XII

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Era o fim.

Tinha um gosto estranho e intragável, não era tão saboroso quanto imaginei que seria.

Eu deveria sentir alívio e realização por finalmente chegar ao final daquelas inúmeras desventuras em que me enfiei, mas estava bem longe disso.

Ali estava eu, um célebre pirata com a cabeça a prêmio em um navio oficial sem usar correntes ou estar atrás de grades, no desfecho de mais uma grande aventura que quase levou a minha morte e a dos meus homens meia dúzia de vezes, talvez a expedição mais instigante até o momento, e sentindo o mais curioso e incômodo vazio dentro de mim.

Por mais irônico e sem sentido que pudesse parecer, eu não lamentava não pôr as mãos no mapa prometido. Na verdade, lamentava sim, não serei hipócrita. Mas havia previsto em algum momento que aquela situação pudesse se realizar. Pensei que, quando o momento chegasse, eu poderia roubá-lo sem que ninguém percebesse até estar longe demais. No entanto, não iria fazer isso por motivos que nem mesmo eu conseguia compreender.

Contudo, o que havia me deixado daquela forma ridiculamente abatida fora a inevitável despedida com a garota rica e mimada que conheci há algumas semanas e que, de uma forma bem estranha, aprendi a gostar.

Talvez amar.

Será mesmo que aquilo era amor?

Não havia muita familiaridade entre mim e aquela sensação.

De qualquer forma, antes que pudesse me acostumar com aquele sentimento ou descobrir a verdadeira essência dele, eu teria que aprender a rejeitá-lo. E rapidamente.

Eu não queria entender ou alimentar o que sentia por Lily porque, por mais que fosse verdadeiro, arrebatador e único, de um jeito que ainda me era novo e estranho, não poderíamos ficar juntos.

Havia um oceano inteiro que nos separava. De forma literal e metaforicamente.

Ainda assim, na nossa última e única noite juntos, eu me deixei nutrir feito um tolo amador pela esperança de que aquele momento não chegaria. Que iríamos velejar naquele navio por tempo indeterminado, sem jamais chegar ao nosso objetivo final.

Juntos até o fim do mundo.

Era uma bela fantasia.

E eu nunca fui de fantasiar.

Mas agora que havíamos encontrado o irmão desaparecido e que nada a prendia ali, era chegado o momento de terminar aquela parceria.

Eu só não pensei que me traria a boca um gosto tão amargo me ver livre daquela garota que só me trouxe problemas.

Contemplei por alguns instantes o meu belo e precioso navio. O Orgulho de Salazar já havia visto dias melhores, isso era inegável. Quando iniciei aquela viagem, ele estava em sua melhor forma, recém reformado com os melhores materiais encontrado ao redor do mundo durante todas as viagens que fiz. Agora havia muitos reparos a serem feitos. O casco estava inteiramente arranhado e em alguns pontos com danos bastante consideráveis, os matros que ainda restavam em pé mal conseguiam aguentar as velas e havia outros inúmeros problemas para reparar.

Eu tinha um grande trabalho pela frente.

Se tivesse tempo para isso antes que precisasse dar adeus ao navio também.

Agora que não tinha mais a fortuna de Salazar, teria que honrar o meu acordo sacrificando o meu bem mais precioso.

As palavras de Nephtys estavam certas, afinal. Eu não recebi o mapa como foi acordado e perdi tudo aquilo que importava.

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