Capítulo 5

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PARA: ajudante_do_magico@yahoo.com 

DE: walshes1@eircom.net 

ASSUNTO: Alaska no Forno

Querida Anna, Espero que você tenha passado um "bom" fim de semana. Se encontrar Rachel, por favor, diga a ela que o Alaska no Forno é uma sobremesa maravilhosa. Os garçons a iluminam com velas que soltam estrelinhas e a carregam pela sala. Como você sabe, não sou uma mulher que se comove com facilidade, mas quando eles fizeram isso, na nossa última noite em Portugal, a cena me pareceu tão linda que fiquei com os olhos rasos d'água. 

Sua mãe amorosa,

Mamãe


Imaginei que o Alaska no Forno fosse algum bolo ou torta relacionada a casamentos. Rachel só se casaria em março do próximo ano, mas mamãe e ela já andavam implicando uma com a outra. Eu é que não ia me envolver nessa furada. Resolvi permanecer neutra e longe da linha de tiro. Fogo cruzado entre mãe e filha discutindo detalhes para o casamento podia virar uma guerra mais feia que levar tombo com as mãos no bolso. 

Entretanto, quase toquei no assunto naquela mesma noite, porque Rachel apareceu sem avisar no meu apartamento, o que não poderia ser mais inconveniente. Eu já ia dar inicio à minha sessão de 

—Oi — cumprimentei, meio desconfiada. Devia saber que ela iria aparecer, porque eu tinha saído pela tangente a semana toda. 

— Anna, estou preocupada. Você precisa parar de trabalhar tanto. Diminua o ritmo. 

Essa era uma das frases favoritas de Rachel, Ela cismou que eu estava usando o trabalho como desculpa para não vê-la — nem a ninguém. E ela estava certa: eu me sentia pior, e não melhor, quando estava em companhia de outras pessoas. O mais desafiador era meu rosto. Manter uma expressão "normal" era desgastante ao extremo. 

A pobre Jacqui estava tão decidida a me animar que, todas as vezes em que nos encontrávamos, ela trazia um arsenal de histórias divertidas sobre seu trabalho. Eu ficava esgotada de tanto sorrir e dizer "Nossa, isso foi engraçadíssimo". 

— Você vai trabalhar o fim de semana todo? — quis saber Rachel. — Anna, isso não é legal!

O que eu poderia dizer? Não poderia contar a ela que tinha passado o sábado inteiro e quase todo o domingo na internet, procurando alguns médiuns conceituados e pedindo a Aidan que me desse algum sinal para me indicar com qual deles eu deveria me consultar. 

— Foi uma emergência. 

— Você trabalha com cosméticos, como é que pode ter sido uma emergência? 

— Até aonde eu sei, você nunca saiu de casa sem o seu brilho labial. 

— Ahn, entendi, o seu... Olhe, deixe isso pra lá! Vim pessoalmente até aqui porque não consigo me comunicar com você pelo telefone, e quando eu digo "não consigo me comunicar" é no sentido emocional, não exatamente telefônico, entende? 

Até parece que eu tinha pensado em outra coisa. 

— Sei, eu entendi. Então vamos lá... Me conte como vão os planos para o seu casamento, Rachel. — Se ela insistisse em falar de qualquer outra coisa, eu pretendia dizer: "Só três palavrinhas, Rachel: Alaska... No... Forno." 

— Planos para o casamento? — ela disse. — Meu santo Cristo! — Com certo ressentimento, exclamou: — Luke e eu queremos uma cerimônia simples, só com as pessoas de quem gostamos. Só com as pessoas mais próximas. Mamãe quer convidar metade da Irlanda: milhares de primos de terceiro grau e todo mundo que ela cumprimentou uma única vez no clube de golfe. 

Tem Alguém Aí? - Família Walsh Vol 4Onde histórias criam vida. Descubra agora