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Ele me guiou de volta à frente da casa em silêncio. Entramos no carro e seguimos no banco de trás, abraçados um no outro, mas, ainda assim, sem falar. Só quando chegamos ao portão do colégio, onde o motorista não entrou, Ray voltou a falar.

    -Você acha que Mark pode fazer algo? - ele acendeu um cigarro e tragou enquanto falava. - Eu não o conheço bem, mas pelo tempo que conheço, não confio nem um pouco.

    -Se fosse pra ele fazer algo, já teria feito. Ele não tem uma boa relação com a parte mais formal da Corte, sua mãe tá certa.

    -Por que vocês falam isso? - ele parou de andar mas logo seguiu.

    -Ele é gay. A rainha nunca aceitaria um parente gay e mesmo que "aceitasse" eles nunca iriam se dar bem.

    -Ele te contou isso? - ele me olhou duvidando um pouco que Mark tenha confiado em mim assim.

    -Eu meio que adivinhei e depois ele admitiu. De qualquer forma, Mark tá aqui porque ele quer aproveitar a vida dele, antes de ele assumir um cargo sério demais na Corte para poder se meter em escândalos.

    - Mas eu ainda não entendo ele. Poderia fazer coisas mais interessantes que lutar com algumas crianças claramente inferiores a ele. Ele não precisa de nada disso aqui.

    -Você também não, Ray Spears. Não se esqueça que em matéria de "precisar" você não tá incluído.

    -Pelo que to vendo, você também não. - ele sorriu pra mim. - Hyiana Aldik. Filha de um Sr. Misterioso cujo o poderio é tão forte que almas mortais como a minha nem podem saber o nome. Fora que querendo ou não, você é da corte então.

    -Errado. Se minha mãe não é, eu não sou. Eles querem raças puras.

    -Mas não é proibido uma pessoa normal ter um filho com um anjo de lá. Eu não to entendendo que perseguição é essa com você. E daí que seu pai é um nobre e sua mãe não? Isso tem em toda parte.

    -Na verdade eu estava pensando nisso. Se sua mãe disse que minha mãe não é uma mulher normal, isso quer dizer LITERALMENTE que ela não é uma mulher normal?

    -Eu... - Ray pareceu analisar a ideia. Nos já tínhamos chegado ao dormitório, mas em vez de subir, fomos pra sala de convivência. - o que ela poderia ser?

    -Um outro ser? - eu sorri, porque essa resposta não está realmente sendo ponderada na minha mente.

    -Você já parou pra pensar, que junto com suas memórias, todo seu poder também tá sendo reprimido? Se você já é forte sem lembrar de nada, imagina se puder usar habilidades da corte e coisas assim? - Ray passou a mão no meu cabelo. - seria invencível.

    -Se eu fosse invencível, não precisava estar escondida. - eu sorri meio triste. De alguma forma, agora estou mais tranquila pra esperar. Mesmo assim tem muitas respostas que preciso ter. - Sabe que tem mais gente da corte aqui, além de Mark. Sam e Lucinda.

    -Dois guerreiros do exército particular da Queen. - Ele esfregou os olhos. - Também não faz sentido eles não saberem quem você é.

    -Algo me diz que eles sabem sim. - eu soltei baixinho. Ray olhou pra mim esperando uma resposta. - Sam já falou de forma estranha comigo algumas vezes, e ele mesmo disse que já conhece Iukk, então vai saber se ele não é mais alguém de confiança do meu pai.

    -Não sei porque, mas não acredito nisso. - Ray falou. Eu olhei pra ele. Isso pode ser só ciúmes. Eu cruzei as pernas sobre o sofá depois de tirar as sandálias, enquanto ele só me observava. - Mesmo achando tudo isso uma grande loucura e por parte do seu pai, um puta plano de desespero, ele é definitivamente uma pessoa sensata que armou tudo pra você estar cercada de pessoas que vão te proteger, e isso pode incluir o Iukk e talvez o Mark. Talvez até mais alguém aqui entre nós, que nem vamos descobrir. Enfim, seu pai não colocaria o Sam. Ele é um humano não é? Que trabalha na corte e tem privilégios porque é bom no que faz... mas continua sendo um humano.

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