Sofy
— No que pensas minha jovem? — Bráulio pergunta ao se aproximar de Sofy.
— As festividades estão chegando e eu ainda não sei o que fazer. — Começou a andar pelo quarto, pensativa ia de um lado para o outro.
— Mas porque isso agora? Você nunca se preocupou antes, o que te faz se preocupar agora? — Perguntou um tanto curioso.
— Eu não sei, mas no fundo sinto obrigação em me redimir com todas as pessoas, isso é normal? — Olhou para Bráulio. — Será que tudo isso é influência do jardineiro? — Pôs-se a pensar.
— Acho que não, as pessoas não se influenciam, mas acho que isto é realmente coisa do seu coração...
— Não acredito em coisas do coração, as vezes ele mais machuca do que ajuda, talvez o meu não consiga mais nem me ajudar. — Riu sem graça.
— Mas deixando isto de lado, conte-me, o que pensa em fazer nas festividades da cidade?
— Eu ainda não sei, mas acho que posso ajudar as pessoas, uma ajuda será essencial e eu me sinto tão sufocada sem poder ajudar.
— Acho que alguém está mudando. — Sorriu.
— Não seja idiota, pode ser que sim, mas pode ser que não...
— Bom, o que acha de começar ajudando as pessoas do orfanato e do asilo? — Bráulio sugeriu.
— Isso é uma ótima ideia, vamos começar isto hoje, agora, pois as festividades começam em dois dias. — Parecia estar alegre. — Veja esta roupa, está boa? — Rodopiou.
— Sim, mas pensa em ir agora? — Perguntou surpreso.
— Claro que sim, porque não?
— Não sei, talvez o medo da represália das pessoas.
— Mas eu estou com minha consciência tranquila. — Foi até a sua penteadeira e pegou sua bolsa, olhou-a e viu que tudo estava lá. — Acho que uma ajuda em dinheiro não fará mal a ninguém, mas antes, passaremos no mercado, eu acho que eles precisam destas coisas básicas.
— Eu estou tão orgulhoso dessa atitude, mesmo que você ainda esteja em conflito consigo mesma, agora poderá ajudar aqueles que sempre precisaram de ajuda.
— Não comece com isto, eu posso mudar de ideia. — Riu. — Mas eu tenho medo de não aceitarem, isso é diferente para mim.
— Onde vamos?
— Vamos passar no mercado, precisamos comprar comidas e produtos de limpeza e higiene.
...
Sofy entrou no mercado acompanhada de Bráulio, alguns clientes se retiraram, pois, sua presença era um tanto odiada e conflituosa. Outras pessoas se entreolhavam e se perguntavam o que aquela mulher fazia ali. Nunca a viram em um mercado fazendo compras, tudo era estranho para Sofy e para todas as outras pessoas.
— Eu vou por um lado e você vai por outro, compraremos o máximo de coisa que forem precisas. — Sofy pegou um carrinho e saiu por um lado.
Os dois se dividiram, enquanto ela pegava todas as coisas de comida, ele pegava os produtos de limpeza e higiene pessoal. Assim que terminam tudo foram para o caixa, certamente aquela mine compra seria um tanto cara demais.
— Vocês poderiam mandar entregar isto no orfanato? — Perguntou a moça que estava no caixa.
— S... sim... — Disse nervosa com a sua presença.
— Porque o nervosismo? — Riu olhando-a.
— É...
— Eu sei, é estranho me ver fazendo compras. — Riu. Talvez seja a primeira vez ao qual Sofy estava conversando com alguém que nunca conhecia. — Bom, então mande isto para o orfanato. — Disse e voltou para o seu posto junto ao Bráulio.
— Vamos fazer tudo de novo. — Disse e foi pegar as mesmas coisas as quais havia pego da última vez.
[...]
— Agora vamos para o orfanato. — Sofy disse dentro do carro.
— Acho que eles vão ficar felizes com todas as coisas as quais comprou. — Bráulio sorria. — Mas ao mesmo tempo eles vão ficar assustados.
— Sim, mas eu espero que eles fiquem felizes e não com medo de mim. — Suspirou.
...
Quando Sofy entrou no orfanato, todos de lá ficaram assustados, sua presença era de uma certa maneira, impactante, todos ali tinham medo dela, não pelo que ela ''faz'', mas pelo que ela poderia fazer quanto as ajudas.
— Eu sei que minha presença é assustadora, eu nunca saio de casa, mas hoje, quase véspera das festividades, eu quis mudar um pouco, pela primeira vez em tanto tempo eu quis fazer algo diferente... — Fez uma pausa. — Eu trouxe toda essa comida para vocês, eu sei que esperar a ajuda da população é cansativo e as vezes nunca temos aquele retorno planejado e almejado, mas aqui está, é como um singelo presente para que as crianças não precisem passar fome. — Sorriu.
— Muito obrigada... — Uma das irmãs que cuidam do orfanato agradeceu de uma forma ofegante e repetitiva. — Nós estávamos precisando disto, esse ano tem foi muito difícil para nós. — Sorriu abafado. — Muito obrigada mesmo, não há como poder agradecer a você. — Sorriu mais uma vez.
Aquilo deixou Sofy contente, talvez algo que ela nunca tenha sentido antes. Por dentro estava feliz, feliz por ter feito isso.
— Antes de ir, tome isto. — Retirou uma quantia simbólica de sua bolsa e lhe entregou. — Isto é para comprar alguma coisa para as crianças, creio que dará para todos eles, bom, se quiserem comprar roupas para eles, fiquem à vontade, mas tem que me prometer, eles ficarão felizes... — Surgiu um pequeno sorriso.
Despediu-se e logo partiram rumo ao asilo, estava contente com tudo aquilo.
— Eu estou feliz. — Sofy disse ao entrarem no carro. — Acho que pela primeira vez na minha vida, eu estou feliz por proporcionar a felicidade nas pessoas.
— Isso me deixa orgulhoso, você está voltando a ser aquela menina de antes, aquela garota amorosa que sempre foi.
— Acho que não, não sei ao certo, mas talvez aquela menina de antes nunca mais vai existir, alguma coisa me diz que não serei mais como antes...
— Pode ser que sim, pode ser que não, nunca saberemos o que realmente pode acontecer. — Bráulio estava pensativo quanto a isso.
— Você descobriu se o Arthur virá para a cidade?
— Sim, ele virá para as festividades, consegui saber.
— Espero que nunca mais eu veja ele. — Revirou os olhos. — Espero que ele esteja feliz, acho que deve ter se casado somente pelo dinheiro, conheço esse tipinho. — Riu abafado.
— Eu tenho quase certeza. — Bráulio disse.
Olhando a cidade pela janela do carro, eles foram seguindo até o asilo. Sofy ficou mais feliz ajudando as pessoas, do que estragando a felicidade delas, provavelmente agora ela deve saber o preço de uma felicidade, ajudar os outros pode ser gratificante.
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Quase Fera
Short StoryTalvez uma história que nunca foi contada, talvez algo lhe faça lembrar o que realmente se passa. Uma jovem garota, amargurada pelos traumas de seu passado. Tristezas e choros fizeram com que a jovem Sofy vivesse amargurada desde a sua adolescência...