Capítulo 4

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Tomei outra ducha e me vesti. Coloquei um vestido Pucci com estampa de espirais, uma jaqueta da Goodwill e vi que estava tão atrasada para o trabalho que liguei e avisei a Lauryn que iria direto para o compromisso que agendara para as dez da manhã. Eu andava pesquisando itens promocionais para o lançamento do Brilhe, Garota! (um highlighter comum, só para dar um brilho, bem simplezinho. Seria um lançamento light, ou seja, nada de muita grana para gastar na campanha). Com o orçamento limitado, pensei em oferecer para as editoras das revistas luminárias diferentes (o que iria acentuar, sutilmente, o tema "brilho" do produto). 

Meu encontro das dez horas era com um fornecedor na Rua 41 Oeste que importava luminárias incomuns; tinha algumas que eram como auréolas — você as prendia no espelho e seu reflexo parecia o de uma santa; quando colocado atrás do sofá, ele lançava asas luminosas que a faziam parecer um anjo, desde que você sentasse no ângulo certo; tinha outra, em neon vermelho, que dizia "escolha um bar", para quem quisesse fingir que morava em Williamsburg, o mais novo ponto de badalação e bares em Nova York. 

O táxi me deixou no outro lado da rua e eu esperava para atravessá-la quando avistei um homem que conhecia. Automaticamente o cumprimentei com um "Tudo bem?". Na mesma hora me dei conta de que não me lembrava exatamente de onde o conhecia, e fiquei com medo de estar pagando o mico conhecido pelo nome de "Reconhecendo um Famoso". Rachel uma vez caíra nessa. Parou Susan Sarandon no meio da rua e começou a interrogá-la sobre de onde a conhecia. Elas frequentavam a mesma academia? Por acaso era amiga do Bill? Será que elas não haviam se conhecido no consultório do dermatologista? De repente, com vontade de sumir, Rachel exclamou: Thelma e Louise!, e recuou, absolutamente horrorizada consigo mesma.

Mas o homem misterioso parou para falar comigo: 

— Oi, garota — cumprimentou ele. — Como vai? 

— Vou bem — e acenei com a cabeça, em desespero. — Você não é a irmã de Rachel? Sou o Ângelo, lembra? Nós nos conhecemos um dia desses, de manhã cedo, no Jenni's. 

Puxa, como é que eu poderia ter me esquecido dele, com aquele visual diferente, o rosto alongado e esquelético, as olheiras profundas, os cabelos compridos e o magnetismo em estilo Red Hot Chili Pepper? 

— As coisas estão melhorando para o seu lado? — ele quis saber. 

— Não. Estou péssima. Especialmente hoje. 

— Quer tomar um café? 

— Não posso. Tenho um compromisso. 

— Anote meu celular e me ligue qualquer hora dessas, se quiser bater papo. 

— Puxa, obrigada, mas eu não sou uma viciada. 

— Tudo bem. Não vou pensar mal de você por isso. Ele rabiscou algo em um pedaço de papel amassado. Meio sem graça, eu aceitei e disse: 

— Meu nome é Anna. 

— Anna — ele repetiu. — Se cuida, viu? Maneira sua roupa, por sinal. 

— Até! — disse e enfiei o pedacinho de papel no fundo da bolsa.

Fui para o meu encontro, mas estava fora de forma. Não consegui me importar o bastante a ponto de jogar duro com o sr. Luminárias Estilosas e fui embora sem acertar nada. De volta à rua, eu estava circulando a pé por ali, à procura de um táxi, quando um carinha me entregou um folheto. Normalmente eu jogo esses papeizinhos que recebo na primeira lata de lixo que me aparece pela frente, porque nessa parte da cidade são sempre folhetos anunciando liquidações de roupas de grife para enganar turistas. Mas algo me fez olhar para o papel.

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Tem Alguém Aí? - Família Walsh Vol 4Onde histórias criam vida. Descubra agora