Eu intensifiquei meu pensamento em torno daqueles que tentavam fugir para as saídas da caverna que levavam até a mansão. Ela já estava em chamas, mas eu intensifiquei o calor e fechei as portas. Estes morreram assados pelo calor e intoxicados pela fumaça que os pegou nas abafadas escadarias subterrâneas.
Os que tentaram sair por uma única pequena saída que levava até um ponto da floresta foram queimados. O sobrenatural nevoeiro já havia se dissipado, o mesmo que foi outro instrumento para me atrair, mas as chamas dançavam em todo lugar e engoliam homens e árvores a todo o canto que minha visão alcançava... E ela alcançava toda a floresta.
Consegui trazer e absorver alguns dos seres abomináveis que através de mim, haviam alcançado este plano... Ele estava furioso comigo. Me esmagava de dentro para fora... Uma coisa inimaginável.
Mas não me matava, apenas me causava dor, pois por hora, ainda precisava de mim.
Eu já havia sentido muita dor no caminho até ali, e sem querer ser prepotente... Aquela que sentia no momento estava sendo só um refresco.
Muitas coisas que foram soltas eu não consegui capturar, e elas saíram do meu campo de visão, rumo ao mundo que estava diante delas. Mas eu estava orgulhoso de mim. Consegui capturar e mandar de volta muitas delas.
Mas ele... Zamahak...
Ele estava começando a querer se manifestar plenamente.
Em breve, meu corpo seria unicamente seu e minha essência seria eliminada. Eu tinha de agir rápido.
Peguei Willburn pelo pescoço e o levantei até estarmos cara a cara.
– Isso acaba aqui.
Eu consegui estraçalhar a gaiola ao meio e mantive algumas barras de ferro retorcidas abertas. Com um movimento de minha mão negra, uma disparou em nossa direção e arrancou o fundador insano do parque de meus dedos.
Agora Willburn Elderwood era um verdadeiro retrato pintado em sangue na parede da caverna acima do altar, atravessado ao meio pela estaca de ferro.
Mônica e Tom apenas rezavam em voz baixa por Zamahak, e eu o sentia se retorcer dentro de mim. Como se eu fosse uma pequena fresta por onde algo imenso tentasse passar.
A dor de estar sendo aberto invisivelmente era devastadora, mas não parei.
Cada pequena linha de ferro que constituía aquela gaiola serviu para matar cada um dos fiéis presentes.
Um enorme grito e eu me virei, vendo Mônica se retorcer de dor enquanto Tom tentava ajudá-la. Sangue saia de dentro do seu manto, por entre as suas pernas.Eu pude ouvir um suspiro distante e gutural. Um alívio.
Eu sabia o que era aquilo, e a minha parcela de culpa.
Ele sabia que eu não serviria mais, eu era temporário. Uma roupa emprestada, e eu servi bem durante esse tempo.
Pensei que minhas ações eram apenas minha vontade falando mais alto enquanto eu destruía com os poderes que ele me concedeu... Mas eu fui cego... Foi ele quem fez tudo aquilo. Eu fui um idiota, um bosta, um desgraçado... Um infeliz...Ele abriu minha boca até onde minha mandíbula podia ir, e eu pude ver aquela energia negra saindo de mim.
Ele passou por sobre Mônica aos gritos e uma estrela de 15 pontas em cortes foi feita em sua testa. Ela gritava, ria, chorava. Eu já não entendia mais nada.
Eu caí... Não aguentei por mais tempo.
Só lembrei do fogo, dos mortos. Os que conheci e que não conheci.Quando acordei, tudo estava escuro. Algumas velas ainda queimavam quase no fim, mas eram poucas para clarear todo o lugar. Pegando uma e andando um pouco, pude notar que a caverna havia desmoronado, fechando a única saída. Corpos que eu... Que ele empalou, estavam ainda no mesmo lugar, mas não havia sinal de Mônica ou de Thomas.
O velho e perspicaz Sr. Elderwood, o homem que a décadas atrás já planejava tudo o que a poucas horas havia acontecido, que se esforçara tanto para viver além de seu tempo e presenciar tudo, continuava cravado na parede. Seu corpo pendurado e pálido, com todo o sangue que já o percorreu seco no chão abaixo dele.É nos rodapés do livro dele que escrevo esses trechos do que vivi.
Este livro foi visto por mim em coisas que Zamahak me mostrou.
Esse livro passou por muitas coisas, lugares e pessoas. Espero que chegue até as pessoas certas.
Seu conteúdo possui linguagens que eu não conheço, embora eu saiba o que dizem...
Existem coisas que nós desconhecemos, existem seres que são tão antigos quanto o nosso mundo, e que do mesmo jeito que um dia o deixaram, planejam seu retorno até ele.
Eu espero que ninguém tente traduzir nada e a única coisa legível para alguém comum neste livro, é este relato feito a mão por mim, Jonas.
Eu acredito em muita coisa hoje.
Mas não acredito que eu possa ser salvo.
Morrerei sem comida. Morrerei sem água. Morrerei sem perdão, como deve ser. Espero que essa caverna abandonada e lacrada seja minha cripta e que esse livro não precise nunca mais ser lido.
Que pereça até o pó com meu corpo, por toda a eternidade.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Raízes Despertas
HorrorUm grupo de amigos em busca de diversão e tranquilidade em um parque ambiental. Talvez a calmaria desperte interesses incomuns entre o grupo ou desperte coisas mais frodundas quanto as raízes no solo.