XI

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O Joia da Coroa era um galeão majestoso, quase três vezes maior do que o pequeno Orgulho de Salazar. Ao se aproximar cada vez mais, eu entendia a decisão de evitar um confronto. Não teríamos nenhuma chance contra uma nau tão bem equipada e em melhores condições que nos fazia parecer um barquinho a remo.

Quando o galeão nos abordou ao parar lado a lado, meus dedos estavam entrelaçados aos de Scorpius com tanta força que eu temia quebrá-los a qualquer momento. Eu me sentia apavorada e meus olhos buscavam por James no convés da outra embarcação, mas, o pouco alcance que eu podia visualizar, não o encontrei. Imaginei que estivesse cativo no porão de carga, atrás de grades, com fome, frio e fraco.

Scorpius estava tenso, eu podia perceber através da sua respiração controlada e do olhar gélido e sem emoção em seu rosto. Ele soltou a sua espada no chão em sinal de rendição e seus homens seguiram o seu exemplo jogando todas as suas armas em um pequeno monte.

As pranchas para ligar um navio ao outro foram colocadas e homens com uniformes oficiais subiram ao nosso navio com pistolas e espadas em punhos.

— Não faça nada estúpido. — Scorpius pediu quase sem mover os lábios antes de soltar a minha mão e dar alguns passos a frente.

Várias pistolas foram apontadas para impedirem que os nossos marujos fizessem alguma investida. Ninguém se movia, aguardando.

O último homem a cruzar a ponte fora o com uniforme de capitão. Eu não o conhecia. Era alto e esguio, no auge dos seus quarenta e poucos anos, com muitos fios grisalhos entre castanhos escuro. Parecia ter perdido peso recentemente, pois seu rosto estava ossudo e abatido. Contudo, andava com a cabeça erguida e desdém no olhar enquanto observava a pequena e cansada tripulação de piratas reunida.

— Você deve ser o capitão dessa banheira. — o homem se dirigiu a Scorpius com desprezo.

— Não fale assim ou ele vai se ofender. — Scorpius falou, sério, mas eu podia reconhecer a nota de deboche em sua voz.

— Ele quem?

— O navio. Ele tem sentimentos e é bastante temperamental. Sugiro um pedido formal de desculpas.

O homem fez um aceno de cabeça e dois soldados seguraram Scorpius pelos braços enquanto um terceiro lhe desferiu um forte soco no estômago, fazendo-o se curvar sem fôlego, e logo em seguida recebeu outro no rosto.

— Você sabe quem eu sou, verme?

Scorpius cuspiu sangue na bota do capitão antes de lhe responder:

— Algum idiota arrogante que acha que pode ofender o meu navio.

— Sou Anthony Fawkes, novo capitão do maior navio do reino. — o homem rosnou e colocou a ponta da espada no pescoço de Scorpius. — Se eu estivesse na sua situação, não ousaria tentar fazer troça com alguém que pode facilmente cortar a sua garganta sem pensar duas vezes.

Assistir Scorpius em perigo despertava em mim um impulso irracional de agir para protegê-lo. Eu jamais conseguiria ficar parada observando-o ser ameaçado. Avancei na pilha de armas no chão e peguei uma pistola. Eu nunca havia manuseado uma na vida, mas imaginava como funcionava e coloquei meu dedo no gatilho. Não hesitei ao apontar para Anthony e ordenar:

— Pare!

— Lily, não. — Scorpius pediu, mas eu o ignorei.

— Se você tentar machucá-lo, eu mato-o.

O capitão me olhou com curiosidade, mas não afastou a espada do pescoço de Scorpius. Nem mesmo parecia amedrontado diante da ameaça.

— Abaixe a pistola, mocinha, ou alguém vai acabar se machucando.

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