8

30 9 0
                                    

Não demorou muito depois de nós quatro entrarmos, pra todos os outros chegarem. Tinha soado um sinal bem alto, indicando a hora, e isso ninguém tinha nos avisado que existia. Então meio que foi um susto. Layla e eu sentamos com nossa equipe, já Simi foi se juntar a dela. Afinal, entrosamento é o mais importante. Layla mal pode desfrutar da comida porque Sam veio oo busca-la, e a cara dela não era boa que levantar na frente de todo mundo junto com Cam pra ir direto pro reformatório. A essa altura todo mundo já deve saber. Cam se aproximou dela  perto  da porta e pôs o braço por volta dela, reconfortando-a. Essa aproximação dele me deixa confusa, porque não vi eles conversando em momento nenhum, mas ela tem razão de falar que ele a apoia. O cabelo raspado, os olhos escuros e os braços cobertos por tatuagem. Se eu não soubesse que ele é um criminoso, apoiaria o casal. Ficam bonitos juntos. Por outro lado, talvez eu apoie mesmo assim. Ainda não sei se Layla não é como ele. 

Foi bem interessante. O refeitório é grande o suficiente pra eu não conseguir ver as ultimas mesas. Varias mesas de buffet distribuídas e muita gente conversando e se servindo. Mark passou por mim umas duas vezes me encarando o rindo. Seja lá o que ele pensa, não tenta disfarçar. Ele se juntou a um grande grupo na maior das mesas e muitas gente o cercava fazendo perguntas. E diferente do que eu imaginava, poucas eram as pessoas que realmente notavam minha presença. Já deve ter mais fofocas rolando além de mim. Eu amo ser invisível assim. Menos pra uma unica pessoinha. Eu não achei que ele ia mesmo sentar do meu lado, mas tudo bem desde que não faça nada estranho. Ray ria dos comentários dos garotos sentados na nossa frente, e Michelle ao meu lado parecia tão desconfortável quanto eu. A verdade é que sem Layla por perto, nós não sabíamos nem como começar uma conversa. Layla fazia parecer natural, mas eu não sei sobre o que falar com ela. Mesmo assim Michele fingiu prestar atenção na conversa dos caras e sorria pra mim de vez em quando. Em algum momento, Michelle entrou na conversa e eu continuei beliscando a comida, mesmo sem fome. Só não queria levantar e sair primeiro que todo mundo. Mas já estava tão cansada que talvez não consiga ficar mais tempo aqui sem ter o que fazer. Pra melhorar Michelle pulou pro lugar de Layla, do outro lado da mesa, já que eu, fora da conversa, atrapalhava o dialogo.

-Hyiana? - eu despertei e Ray me chamava do meu lado. Ele jogou o braço por trás da minha cadeira e aproximou o corpo do meu. Com uma pequena olhada pros outros, percebi que pareciam distraídos demais pra perceber a mim ou a Ray, mesmo assim não sei porque ele espera que eu corresponda a qualquer tipo de investida que ele possa dar logo aqui no refeitório. Apenas talvez, se estivéssemos em outro lugar; em outra situação. Nem por isso consegui desviar o olhar dele. Ele emana um calor chamativo que mesmo sendo novo pra mim, não me afasta; muito pelo contrario. Eu apenas encarei cada fresta verde de seus olhos e depois de algum tempo ele abriu um sorriso branco e inclinou a cabeça em direção ao meu rosto, como tinha feito no parque mais cedo. Eu deixaria ele me beijar. Percebendo a situação, achei que poderia me deixar levar de verdade. Minha mão escorregou pela coxa dele e apertei de leve, tentando não me desmanchar com esse momento que me mata de ansiedade por ter ele ligado a mim novamente. Eu só não entendo... por que demorar tanto? Ray claramente me provoca de proposito. Acaricia meu rosto com a ponta do nariz, e eu sinto seu halito bater em minhas bochechas. Eu parei de ouvir as pessoas ao meu redor quando ele me puxou pela cintura e eu não tive como escapar mais. O mundo todo ficou vazio e preto, mas eu não estava sozinha. Só ele importava. Eu sei que ele percebe que estou aos seus pés. Completamente.

-Hyiana. - Uma voz atrás de mim. Pouco antes de finalmente Ray me satisfazer, me soltou em um solavanco. O olhar dele pra pessoa atrás de mim era serio demais. - Quero que me acompanhe até a reitoria.

Sam olhava severamente pra mim de cima. Eu me senti intimidada dessa vez. Não por ele. Mas porque o refeitório todo olhava pra nós. Pra mim especificamente. Os três do outro lado da mesa olhavam pra Ray. Eu sabia que eles tinham visto a cena anterior, mas isso não pode ser pior. Isso porque se eu sair, ninguém entrará no meu lugar e eles terão uma grande desvantagem. Sam se virou e deu dois passos. Foi tempo suficiente pra que eu levantasse.

-Michelle também. - ele disse sem se virar. Continuou andando. Michelle me olhou meio que me perguntando o que poderíamos ter feito, mas infelizmente eu não sabia.

A reitoria ficava um pouco longe a pé, mas não o suficiente pra que eu inventasse uma boa desculpa pra qualquer acusação. Sam abriu as portas e aquela hora somente uma secretaria terminava de arrumar papeis sobre a mesa. Diferente do que imaginei ele nos levou a uma sala de reuniões ao invés de ao seu escritório. Sentou na cabeceira e pediu que eu e Michelle sentássemos do seu lado direito. Era uma sala ampla e bem iluminada, com paredes e chão brancos, e todos os móveis pretos. Não haviam janelas. Tentei entender porque. Claramente não daria pra saber quem estaria em uma reunião nessa sala posteriormente.

-Eu não tenho muito a dizer. Isso é só um protocolo que devo seguir já que todos meus superiores agora sabem da desobediência de vocês mais cedo. Eu conversarei com Simi e Layla amanhã. Também com alguns outros que fizeram a mesma coisa.

-E que tipo de punição nós vamos receber? - Michelle perguntou um pouco aflita.

-Não acho necessário. E também discordo com essas proibições, mas compreendam que é apenas algo pra ser respeitado. - ele fez movimentos com a cabeça em direção à Michelle, esperando alguma resposta que não veio. - Michelle, se não se importa, gostaria de conversar a sós com Hyiana.

-Certo... - Em uma velocidade descomunal, Michelle voou pela porta e em um baque me deixou sozinha com Sam. Não tive nem tempo de criar especulações de porque ele deseja isso agora.

-Eu fiquei sabendo da foto que foi tirada de você no parque hoje mais cedo. - Meus olhos encontraram os dele. Eu não entendi. Por que falar disso comigo? Eu olhava pro uniforme que ele ainda usava. Imaginei que ele deve ter passado o dia todo trabalhando pra cima e pra baixo, pra sair tudo certo, mas não parecia cansado. Mesmo assim tirou um tempo só pra ter essa conversa. 

-Que eu saiba isso não fere nenhuma regra... - eu disse nervosamente desviando o olhar. 

-Sim, eu sei. Só queria saber se está tudo bem quanto a isso. - ele alisava a mesa de vidro como se fosse uma joia, encarando o próprio reflexo. - Afinal, ainda é o primeiro dia. E eu acho que você não é essa tipo de pessoa. - Sam voltou a olhar pra mim. 

-"Bem" não é a palavra que eu usaria. Mas tá... normal. - eu disse devagar, sem tirar os olhos dele. Queria compreendê-lo, mas é difícil. Sam tem os olhos bem chamativos, a pele pouco bronzeada e alguns traços que me parecem orientais. Devia ser só uns 3 anos mais velho que eu. Cogitar que ele se preocupa comigo me fez estremecer. Ele ajeitou a coluna na cadeira levantando o pescoço grosso e com veias pra fora da gola do uniforme.

-Então, pode voltar pro refeitório. - ele sorriu pra mim e se levantou. Abriu a porta pra mim e assim que sai, fechou na minha cara. Eu não tive chance de dizer mais nada. O que ele poderia ficar fazendo numa sala de reuniões vazia a essa hora?

Não voltei pro refeitório. Fui direto pro meu quarto pra tentar pensar em paz no que está acontecendo.

SunshineOnde histórias criam vida. Descubra agora