamente na tela acessa. Não disse mais nada. Isso não tem nada de errado. Andei pelo campus até o lugar indicado com Ray me seguindo a uma certa distância.
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Sunshine
Adventure"O que você faria se acordasse em um lugar que não tem ideia de onde é? E se você só se lembrasse do seu nome? Isso foi o que aconteceu comigo. Acordei um dia e nada tinha lugar. Eu não sabia quanto tempo fiquei apagada, mas me disseram ser anos. E...