A tempestade veio, como Scorpius havia dito. Passava um pouco do meio dia, mas uma massa de nuvens cinzas e pesadas cobriu repentinamente o céu dando a aparência de ser muito mais tarde. Os últimos raios de sol se apagaram e as ondas começaram a mudar, tornando mais ferozes a medida que o vento soprava mais forte.
— Todos ao convés! — ouvi a voz de Scorpius se sobressair aos assovios da ventania e ele entregou o leme a Syrion antes de descer as escadas.
Meu cabelo estava preso em uma longa trança fazendo com que apenas algumas mechas soltas esvoaçassem com o vento. Aproximei-me de Scorpius, que dava ordens aos marinheiros, e curiosamente notei uma pontada de excitação no seu olhar.
— Não parece muito preocupado. — comentei ao parar ao seu lado.
Só então ele pareceu se dar conta da minha presença no convés.
— Não é o meu primeiro temporal, princesa. — falou, presunçoso.
— Pare de me chamar de princesa. — repeti pela milésima vez, quase se tornando um hábito. Percebi que aquela altura eu praticamente não me importava mais.
A tempestade estava se tornando mais violenta com incrível rapidez. Os homens corriam para realizar suas tarefas antes que não pudessem mais. Fecharam as escotilhas, apagaram o fogo no cozinha e subiram nas vergas para recolher as velas. Fiquei apreensiva, imaginando que um deles poderia cair lá de cima do mastro a qualquer momento.
A chuva desabou sobre nós de forma tão abrupta que em poucos segundos fiquei completamente encharcada.
— É melhor entrar na sua cabine. — Scorpius sugeriu, precisando gritar para ser ouvido acima do vento e da chuva.
— Eu quero ajudar. — respondi, relutante. — Posso ser útil aqui.
— Não precisamos da sua ajuda.
Olhei para os homens agarrados a cabos e cordas, trabalhando freneticamente. Além de Syrion, outro marujo também estava agarrado ao leme, ambos lutando para tentar mantê-lo sob controle e nem de longe estavam conseguindo. O barco chacoalhava e seguia apenas o rumo que as ondas ordenavam. Um cabo havia se soltado da verga e chicoteava no ar como um chicote.
— É evidente que precisam. — repliquei. — Apenas me diga o que fazer.
Assim que fechei a boca, uma onda grande se elevou a bombordo e chocou contra o navio, alagando todo o convés. Eu teria caído no chão e sido arrastada se Scorpius não tivesse me agarrado a tempo e me puxado para perto enquanto ele se segurava firme a uma corda. O barco inclinou perigosamente de lado, mas conseguiu sobrepujar as ondas. Esperei que Scorpius me soltasse, mas, para me contrariar, ele começou a me arrastar em direção a cabine.
— Me largue! — reclamei, mas não adiantou muito.
Ele abriu a porta e me puxou para dentro. Uma cascata de água caía no chão de nossas roupas encharcadas.
— Fique aqui. — ele mandou.
— Não!
— Jesus Cristo, mulher! Você ainda vai me enlouquecer!
— Não vou ficar aqui dentro. Faço parte dessa tripulação assim como qualquer outro homem e tenho condições de ajudar. Pare de me tratar como uma crian...
Minha frase foi interrompida quando Scorpius segurou o meu rosto com as duas mãos e uniu nossos lábios. Fiquei tão surpresa que não tive reação. Nem mesmo consegui assimilar o que se passava antes de terminar de forma tão abrupta quanto se iniciou.
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Indomável
Fanfiction[CONCLUÍDA] Todos sempre souberam que Lily Luna Potter não era igual as outras garotas da sociedade que almejavam um bom casamento. Ela era indomável como o mar. E ninguém seria capaz de detê-la na sua jornada em busca do irmão desaparecido.