Capitulo Quinze

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Serena

Após o jantar, resolvi ir até o quarto de Patrick me certificar de que ele dormiria bem.
Ao bater na porta e escutar um suave " entre", o vi sentado na varanda, fitando aquele imenso céu, com o porta retrato dele com aquela senhora.
- Posso? - perguntei puxando uma cadeira de balanço ao seu lado.
- Claro. - ele respondeu e se calou.
- O senhor está bem? - perguntei.
- Com saudades. - me olhou com os olhos marejados de lágrimas.
- Eu sinto muito. Vou embora pra você ficar mais à vontade. - falei me levantando.
- Fique, por favor! - pediu apontando pra cadeira, novamente me sentei. - Você é uma boa companhia. - ameaçou um sorriso.
- Ah não, eu sou muito falante! - brinquei.
- Talvez, um pouquinho. Acho que é por isso que gosto de você. - ele deu uma piscadela e novamente voltou a fitar o céu.
- Aonde será que ela está? - ele pergunta ainda olhando para cima.
- Posso dar um palpite? - perguntei.
- Pode.
- Ao lado de Deus, assim como estou ao seu lado. Cochichando com ele, o que fazer conosco. Olhando por você, principalmente. - falei tocando sua mão, vi suas lágrimas rolarem pelo seu rosto e logo as minhas também começaram a cair.
A mesma dor que ele sentia ao perder sua amada, eu sentia ao perder minha filha.
- Eu a amava tanto Serena. - ele me olha rapidamente. - O nosso amor, era tão bonito! Tão forte, tão especial, tão maravilhoso. Eu tinha orgulho da mulher que estava ao meu lado. Orgulho da mãe, amante, mulher que estava ao meu lado. - ele respira fundo. - Eu achava que partiria primeiro que ela, eu tinha essa convicção na verdade. Mas quando a vi, me dizendo o último eu te amo na cama daquele hospital, eu vi, que quem iria primeiro era ela, não eu.
Ele parecia se lembrar perfeitamente do dia que a mesma faleceu.
- Eu não sei o que dizer... - fiquei atônita.
- Você já amou Serena?
Aquela pergunta me acertou em cheio, me fez voltar no tempo, remexer no passado que antes eu sentia estar tão guardado.
- Amei. - respondi o olhando e secando uma lágrima. - Amei com tudo que pude! Com meu coração, alma, corpo e tudo que você puder imaginar.
- E porque não deu certo?
- Porque ele era babaca demais para estar comigo. Eu me apaixonei primeiro, ele dizia me amar mas não me assumia pra ninguém. Me amava mas sumia aos fins de semana e muitas vezes na semana. Me amava mas não era homem o suficiente de se apresentar formalmente aos meus pais, sabe? Eu era uma menina e tudo o que ele queria comigo, era sexo.
- E após o término, como você ficou?
- Eu? Perdi uma parte de mim e ganhei outra, Patrick. Eu tinha dezesseis anos e ele me engravidou.
- Você tem uma filho?
Derramei algumas lágrimas, não me importava de chorar na sua frente, até porque ele estava chorando na minha.
- Era tão gostoso Patrick, estar grávida, apesar de sofrer muito por ter perdido o pai. Por ter cometido muitos erros e um deles é ter ficado com ele, eu estava imensamente feliz e meu filho, assim que chegasse ao mundo, seria o ser mais amado do mundo, independente de como o pai era.
- E aí...
- E aí, certo dia a mãe dele apareceu em minha casa. - meu peito aperta com a lembrança. - E nós brigamos! Ela me ofereceu dinheiro para que eu abortasse, naquela época eu já sabia que seria mãe de uma linda menina, minha Cecília. - respirei fundo. - E na nossa discussão, ela me ofendeu, e eu dei na cara dela. Depois, ela me empurrou e eu caí com força no chão, de costas.
- Ah... - ele diz.
- E quando acordei naquela cama de hospital, eu senti a pior dor mundo! O médico chegou em mim e disse que infelizmente a minha filha não havia resistido. A dor, foi tão grande quanto perder o amor do pai dela que eu achava que existia. Logo, eu tive que permitir que eles a tirassem de dentro de mim e eu sequer pude ver o seu rosto, ouvir o seu choro, ficar acordada a madrugada toda amamentando-a. É uma dor Patrick que nunca, nem em um milhão de anos, será capaz de passar. Não há remédios para curar a dor de perder um filho. Não é outro neném que fará com o que o nosso primeiro seja esquecido, sabe? Portanto, eu entendo a dor que você está sentindo pois eu também a sinto. A diferença é que você viveu uma vida ao lado da mulher da sua vida e eu? Não vivi nem dez minutos da minha vida ao lado da minha filha.

Paixão SublinhadaOnde histórias criam vida. Descubra agora