A Busca

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Assim que todos estavam de pé e a par do que estava acontecendo, revelei meu plano, ou pelo menos um fragmento dele, aos demais.
– Eu e Susan vamos seguir a trilha do outro lado do lago. Acredito que esse nevoeiro não vai durar por muito tempo, então já queremos testar um pouco de terreno pra continuarmos mais rápido depois que ele se dissipar. Mas caso isso não aconteça, vamos precisar de uma lanterna com potencial de milha, mais potente, e acredito que Tom tenha algo assim.
– Já entendi – disse Troy com seu sorriso zombeteiro– Além de querer bancar o "capitão da tropa" você quer que alguém volte pra pegar essa lanterna né?
– Só se alguém se oferecer, se não eu ou a Susan vamos ter que fazer isso.
Alan não tirava os olhos de mim, carrancudo. Estava com os olhos um pouco inchados, o que indicava que não havia dormido muito bem a noite.
– É um bom plano capitão... – Disse Troy ascendendo um cigarro na boca– Mas eu e a Ann não estamos afim de brincar de escoteiros por aí, ou de fazer o que você manda.
As palavras incisivas não me surpreenderam. Troy nunca foi flor que se cheire. Era o delinquente do colégio. Também não era um rapaz que você pudesse chamar de feio. Tinha cabelos até os ombros, loiro escuro, uma barba aparada e um sorriso que deixava as meninas suspirando. Ao contrário do Alan, que chamava a atenção por ser bom nos esportes e educado com as garotas, Troy era o outro lado da moeda. Um encrenqueiro. O Bad Boy que os caras odeiam querer ser, e que as meninas odeiam se apaixonar.
– Eu disse sobre voluntários, Troy. Não precisa ser você.
– Eu vou – Falou Alan dando um passo a frente e ainda me encarando. Sua voz era séria. Não falava com um amigo, falava com um desconhecido.
Surpreso, concordei. Entreguei a ele o cantil maior que já estava vazio.
– Se puder, pegue mais água também. É bom manter a...
Ele simplesmente saiu andando com o cantil na mão rumo a casa do Tom, me deixando falar sozinho. Troy começou a rir.
– Algo não está bem entre vocês dois– Deu um soco um pouco forte pra ser amigável no meu ombro – Relaxa, ele volta princesa, com a sua lanterna.
Com as mochilas nas costas, fomos seguindo caminho, eu e Susan na frente, Troy e Anna atrás. Contornamos o lago com facilidade. Ele não era tão grande, só fundo, como Troy disse.
Assim que pudemos, chegamos na entrada da próxima trilha e sentamos um pouco para esperar. Só depois de duas horas, avistei Alan saindo do meio do nevoeiro para mais perto de nós. Jogou o cantil cheio para Susan e a enorme lanterna para mim.
– Vamos logo com isso.
Já disse tomando a dianteira. Susan me olhou preocupada. Ela estava tensa pelo comportamento do meu amigo, e havia me dito isso no contorno do lago. Eu sabia que ele estava chateado comigo, mas ele não sabia do que havia acontecido entre eu e ela, então não havia motivo para tanta preocupação. Era um segredo que eu manteria pelo menos até irmos em bora.
Seguimos a trilha, comigo usando a lanterna, que era um alívio para nossos olhos na névoa tensa.
– Você avisou o Tom sobre nossa exploração Alan?– Perguntou Susan intimidada. O comportamento dele definitivamente não era normal. Ele andava a frente da coluna, parecia desligado de nós ao redor, e nem os comentários sarcásticos do Troy pareciam incomodá-lo.
Susan apertou o passo e se juntou a mim rapidamente. Nossa conversa era sempre em tom baixo.
– Estou ficando assustada. Ele não olhou pra nenhum lado nenhuma vez, já faz quase duas horas que estamos andando.
– Ele gosta de você e está sendo rejeitado. Só veio nesse passeio pra tentar algo com você. Sério, você queria que ele se comportasse como?
– Jon, isso não é normal! Ele nem responde quando falamos com ele.
– Eu vou falar com ele, fique com o Troy e a Anna.
Ela diminuiu o passo para se juntar aos dois enquanto eu acelerei, com meu coração copiando essa ação. Agora chegando mais perto de suas costas, parecia realmente estranho até a maneira como ele andava. Parecia um pouco curvado, e pude perceber que sua respiração estava mais pesada.
– Alan?
Não ouve resposta. Continuamos andando.
– Alan, tudo bem?
Ele de repente parou, os outros estavam bem mais atrás de nós. Ele virou a cabeça devagar para a direita e me olhou pelo canto dos olhos. E o brilho da lanterna me mostrou um olhar que não era dele... Não era do Alan. Seus olhos estava vermelhos, a iris vermelha e brilhante ao refletir a luz da lanterna, como dois rubis.
– Alan! – Gritei no momento em que ele partiu para cima de mim.
Caímos no chão e minha lanterna voou longe. Ele rapidamente pode me imobilizar, era muito forte. Em cima de mim, focando aqueles olhos de sangue nos meus... Pude sentir aquelas mãos frias pressionando minha garganta... E tudo girando.
Quando achei que iria apagar, senti o peso sair de cima de mim. Logo levantei a cabeça e pude ver Troy segurando um Alan irado no chão.
– Que merda... Você usou?! – Dizia Troy entre os dentes.
Alan rosnava de fúria. Com um chute , conseguiu se libertar e correu mata adentro.
– Segura ele mor!– Gritou Anna.
– Não!– Gritei. Na mesma hora ela e Susan me ajudaram a levantar– Aconteça o que acontecer, fiquem na trilha!

Raízes DespertasOnde histórias criam vida. Descubra agora