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A semana seguinte foi tumultuada. Alfonso começou um novo projeto, e Dulce ficou muito ocupada. Christopher não telefonou, mas ela também não esperava que ele telefonasse. O que tinham a dizer um ao outro era muito importante, para ser tratado por telefone, então era melhor que não mantivessem nenhum contato.

Dulce entregou-se ao trabalho e, para sua surpresa, conseguiu tirar Christopher dos pensamentos. Até que, na tarde de sexta-feira, quando entrou sem se anunciar no escritório de Alfonso, viu Belinda.

— Oh, desculpe — pediu com delicadeza e fez menção de fechar a porta.

— Olhe, é a amiguinha do meu pai — Belinda ironizou. —Ou devo dizer ex-amiguinha?

— Belinda! — Alfonso exclamou, num tom de voz nada amigável.

Dulce conseguiu manter o autocontrole e focalizou a atenção no chefe.

— Volto depois, Poncho — disse com determinação. — Quando não estiver ocupado.

— Não. Espere — ele pediu, levantando-se. — Merece um pedido de desculpas dessa jovem senhorita. E ela vai se desculpar, não vai, Belinda?

— Não, não vou — Belinda respondeu desafiadoramente. — Na verdade, tio Poncho, não sei como mantém ela trabalhando aqui, depois que papai expulsou-a!

— Chega!  — Alfonso gritou, impaciente. — Como ousa falar desse jeito com Dulce? Como se atreve?

— Ela ousa porque a deixaram acreditar que pode fazer tudo o que quer Dulce declarou com raiva. — Mas acho que está na hora de alguém colocá-la a par de algumas coisas, srta. Uckermann. E uma das principais é que seu pai não me expulsou!

— Mentirosa! — Belinda retrucou, furiosa. — Foi lá no hospital, quando minha mãe estava doente, lembra-se? Ouvi meu pai mandar você embora!

— O que ouviu foi seu pai pedir para eu me retirar para não ver a vergonha que ele estava sentindo da filha!

Dulce tinha certeza de que Christopher pedira para que ela fosse embora, não porque acreditara nas mentiras de Belinda, mas porque tanta falsidade o deixara demasiadamente constrangido.

Belinda levantou-se da poltrona.

— Ele odeia você! — exclamou. — Ele me disse!

Sente-se — Dulce ordenou com firmeza, colocando a mão no ombro da garota e obrigando-a a sentar-se.

— Dulce... — Alfonso tentou interferir.

— Fique fora disso. — Dulce disse, áspera, sem desviar os olhos do rosto da jovem. — A conversa é entre mim e Belinda. Cansei dos insultos dessa garota mal-educada. Mais ainda, cansei de mentiras. Agora, pela primeira vez em sua vida de menina mimada, ela vai ouvir umas verdades.

— Não tenho de ficar sentada aqui, escutando o que tem a dizer — Belinda retrucou, parecendo assustada com a reação de Dulce.

— Oh, vai ficar sentadinha aí, sim, senhora. Seu pai nunca tentou me tirar da vida dele. Eu é que me afastei, porque não agüentava mais a desprezível família que ele tem!

— Você é uma mentirosa! Ele a expulsou, não quer mais vê-la! Papai sempre se livra das mulheres, porque faço com que elas...

Belinda interrompeu-se, corando.

— Oh, Belinda, isso prova que você é uma menininha mimada e egoísta — Dulce zombou.

— Odeio você! — Belinda gritou, irada. — Toda minha família odeia você! Quer separar meus pais e...

Separá-los— Alfonso intrometeu-se, incrédulo. — Ficou maluca, Belinda? Eles já estão separados há oito anos!

— O que não entendo é como alguém que tem tanto carinho por eles pode se tornar uma pessoa mordaz e maldosa como você — Dulce declarou tranqüilamente. — Mas está na hora de Christopher tomar consciência do que faz, Belinda. Você é a pessoa mais egoísta que tive a infelicidade de conhecer — prosseguiu, depois de uma breve pausa.— Só enxerga a si mesma e não se importa em deixar tristes as pessoas ao seu redor, contanto que seja o centro das atenções!

— Isso não é verdade! — Belinda protestou, desconcertada. — Não sou egoísta!

— Não? Veja como obriga seu pai a fingir que não tem vida própria, fora do grupo da família! Você não o deixa encontrar a felicidade ao lado de uma mulher, fazendo-o sentir-se culpado! E é tão má, que se sente orgulhosa disso.

— Dulce... — Alfonso sussurrou em tom de aviso, vendo a expressão furiosa da sobrinha.

— Você não quer que ninguém ameace seu poder sobre Christopher — Dulce continuou. — E tudo por quê? Para puni-lo. Sabe que a ama profundamente, e então o culpa por ter terminado um casamento que já acabara há anos. Mas isso não lhe interessa, certo?

— Está dizendo essas coisas por despeito, porque ele nunca vai casar com você — Belinda replicou, erguendo-se lentamente.

— Casar? — Dulce repetiu, rindo. — Deve ser muito burra para acreditar que quero ter contato com uma família como a sua. Não, Belinda, não quero casar com seu pai. Não quero mais nada dele.

Fez uma pausa, engolindo um repentino nó na garganta.

— Quero um homem que me ame acima de tudo — prosseguiu. — Seu pai não pode ser esse homem, pelo menos enquanto estiver atrelado às suas rédeas.

— Vagabunda! — a garota xingou.

Dulce sorriu.

— Insultos não me atingem, menina mimada — declarou e saiu calmamente da sala.

Escrava do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora