Estava muito escuro la fora. Depois de voltar pro quarto, não demorou muito ate Nathasha aparecer. Ela não falou muito e logo se deitou pra dormir. No meio da noite eu acordei. Não tenho ideia de que horas eram, meu celular estava carregando longe de mim e não tive vontade de pega-lo. O quarto é completamente escuro e apenas uma luz passava pela fresta debaixo da porta. Tive que esperar alguns minutos com os olhos ardendo até minha visão se acostumar com o breu. Nathasha ainda estava na mesma posição em que dormiu e parecia respirar tranquilamente. Por entre as cortinas, na unica janela do quarto, da pra ver uma das piscinas que ficam por perto do prédio, mas mal posso ver a cor do chão. Só da pra ver as luzes azuis no fundo da piscina sendo refletidas pela água tremula. Eu preciso de algo quente pra beber. Eu sei que posso ir até a recepção pra conseguir café, mas tremi de imaginar ter que andar até lá sozinha nesse lugar estranho. Mesmo assim, levantei e peguei um casaco de moletom cinza- daqueles que todo mundo tem- vesti por cima da blusa e sai descalço mesmo, já que tateando o chão, não encontrei minha sandália. Até onde sei não tem problema em pegar um café. Lá tinha várias máquinas pra nós mesmo nos servimos e não ouvi dizer nada sobre horário pra andar dentro do prédio do dormitório.
O corredor está insuportavelmente frio. Imagino que a passagem de ar esteja aberta, e sem calor humano, é tudo morto. Algumas luzes estavam acessas pulando uma ou duas. Comecei a ficar nervosa com o silêncio. Eu gosto, mas em lugares como esses, seria melhor uma multidão de vozes. Quando finalmente cheguei ao elevador demorou poucos segundos pra porta se abrir e dentro, era mais quente e mais claro. Desci até a recepção, e lá do lado, numa sala de convivência, só uma menina estava sentada lendo um livro. A única luz era do abajur sobre a cabeça dela, e apesar de eu ter certeza de ter feito barulho o suficiente pra ela me notar, ela não tirou os olhos do livro. Fui até a cafeteira e peguei um expresso. Não acho que sentar por perto dessa menina irá agrada-la, por isso preferi sair pela porta lateral -de uma parede tomada de janelas- e por incrível que pareça o lado de fora era melhor. Não tinha vento e os postes acessos deixavam uma sensação mais tranquila.
-Olá... - a minha direita estava Ray. Eu prendi a respiração. Ele estava encostado na parte de trás prédio, onde ninguém pode ver, dando uma última tragada em um cigarro totalmente branco. Eu esquentava as mãos na xícara e não sabia muito bem o que falar. - pelo jeito somos mais parecidos do que eu achava.
-Eu não fumo. - respondi secamente.
-Café é tão viciante quanto. - ele sorriu e apagou a bituca no chão.
-Por que tá aqui fora? - perguntei incomodada com a ideia de que poderíamos ter a mesma ideia.
-É proibido fumar lá dentro. - deu de ombros. - mas que eu saiba você pode tomar café em qualquer lugar. Então por que veio aqui fora... descalça? -ele franziu o cenho e olhou pros meus pés. Eu gelei. Esqueci que estava de moletom com a maior parte das pernas de fora e descalça ainda por cima.
-Não achei minhas sandálias... - Murmurei encolhendo os ombros. Ele veio mais para perto e pude observá-lo melhor. Estava vestido todo confortável com roupas claras. Seu cabelo estava bagunçado e seus olhos estava pesados como duas pedras. Olheiras profundas cobriam seu rosto e quase não o reconheci na verdade. Ray parecia perturbado e talvez o cigarro o ajudasse de alguma forma. Mesmo assim, a cor dos seus olhos pulavam em meio ao resto e ele não perdia sua beleza de forma alguma. Ele me olhou várias vezes de baixo pra cima mas não disse nada. Eu continuei observando o jardim iluminado a nossa frente, com várias árvores e arbustos repletos de flores, e mesmo assim parecia morto.
-Tá tudo bem? - Ray me perguntou depois de alguns segundos.
-Tá... eu só não dormi direito.
-Café não vai te ajudar com isso.
-Eu sei... mas o que iria me ajudar?
-Eu sei de uma coisa que cansa bastante. - ele deu mais dois passos pra perto de mim, mas sua voz não era insinuante, apesar que a frase me fez tremer na base. A essa altura eu já estava encostada na parede da mesma forma que ele, sem ter muita coragem de encara-lo. -Você é muito bonita sabia? - ele puxou uma mecha do meu cabelo e alisou devagar até soltar.
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Sunshine
Adventure"O que você faria se acordasse em um lugar que não tem ideia de onde é? E se você só se lembrasse do seu nome? Isso foi o que aconteceu comigo. Acordei um dia e nada tinha lugar. Eu não sabia quanto tempo fiquei apagada, mas me disseram ser anos. E...