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— Alfonso levou Belinda para casa — a secretária informou, entrando na sala minutos depois. — Ele disse que não voltará, porque não quer encontrar-se com Christopher.

 Christopher?, Dulce repetiu mentalmente, franzindo a testa.

— Está dizendo que Christopher já voltou?

— Chegou na hora do almoço — Mitzy contou. — Almocei com a secretária dele. Ela disse que ele foi direto para casa, descansar da viagem.

Dulce sentiu um calafrio. Não imaginava qual seria a reação de Christopher, quando ele soubesse o que acontecera no escritório de Alfonso.

Mas agora já está feito, pensou.

Christopher apareceu no escritório dela meia hora depois.

— Já soube o que aconteceu entre você e minha filha. Precisava ser tão dura com ela?

— Está se referindo às verdades que eu disse a Belinda? indagou, levantando-se da cadeira giratória.

— Foi essa a maneira que encontrou para vingar-se das mentiras de minha filha?

— Não. Foi a maneira de devolver os vários insultos que ela me fez. Na primeira vez que encontrei Belinda, ela me avisou que eu não ficaria um mês com você.

Christopher virou-se e encarou-a, pasmo.

— Ou devo contar o que houve na festa de aniversário? — Dulce continuou. — Ela, com enorme prazer, andou pelo salão falando de mim a todos os convidados, e bem alto, para que eu ouvisse também, chamando-me de a atual ruiva-burra do papai.

Ele passou a mão nos cabelos, parecendo não acredita no que estava ouvindo.

— Ou devo descrever a cena no hospital, quando ela tentou me convencer de que você ainda dormia com Anahí?

Christopher ficou pálido e virou-se.

— Não pense que estou colocando toda a culpa em Belinda — Dulce disse calmamente. — Ela foi encorajada por você e Anahí. Vocês dois dão um espetáculo bastante convincente. Não é de admirar que a garota alimente a esperança de que um dia os pais voltem a se casar.

Ele abanou a cabeça, num gesto de desalento.

— Anahí participa da encenação, mas não tenho certeza de que seja apenas isso — Dulce falou. — Posso estar errada, mas tenho a impressão de que ela também espera que você volte, um dia.

Christopher suspirou e massageou a nuca, então virou-se e ocupou uma cadeira na frente da mesa.

— Conte o resto — pediu. — O que aconteceu hoje, no escritório de poncho?

— Entrei lá e encontrei Belinda. Minha primeira reação foi sair, mas ela começou a me provocar e...

Dulce deu de ombros e começou a contar tudo o que acontecera.

— Se não acredita em mim, pergunte a Poncho — disse ao terminar. — Ou mesmo a Mitzy, porque ela escutou tudo, como sempre.

Levantou-se e caminhou até a janela.

— De tanto proteger sua filha, você acabou criando um monstro — comentou. — E, se não fizer alguma coisa, logo será tarde demais. Ela não é feliz e nunca será se continuar a acreditar que sua felicidade baseia-se numa nova união dos pais.

— Anahí e eu nunca voltaremos a ficar juntos — Christopher assegurou.

— Não está na hora de um de vocês dizer isso a Belinda? Não gosto de sua filha, mas entendo por que ela ainda tem esperança de vê-los juntos.

Christopher suspirou, inclinou a cabeça para trás e fechou os olhos. Vendo sua perturbação, Dulce sentiu vontade de chorar. Voltou a olhar pela janela, procurando controlar-se.

— Acho que devo lhe contar algumas coisas sobre Belinda — Christopher murmurou por fim, fazendo com que Dulce se virasse para fitá-lo. Há uns três anos, ela fez péssimas amizades e tornou-se tão rebelde que Anahí não conseguia mais controlá-la.

Fez uma pausa, como se lhe custasse continuar o assunto.

— Belinda começou a roubar objetos da casa, coisas pequenas, cuja falta demorava para ser notada — continuou. —Mas eram peças de valor, que conseguiam um bom preço nas ruas.

Fez nova pausa.

— Vendia os objetos para comprar drogas — contou com tristeza. — Sorte eu ter descoberto antes que ela ficasse envolvida mais profundamente. Deixou o vício, mas durante a terapia, contou que se sentia rejeitada por mim e pela mãe.

Olhou para as mãos, parecendo ainda mais cansado do que quando chegara.

— Desde então, Anahí e eu fingimos que ainda somos um casal feliz, quando Belinda está por perto — prosseguiu. —Como você mesma disse, fingimos tão bem que ela acreditou.

Dulce não fez nenhum comentário.

— Acha que não ouvi as coisas que minha filha lhe disse aquela manhã, no hospital? — Christopher indagou.

— Ouviu tudo?

— Ouvi e briguei com ela. Para ser honesto, perdi a paciência e cheguei a ser bruto. Perguntei a mim mesmo o que estava fazendo, entregando minha vida nas mãos de Belinda, deixando que ela me controlasse.

Christopher calou-se e ficou em silêncio por alguns instantes.

— Ela pediu desculpas — continuou.— Explicou que disse aquelas coisas a você porque estava atormentada com sentimento de culpa.

— Culpa? Por quê? — Dulce admirou-se.

- Anahí contou-lhe que estava doente, um dia antes, na festa, mas Belinda implorou para que ela não dissesse a ninguém. Não queria que as pessoas se preocupassem, ou estragaria a comemoração de seu aniversário! - Passando a mão no rosto, Christopher suspirou. — Ao descobrir a gravidade da doença de Anahí, ela ficou cheia de remorso e explodiu com você, de quem sentia raiva. Fiquei envergonhado com as coisas que lhe disse.

— Por isso me mandou embora.

— Foi. Estava furioso, mas como a doença de Anahí era grave, esperei até que ela melhorasse, antes de dizer umas verdades a Belinda.

Christopher levantou-se, caminhou até a mesa, tirou o telefone do gancho e discou um número.

— Anahí?

Dulce sentiu um aperto no coração ao perceber que Christopher ligara para a ex-esposa. Ele chegara a uma decisão, e ela estava com receio de saber qual fora.

Escrava do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora