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Há semanas eu não dormia tão bem quanto naquela noite.

Por algumas horas me permiti apenas aproveitar o momento e a companhia e esquecer que havia grandes problemas para enfrentar fora da redoma em que estávamos.

A ceia que eu e Scorpius compartilhamos mais tarde foi deliciosa em vários sentidos. Esvaziamos uma garrafa inteira de vinho e havia uma boa variedade de comida. Ele me fez provar um queijo que eu ainda não havia experimentado antes e eu supus que vinha da carga de algum contrabando. Comemos e nos amamos outra vez, entregues um ao outro em total plenitude.

Não me recordo em que momento da noite eu acabei dormindo, mas o dia já começava a amanhecer quando abri os olhos. As tochas haviam se apagado e ainda estava escuro suficiente para prolongar por mais algum tempo o momento de despertar, mesmo que eu soubesse que logo teríamos que partir.

Scorpius já estava acordado, porém eu não queria me mexer e revelar que também estava. A ponta do dedo dele deslizava pelas minhas costas nua, descia lentamente ao longo da coluna até o final e voltava para a nuca, provocando deliciosas sensações em minha pele, me fazendo desejar, em um lapso de egoísmo, ficar naquela praia e não precisar mais sair. Desejei que nada no mundo pudesse me tirar daquele pequeno e sedutor paraíso.

Mas eu não podia adiar para sempre.

Virei-me para observar o seu rosto e puxei a sua camisa de linho sobre mim, suficiente grande para me cobrir até a coxa.

Os olhos de Scorpius estavam escurecidos pelas sombras, adquirindo um tom acinzentado sólido e penetrante. Eu podia perceber que havia muitos pensamentos em sua cabeça só por causa das rugas que haviam se formado em sua testa. Passei as costas dos meus dedos na sua maçã do rosto, seguindo em direção contrária aos pelos no maxilar.

— O que está pensando? — perguntei.

— Em nós dois.

Abri um sorriso, mas então ele continuou:

— Isso acaba amanhã. — disse e desviou o rosto. — Depois que encontrarmos o navio, nós dois iremos seguir caminhos opostos. Eu tenho uma ilha para encontrar e você precisa voltar para o seu noivo.

Meu sorriso se apagou. Não era aquela resposta que eu desejava receber.

Era curioso como eu havia me esquecido completamente daquela questão. Há dias eu não pensava mais sobre o tão temível casamento. Havia estado tão ocupada tentando sobreviver a tempestades e soldados que não sobrou muito tempo para essas preocupações fúteis. E mesmo agora, a possibilidade do matrimônio não me amedrontava mais, pois parecia tão distante e pouco provável que acontecesse que já não era capaz de me alcançar ali. Ainda mais após aquela noite, depois de me entregar a um homem que jamais me desposaria. Era essencial me manter pura até o casamento e agora que eu estava desonrada era provável que nenhum homem fosse querer me tomar como esposa.

Mesmo assim, lembrar que eu ainda possuía obrigações em casa não me deixava ansiosa para retornar.

— Se eu ainda tiver um noivo. — repliquei, pensativa. — Não acho que ele ainda está me esperando. Ou qualquer outro homem.

— Eu esperaria. — Scorpius afirmou e segurou a ponta do meu queixo, fixando seu olhar intenso nos meus olhos. — Pelo tempo que fosse preciso.

Meus lábios se curvaram sem permissão e, me sentei de costas para ele, não querendo deixar tão óbvia a expressão débil no meu rosto.

— Não diga essas coisas ou vou acabar me apaixonando. — falei, tentando fazer soar como uma brincadeira, embora eu temesse que já não fosse mais. — E todos sabem que não é uma boa ideia se apaixonar por um pirata.

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