A Ordem

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Eu percebi que não haviam tirado o relógio do meu pulso, então passei a marcar o tempo, agora que era alimentado todo dia por alguém que eu nunca via. Tomavam o cuidado de me trazer comida sempre que eu estava dormindo.
Na maioria das vezes eram legumes ou frutas de acompanhamento, mas sempre traziam uma jarra gelada de água e carne. Carne assada.
Tirando a cela escura e não muito confortável, minha alimentação se afastava muita da adequada a um refém. Mas óbvio que eu não iria reclamar disso.
Contabilizei 5 dias nessa rotina, e confesso que mesmo bem alimentado, eu estava começando a ficar louco. Louco de preocupação com os outros, de desespero pela solidão e de medo do que aconteceria comigo dali pra frente.
Ouvi a porta ao fundo do corredor se abrir. Dessa vez as sombras não passaram pela minha porta, mas pararam em frente a ela. Ouvi o tranco da chave abrindo minha cela, e duas figuras encapuzadas entraram.
Mesmo sadio agora, achei melhor não reagir a nada. Eu realmente não sabia no que havia me metido, e não era um bom momento pra bancar o herói ou o guerreiro.
Eles perceberam que eu não iria tentar escapar, e permitiram que eu saísse com um para o corredor enquanto o outro trancava minha cela. Percebi que havia várias outras, uma ao lado da outra, algumas abertas e vazias e outras trancadas.
Enquanto me escoltavam pelo corredor, tentei discretamente enxergar seus rostos, mas sem sucesso.
Saímos do corredor iluminado por tochas para uma escadaria de madeira seca que subia ladeando as paredes do que parecia ser um porão muito profundo. A iluminação se dava por apenas uma tocha que um deles segurava, indo na frente. Eu caminhava atrás, com o outro na retaguarda, uma óbvia garantia de que eu não tentaria nada.
Chegamos no topo, no que parecia ser um alçapão. Quando ele foi aberto, uma escada de mão desceu, e um a um subimos.

O ar logo ficou menos abafado e mais frio. Eu sabia, nós havíamos voltado à superfície da mansão.
Desta vez ela estava toda iluminada por velas que se encontravam abundantes em vários lugares como no chão, em cima de antigas mesas e escrivaninhas e até em adequados e empoeirados castiçais.
Andamos até o hall de entrada. Por onde eu mesmo havia entrado tempos atrás.
Haviam cinco pessoas com capuzes conversando. Duas delas estavam com seus capuzes abaixados e a luz das velas me mostrou seus rostos.
Um homem careca, com a boca enfaixada com ataduras e o rosto enrugado. Ao lado dele, havia uma mulher, loira de cabelos extremamente compridos lisos, que caiam nas laterais do seu corpo e emolduravam um rosto pálido e inexpressivo. Ela era linda... Inegavelmente linda.
Todos se viraram para nós quando entramos.
O homem de atadura abriu os braços e disse em uma voz abafada e rouca.
– Nosso portal. É uma honra recebe-lo aqui.
Me mantive quieto e tentei me manter sério, sem tentar transparecer o medo.
– Você não tem nada a dizer, mas sei que está perdido. – Ele se aproximou de mim, e sua mão fria e envolta em anéis de aço tocaram minha testa– As respostas vão ser entregues a você, a todos nós. Essa noite, tudo valerá a pena.
Ele olhou para um dos encapuzados que vieram comigo.
– Vou esperar que os outros cheguem. Thomas tem algo para nós...
Meu estômago revirou cheio. Seria possível que o orientador, minha única esperança de salvação, da salvação dos meus amigos, estivesse envolvido nisso?
–... Leve-o para a câmara.
Quando íamos saindo em direção a outra escadaria, a mulher de cabelos longos sussurrou algo no ouvido dele. Ele concordou com a cabeça e indicou para ela o caminho.
Começamos a descer. Eu atrás com um dos encapuzados junto a mim, e ela indo na frente com o portador da tocha, aparentemente conversavam em voz baixa.
Estávamos descendo novamente, e eu me senti muito mal por isso mas... eu estava preocupado com o idiota do Troy.
Aonde ele estava?
Pensar nisso embrulhava o meu estômago cheio

Raízes DespertasOnde histórias criam vida. Descubra agora