Capítulo 6

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Do lado de fora do Diegos, Leon e Dana saíam de um táxi no instante exato em que eu pagava o que me trouxera até ali. Cálculo perfeito. Isso costumava acontecer muito quando eu estava com Aidan e nós quatro íamos nos encontrar em algum lugar. 

Parece que estava rolando algum bate-boca entre eles e o taxista. Isso também era comum. 

— Você é bom de roda, amigão! — gritou Dana, inclinada ao lado da janela do taxista. — Porra nenhuma! 

Dana era um pouco escandalosa, dizia o que pensava na cara das pessoas e sempre atraía muita atenção, onde quer que fosse. Sua frase favorita é "Isso é medonho!", mas ela fala assim: "EEEzo é me-dooo-nho!" Por sinal, ela usa essa frase o tempo todo, pois acha muitas coisas medonhas. Especialmente na área em que ela trabalha. Dana é decoradora de interiores e acha que todos os seus clientes são péssimos em matéria de gosto. 

— Ei, ei, deixe que eu cuido disso — insistiu Leon, de forma pouco convincente. 

Ao lado de Dana, que era muito alta, Leon parecia baixinho, gorducho e muito ansioso. Ou talvez ele seja baixinho, gorducho e ansioso. 

— Não lhe dê gorjeta, Leon! — ordenou Dana. — Leon! Não... Lhe... Dê... Gorjeta! Ele nos trouxe por um caminho completamente errado! 

Leon, ignorando-a, contava um monte de notas com gestos exagerados. 

— Isso é ridículo! — exclamou Dana. — Ele não merece essa grana toda! — Mas era tarde demais e a mão do taxista já se fechara sobre o maço de notas. 

— Ah, você que sabei — Dana girou seu sapato salto dez e jogou para o lado sua pesada cortina de cabelos sedosos. 

Foi nesse instante que Leon me viu e seu rosto se acendeu. 

— Oi, Anna!

Leon e Aidan tinham sido amigos desde crianças e, com Dana e eu no bagulho, o grupo ficou perfeito, porque nós quatro realmente nos dávamos bem. Quando Dana não está dando ataques e reclamando de as coisas serem medonhas ou ridículas, ela é muito carinhosa e divertida. Nós quatro costumávamos sair juntos nos fins de semana. Passamos uma semana inteira nos Hamptons no verão passado e tínhamos ido esquiar em Utah no mês de janeiro. 

Costumávamos sair para jantar pelo menos uma vez por semana. Leon é um cara que curte gastronomia e se empolga muito com novos restaurantes. Nossa diversão era inventar elaboradas identidades alternativas para cada um — zelador do zoológico, vencedor do American Idol, ajudante do mágico, etc. Depois passávamos à nossa parte favorita: as fantasias que alimentávamos a respeito de nós mesmos. Leon sonhava em ter um metro e noventa de altura, em ser integrante de uma força especial e mestre de Krav Magá (ou algo do gênero). Dana queria ser uma esposa dondoca e submissa, casada com um milionário que nunca estava em casa, a qual, por sinal, ela administrava como se fosse uma executiva. Eu queria ser Ariella, só que mais gente-fina. O sonho da vida de Aidan era ser um jogador de beisebol daqueles que conseguem home runs em número suficiente para garantir o título na final da World Series para os Red Sox de Boston. 

Por algum motivo, depois de voltar de Dublin, eu levara mais tempo para encarar Leon do que qualquer outra pessoa. Temia ver a verdadeira extensão da sua dor porque isso me colocaria diante do reflexo de mim mesma. 

O problema é que Leon estava tão desesperado para me ver quanto eu estava desesperada para não vê-lo. Provavelmente via em mim uma espécie de presença substituta para Aidan. 

Eu vivia fugindo dele, mas acabei desistindo havia poucas semanas e concordei em reencontrálo. 

— Podemos reservar uma mesa no Fresh Food, na rua Clinton — propôs ele. 

Tem Alguém Aí? - Família Walsh Vol 4Onde histórias criam vida. Descubra agora