14 | "Nada, jamais, vai impedir o nosso amor"

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"Um novo tempo há de vencer/ para que a gente possa florescer/ e, baby, amar/ sem temer. E flutua/ flutua!/ ninguém vai poder/ querer nos dizer como nos amar". (Johnny Hooker e Liniker – Flutua)

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Eu observava Henry indo de um lado para o outro, organizando as compras que tinha acabado de fazer. Ele estava pensando em ficar no apartamento por muito mais tempo? Eu esperava que não. Mas quem saberia o que iria acontecer depois do que eu tinha para falar com ele?

Ele agia tão normalmente, como se estivesse se sentindo bem por estar sem mim, pensei na possibilidade de sair por aquela porta e deixar que ele seguisse sua vida, sem maiores danos. Sem alguém problemático ao seu lado, despejando todo tipo de problema em suas costas, esperando uma palavra de carinho. Mas essa alternativa logo se dissipou quando ele se sentou em minha frente.

Me entregou uma caneca branca, idêntica à que tinha na minha casa, cheia de cappuccino com canela extra. Olhei em seu rosto e percebi que ele estava esperando que eu começasse a falar, mas, vendo aquela caneca, apenas consegui chorar em sua frente. Nem consegui tomar a minha bebida preferida. Como esperado, ele preferiu manter uma postura distante, até saber o que estava acontecendo.

Em meio a soluços, eu disse que tinha medo de sua reação, medo de perdê-lo e não vê-lo nunca mais. Em troca, ele me disse que estava com medo do que eu tinha para falar, visto o jeito que eu já estava. Limpei as lágrimas e retomei o controle, respirando profundamente.

― Me desculpa... ― eu disse, querendo começar a chorar de novo, mas me controlando.

― Eu ainda não sei do que você está se desculpando ― tentando ser o mais amável possível, mesmo sendo um pouco seco.

Após alguns minutos calado, resolvi que já não poderia continuar daquele jeito. Eu já estava ali, pronto para falar tudo, mesmo não querendo mais. No entanto, derramei todas as palavras e contei toda a história. Henry tentava não expressar nenhuma reação, mas eu percebi a surpresa em seus olhos quando falei que Josh estava apaixonado por mim, que era assunto antigo. Ele também nunca tinha percebido nada.

― E foi isso. Conversei com Josh ontem, ele me prometeu que aquilo não vai se repetir ― finalmente terminei.

― E quanto a você?

― Henry, tudo o que eu mais quero nessa vida, e nas outras, é ficar com você. Fui movido por uma idiotice, não sei como pude deixar acontecer, estou profundamente arrependido.

― Olha, eu te entendo ― o olhei, atônito ― sério. É impossível não sentirmos atração por outras pessoas, somos seres humanos. O problema está em como lidamos com isso.

― É, eu não soube lidar ― me encostei no sofá, me sentindo muito mais leve, porém, ainda com medo.

― Talvez eu... eu precise pensar nisso tudo, digerir toda essa história ― ele virou o rosto, olhando o nada, e eu entendi.

Me levantei para ir embora. Eu sabia que aquele era o fim de uma linda história. Era o fim das manhãs românticas, dos passeios divertidos e das viagens inesquecíveis. Eu nem tive forças para chorar ou me despedir, caminhei em direção a porta e a abri, sem nenhuma esperança.

Para minha surpresa e alívio, Henry segurou meu braço, me impedindo de sair. Seu olhar me abraçava infinitamente, como da primeira vez em que nos tocamos naquela banheira do hotel no Brasil. Eu retribuí com um olhar hesitante, sem saber o que fazer, mas ele não me deixou pensar muito. Me deu um beijo demorado e molhado de lágrimas felizes.

Ben & Henry [FINALIZADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora