9 | "sim"

897 136 159
                                    


Minhalma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
(Florbela Espanca - Fanatismo)

<><><><><>


O natal chegou em Los Angeles. O espírito natalino tomou conta daquela cidade hipócrita que, somente nessa época, era solidária, hospitaleira e feliz. No geral, era uma cobra engolindo a outra, mentiras e falcatruas das mais variadas e criativas. Nem a polícia de lá escapava dos escândalos e manchetes por estar envolvida com tráfico de drogas ou intervenções não muito convencionais. Mas o natal era lindo! Luzes coloridas e piscantes, papais-noéis espalhados por todos os cantos, escalando prédios e tudo de mais clichê natalino que se possa imaginar.

Sempre odiei natal, por motivos de sempre odiar essa falsidade, principalmente dentro de casa. Susan sempre virava um anjo, fazia comidas deliciosas e era um amor comigo, mas era só passar no natal que o inferno voltava para a terra. Além disso, o trauma infantil ainda era sobre os presentes embaixo da árvore: meu irmão ganhava aos montes e eu apenas um suéter ou cachecol. Pode parecer bobo para um adulto, mas para uma criança isso é de cortar o coração.

Henry e eu andávamos por uma calçada um pouco escorregadia devido à neve que insistia em cair, só para lembrar os cidadãos do belo natal. Paramos em uma cafeteria para nos aquecer com um delicioso cappuccino, com canela para mim, sem canela para Henry. Nos sentamos próximo ao aquecedor, possibilitando que tirássemos nossos gorros e cachecóis, eu achava esse monte de roupas fadigante, eu amava o frio, mas ter que usar um monte de tecidos não me agradava nem um pouco.

Iniciamos uma conversa enquanto nossos pedidos eram feitos. Incrivelmente, nenhuma pessoa nos reconheceu, mas Los Angeles é o limbo dos paparazzos, com certeza haveria uma notinha em algum site dizendo que os namorados mais maravilhosos do mundo estavam tomando café juntos. Quase nos escondemos debaixo da mesa quando a atendente do balcão gritou "BENRY" em alto e bom som, ela havia nos reconhecido. Esse nome ainda nos persegue, mas eu já nem me importo. A moça nos olhou sorrindo, pediu um autógrafo e foi correndo postar nas redes sociais.

Pronto, precisávamos sair dali antes que lotasse de pessoas. Vestimos nossos dez quilos de roupas e fomos enfrentar o frio natalino. Haviam poucas pessoas nas calçadas, poucos carros nas ruas, todos estavam no conforto de suas lareiras, por isso eu adorava sair nessa época, sem muita gente para me importunar. Quando fomos atravessar uma rua, aparentemente deserta, aconteceu de um carro desgovernado quase nos atropelar. Henry e eu nos jogamos no chão para que não fossemos acertados. Após parar o carro no meio da rua, um homem igualmente desgovernado veio em nossa direção.

- Vocês não olham por onde andam, seus merdas? - Esbravejou o homem, visivelmente alterado.

- Calma, seria melhor você acelerar menos ou vai acabar matando alguém - retruquei enquanto me levantava do chão, ajudei Henry a se levantar também, por sorte, nossos montes de roupas amorteceram a queda.

- Espera... eu tô conhecendo vocês dois. São aqueles atores veadinhos que estão fazendo escândalo na internet - Henry se aproximou do homem, com uma postura mais mansa, diferente de como ele reagiria nesses momentos, até estranhei.

- Primeiramente, estamos fazendo sucesso, diferente de escândalo. E em segundo, não precisa ofender ninguém, cara, cada um segue seu caminho e pronto - Henry sorriu, estava de bom humor, foi virando as costas, creio que para sairmos sem mais danos.

- Tá dando as costas pra mim, sua bicha! - O homem estava até babando de tanto ódio estampado em seu rosto, avançou num pulo e quase acertou um soco no Henry e, se não fosse sua agilidade, teria tido o rosto acertado sem dó.

Ben & Henry [FINALIZADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora