— Está acordada? — me sobressaltei ao ouvir a voz de Scorpius no escuro da minha cabine e ergui o rosto para ver apenas o contorno da sua silhueta parado na soleira. Ele havia chegado de forma tão silenciosa que nem mesmo notei quando abriu a porta.
— Estou. — respondi, saltando de imediato da cama.
— Temos que ir.
Calcei minhas botas com agilidade e corri para fora da cabine. Scorpius me aguardava próximo a escada de cordas na lateral do navio.
— Só nós dois? — perguntei a ele. A maioria dos marujos parecia ainda estarem dormindo e havia poucos no convés.
— Vai ser mais rápido assim.
Saímos do navio antes do alvorecer e fomos levados até a praia por um bote que Syrion conduziu. Antes de irmos, o Contramestre nos avisou que esperaria ali até o nosso retorno.
O pequeno vilarejo pirata não ficava muito distante de onde havíamos desembarcado, mas Scorpius informou que não iríamos precisar chegar nem perto daquele lugar. Nosso objetivo estava um pouco afastado da civilização.
— Quando chegarmos, deixe que eu fale. — ele avisou. — Apenas eu.
Concordei enquanto o seguia através de árvores e raízes, nos embrenhando em uma vegetação tão densa que eu mal podia dizer para onde íamos ou de onde vinhemos. Scorpius parecia estar muito familiarizado com o caminho e não hesitava enquanto afastava os galhos e cipós com a sua longa faca curva. A pouca luz me fazia tropeçar nas raízes grossas das árvores e pedras soltas no chão, o que me atrasava consideravelmente.
Caminhamos em silêncio por cerca de quinze minutos ou mais — e mesmo que houvesse algum assunto para discutir, eu não tinha fôlego por causa da difícil caminhada — até sairmos em uma pequena clareira onde erguia-se uma velha cabana coberta por heras. Eu não sabia o que esperar lá dentro, mas senti um arrepio descer por minhas costas.
— Esse é o lugar? — indaguei, estreitando os olhos em direção ao inúmeros amuletos pendurados na vigas da casa.
— Esperava que uma feiticeira vivesse em um palácio? — ele replicou e ignorei o seu sarcasmo.
Scorpius empurrou a porta sem bater e eu o segui para dentro da cabana. O lugar possuía um forte cheiro de ervas, incenso e rum. Nas paredes havia frascos nas abarrotadas prateleiras empoeiradas com conteúdos que eu preferia não saber. Uma chaleira fervia ao fogo baixo na pequena lareira. Ali dentro estava abafado e quente.
No primeiro momento, não vimos ninguém no cômodo até uma mulher surgir do canto mais afastado como se saísse das sombras.
— Oh! — ela exclamou ao se aproximar com um ramo de hortelã na mão. — Capitão Scorpius, que prazer revê-lo.
A feiticeira não era nem de longe o que eu esperava desde que Scorpius havia mencionado vagamente sobre ela. Possuía longos cabelos negros trançados em dreadlocks que alcançavam a sua cintura e sua pele azeitonada estava coberta de linhas brancas de tinta. Seu rosto era anguloso e muito mais jovem do que eu havia imaginado que seria. Entretanto, a característica mais peculiar eram os seus olhos: um era verde, o outro ambar.
— Nephthys — Scorpius cumprimentou sem retribuir o sorriso dela.
— Continua tão charmoso quanto me lembro. — ela disse com uma voz irritantemente derretida como mel. — Já faz um longo tempo desde a última vez.
— Andei ocupado.
— Ocupado demais para se lembrar de sua velha amiga aqui? — a feiticeira ergueu sua mão coberta de traços brancos e deslizou seu dedo ossudo pelo rosto de Scorpius. — Senti falta da sua companhia.
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Indomável
Fanfiction[CONCLUÍDA] Todos sempre souberam que Lily Luna Potter não era igual as outras garotas da sociedade que almejavam um bom casamento. Ela era indomável como o mar. E ninguém seria capaz de detê-la na sua jornada em busca do irmão desaparecido.