Capítulo 5

10 0 0
                                    

  Como conheci Aidan 

Em agosto do ano retrasado a Candy Grrrl preparava o lançamento de uma nova linha de produtos para a pele chamada Rosto do Futuro (o creme para os olhos se chamava Olhos do Futuro, o creme labial tinha o nome de Lábios do Futuro e... Vocês entenderam o espírito da coisa). Como eu vivia constantemente em busca de novas e criativas formas de seduzir os editores das revistas de beleza, um belo dia, no meio da noite, uma lampadinha se acendeu sobre minha cabeça como nos desenhos animados. Eu fiquei ali pensando em comprar para cada editor algo relacionado ao seu próprio futuro, a fim de criar nele uma associação mental com o tema do lançamento, que era justamente esse:futuro. O "futuro" mais óbvio seria mandar fazer um mapa astral personalizado para cada um, mas isso já fora feito no lançamento do soro de desafio à idade que se chamava Veja a Si Mesma Daqui a Dez Anos. Aliás, essa história acabou em lágrimas, porque a editora assistente da revista Britta recebeu a previsão de que ela perderia o emprego e seu cãozinho iria fugir de casa, tudo isso em menos de um mês. (O engraçado é que embora o cãozinho tenha permanecido em casa, sua dona foi para a rua de verdade, a previsão da demissão se realizou. Isso provocou uma mudança drástica em sua carreira e ela agora atende ao público no balcão de entrada do hotel Plaza).  

Em vez do mapa astral, decidi comprar aquelas carteiras de investimentos que têm o nome de "futuros". Não fazia a menor idéia sobre o que se tratavam esses tais "futuros",só sabia que as pessoas ganhavam milhões trabalhando em Wall Street. Só que eu não consegui marcar hora com nenhum analista de "futuros", mesmo me mostrando disposta a pagar mil dólares de cada segundo do seu tempo. Tentei vários e fui barrada todas as vezes.  

  A essa altura eu já estava arrependida de ter começado a aventura, mas cometi o erro de comentar com Lauryn sobre a idéia luminosa, e Lauryn gostou muito, tanto quem e vi forçada a procurar bancos cada vez menos famosos, até que finalmente achei um corretor de títulos que trabalhava em um banco do centro. Ele concordou em me receber só porque enviei para Nita, sua assistente, toneladas de produtos grátis, com a promessa de mandar mais se ela me conseguisse acesso ao sujeito. 

E lá fui eu, aproveitando a rara oportunidade de me despir ao máximo das minhas roupas e enfeites malucos. Podem deixar que eu explico: todos os publicitários da McArthur são obrigados a assumir a personalidade da marca que representam. As garotas que trabalhavam para a conta da Earth Source, por exemplo, eram todas meio rústicas e usavam roupas parecidas com saco de batata, enquanto as da Bergdorf Baby eram clones de Carolyn Bessett Kennedy, todas com a pele absurdamente pálida, cabelos sedosos e um refinamento tal que pareciam pertencer a outra espécie (não humana). Como o perfil da Candy Grrrl era rebeldia e porra louquice, eu tinha de me vestir de acordo, mas fiquei de saco cheio disso rapidinho. Esquisitice é coisa para garotas novas. Eu tinha trinta e um anos e estava cansada de combinar cor-de-rosa com laranja.

A empolgação foi total diante da oportunidade de me vestir de forma sóbria, os cabelos gloriosamente libertos de penduricalhos completamente idiotas e montes de acessórios exóticos. Vesti um terninho azul-marinho (tudo bem, confesso que a saia era cheia de estrelinhas prateadas, mas aquela era a roupa mais careta que eu tinha) e fui trotando pelo décimo oitavo andar em busca da saia do si. Koger Coaster, passando pelo corredor com ar de gente bem-vestida e competente. Estava em devaneio, desejando secretamente trabalhar usando terninhos cortados sob medida quando virei uma esquina e várias coisas aconteceram ao mesmo tempo. 

Vinha um homem na direção oposta e nós esbarramos um no outro com tanta violência que minha bolsa escapou da mão e caiu, espalhando pelo chão todo tipo de coisas embaraçosas que estavam lá dentro (incluindo os óculos falsos que eu comprara para parecer mais inteligente e minha bolsinha de moedas onde se lê "Põe no meu cofrinho").   

Tem Alguém Aí? - Família Walsh Vol 4Onde histórias criam vida. Descubra agora