V

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— Parece que vocês não tiveram uma conversa pacífica lá dentro. — Syrion comentou e se apoiou na amurada do navio ao meu lado depois de me dar algum tempo para me recompor após a discussão com Scorpius. — Você não está com um boa aparência.

Meus olhos ainda estavam marejados e meu lábio inferior ainda tremia levemente. Eu mal sentia minhas roupas úmida ou os arranhões superficiais que ganhei durante a fuga a cavalo. Mirei as ondas, relutante em deixar que ele visse o meu rosto, e coloquei o medalhão por dentro da camisa outra vez.

— O capitão desse navio é um patife desprezível e sem palavra. — acusei, acidamente e sem pensar.

— Compreendo.

— Quem é esse tal Zabini afinal? — continuei, sem prestar atenção no que ele tinha dito. — E por que Scorpius fica tão tenso toda vez que ele é mencionado?

— Não cabe a mim lhe contar sobre isso.

Soltei um suspiro cansado e frustrado. Eu entendia que Syrion não podia me contar, mas já estava farta de toda aquela história.

— Não posso voltar para casa sem meu irmão. — soltei, de forma mais branda, quase sem forças para continuar com minha indignação. — Scorpius se recusa a seguir com a viagem e ele é minha última esperança. Ninguém mais irá atrás de um navio perdido ou aceitará uma mulher na tripulação.

Não sabia o que pensar depois da conversa com Scorpius — ainda mais porque uma imagem inoportuna voltava a minha mente quando eu mais precisava que estivesse clara e concentrada — e, de todo modo, ele havia sido muito decisivo em suas palavras. Acabou. Em pouco tempo eu estaria em outro navio navegando na direção oposta. Se a minha missão chegasse ao fim daquela forma tão abrupta, eu havia fracassado e voltaria de mãos vazias para casa. Não queria nem mesmo imaginar qual seria a reação da minha mãe ou do meu pai, uma vez que não teria nada para justificar a minha fuga.

E, além de tudo, ainda havia o casamento. Eu ficava enjoada só de imaginar o que me aguardava quando voltasse. Depois de todo esse tempo adicional que estive evitando o matrimônio, era esperado que eu já estivesse conformada com o inevitável fim no altar. Contudo, eu ainda me sentia extremamente desconfortável com a ideia.

Passei tempo demais mergulhada em minhas preocupações que até me esqueci da minha companhia. O Contramestre, apesar do seu tamanho e sua aparência pouco delicada, era bastante silencioso quando queria.

— Eu tinha uma irmã mais velha. Há muito tempo.

Olhei para o rosto de Syrion, surpresa com a revelação. Ele sorriu de lado e continuou:

— Ela se parecia muito com você. Não na aparência, é claro. Mas no espírito. Era tão determinada e teimosa quanto a senhorita se provou ser.

— Era? — observei. — O que houve com ela?

— Ninguém sabe. Ela desapareceu sem deixar explicações quando eu tinha treze anos. — ele contou e, apesar de ainda estar com o sorriso pequeno nos lábios, eu podia ver a tristeza tão clara quanto o céu em seus olhos escuros. — Fiquei angustiado por anos sem saber o que lhe tinha acontecido, se havia sido sequestrada, fugido ou se estava morta. Até hoje, depois de doze longos anos, eu ainda levo esse aperto no peito, uma sensação constante de que poderia ter feito mais por ela, poderia tê-la encontrado se tivesse me esforçado mais. Às vezes não consigo dormir a noite me torturando por isso.

Não tinha palavras para dizer o quanto eu sentia por ele. Eu sabia com precisão o que era perder alguém tão próximo e importante e o sentimento de impotência que se enraizava dentro de nós por não ter certeza do que havia acontecido. Era devastador e arrancava a paz.

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