VIII

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A vista a bombordo do navio era incrivelmente bela no final da tarde. O tom alaranjado que cobria o céu ficava cada vez mais escuro enquanto o contorno do sol se tornava menor no horizonte. Algumas nuvens mais escuras adquiriram uma cor roxa ou rosada tão bonita que me deixava encantada e pensativa por bastante tempo.

Havia algo em todo aquele cenário que me lembrava a Albus.

Eu pensava nele com menos frequência do que em James, pois sabia que meu irmão do meio estava em segurança e bem em casa, embora mesmo assim sentia tanta falta dele que fazia o aperto no meu peito se tornar ainda mais incômodo.

Albus era um habilidoso pintor, mesmo que apenas por hobbie, e imaginei o quanto ele adoraria reproduzir em uma tela aquela vista deslumbrante. Perguntei-me, pela primeira vez, o que ele pensou e sentiu quando recebeu a notícia de que eu fugi de casa e descobri que eu não conseguia adivinhar.

Pisquei os olhos, sentindo-os pesados. Eu havia conseguido dormir apenas poucas horas na noite anterior, despertando antes mesmo do nascer do sol. Meu corpo começava a apresentar os sinais da fadiga e eu continuava a ignorá-los com teimosia. Não conseguiria voltar a dormir nem mesmo se quisesse. A ansiedade começava a me consumir com a perspectiva de estarmos tão perto de Godric's Hollow.

Além disso, toda vez que eu fechava os olhos, revivia as emoções das últimas horas e isso me fazia ficar ainda mais cansada.

Na primeira oportunidade troquei o vestido que Zabini me obrigou a usar e entreguei a Scorpius para que desse o destino que desejasse. As calças que ele encontrou para mim pertenceram a Grilo, o mais magro e menor dos marujos, e ainda assim ficaram demasiadas folgadas quando as vesti. Precisei amarrar um pedaço de corda no cós para que ao menos não ficasse caindo toda vez que eu desse um passo.

A camisa era uma limpa do próprio Scorpius, tão grande que precisei dobrar várias vezes as mangas para que não engolissem minhas mãos. Eu me sentia ligeiramente estranha usando uma roupa que pertencia a ele, e não apenas porque era grande demais para mim.

Contudo, era preferível as roupas folgadas do que o vestido que pertenceu a Rose. Não me sentia à vontade usando algo de uma mulher morta e que fora tão significativa para Scorpius. Flagrei-me imaginando se ela havia sido o grande amor da vida dele e que perdê-la tinha machucado-o de tal forma que ele jamais conseguiria esquecê-la e superá-la. Logo em seguida, me repreendi pela rumo daqueles pensamentos.

De toda forma, havia tantos outros pensamentos na minha cabeça que, enquanto tentava organizá-los, podia sentir meu corpo inerte como se eu estivesse em outro lugar. Minha mente estava tomada pela saudade de casa, a esperança e ansiedade de encontrar James, as emoções da última batalha e por Scorpius — esse último aparecendo com mais frequência do que eu gostaria de admitir.

Era até mesmo irritante o quanto o presunçoso capitão estava presente mesmo em sua ausência. Por mais que eu tentasse evitar Scorpius nos meus pensamentos, não era nem de longe o suficiente para mantê-lo fora da minha cabeça. Isso estava começando a me deixar louca.

— Vamos chegar em Godric's Hollow em algumas horas. — como se pudesse adivinhar, a voz de Scorpius se infiltrou nos meus pensamentos e me trouxe de volta ao presente.

Tentei não deixar pistas na minha expressão que era justamente nele que eu pensava naquele momento. Ele se aproximou pela esquerda e se posicionou do meu lado, apoiando os antebraços no peitoril do barco.

— Syrion me disse. — respondi. — Estamos bem perto agora.

Meus olhos voltaram a se perder no horizonte e quase inconscientemente levei minha mão ao colar no meu pescoço, acariciando a pedra lisa e fria. Faltava tão pouco, eu podia sentir que estávamos cada vez mais próximos do final daquela jornada. Ter consciência daquilo me deixava ainda mais apreensiva por tantos motivos que eu não conseguia colocar em ordem.

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