Capítulo Vinte e Sete

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Serena

Os dias após minha '' conquista'' passaram rápido até demais e hoje infelizmente já era dia de todos nós voltarmos para a casa de Patrick e quem sabe, eu pra minha.

Pensar em ter que deixá-los me causava uma angustia muito grande, por isso, resolvi dormir a viagem toda na tentativa de ter ótimos sonhos e não me recordar do que eu estava prestes a viver, a fazer.

Eu prejudicaria uma vida pela minha carreira.

Eu destruiria a imagem de uma família para tentar me sair bem.

Eu sou uma merda.

Ao chegarmos em casa, quem me acordou foi Gael com um leve cutucão.

- Já pode acordar bela adormecida.

Resmunguei.

- Serena. - beijou minha cabeça.

Rapidamente, mirei um soco em seu rosto.

- Caralho! - ele grita nervoso.

- Uau, desculpa! - falei ao notar que todos ali em volta me olhavam. - Eu me assustei. - falei.

- Anda logo! - disse pegando suas coisas e saindo dali o mais rápido que podia.

Peguei minhas coisas ainda meio grogue pelos acontecimentos recentes e subi direto pro meu quarto, onde joguei tudo em cima da estante e voltei a dormir porque não era obrigada à nada.

Ao acordar, Angélica estava praticamente pulando em cima de mim.
- Hora de comer, hora de comer! - ela gritava animada.
- Calma, eu ainda estou acordando. - murmurei.
- Papai fez um macarrão divino. - seus olhos brilham.
- Estou descendo! - pulei da cama, duas coisas que não eram muito comum naquela casa: Patricio por um acaso acertar na escolha do macarrão por que eu realmente amava de paixão, e, Patricio estar em casa.
Ela saiu pulando do meu quarto e eu decidi tomar um banho para tentar tirar a inhaca do corpo.

Vinte minutos depois cá estava eu, em uma roupa totalmente confortável, limpa e pronta para uma próxima viagem: A de volta. Como faria isso? Não tinha noção alguma.
- Boa noite à todos. - falei ao chegar na mesa e ver que todos estavam se servindo.
- Boa noite linda! - Fernanda disse.
- Boa noite. - Jennifer respondeu mal humorada.
- Conseguiu descansar? - Patrick perguntou curioso.
- Até demais. - sorri sem graça. - E Gael, desculpe pelo soco.
- Ok. - respondeu o mesmo friamente, quem era eu para pedir desculpas à ele? Se fossemos para colocar na ponta do lápis os erros do passado, ele quem deveria me pedir desculpas, se pá até de joelho.
Me arrependi profundamente por ter vencido o maldito orgulho, Gael era um ser idiota ao extremo para aceitar um pedido simples de desculpa.
Me servi, comi em silêncio até Angélica dizer:
- Tia, posso jogar no seu computador?
- Porque no meu? - ousei perguntar.
- Porque o do meu pai está cheio de '' aquivos/arquivos''. - falou com um biquinho lindo.
- Pode sim! Cuidado para não apagar minhas coisas, ok? - falei confiante, sabia que ela não mexeria em nada que não fosse apenas o jogo.
Ela pediu licença com toda educação do mundo à todos da mesa e subiu correndo para o meu quarto. Enquanto tomávamos nossos respectivos sucos, falávamos da nossa viagem e do quão incrível ela foi. Gael não perdeu a chance de dizer que os últimos dias, em principal o da festa, havia sido demais. Era claro que ele iria me alfinetar. Jennifer que não pareceu entender muito o que ele queria dizer, mas, mesmo assim sorriu.
Fernanda disse que o melhor da viagem foi andar à cavalo e o beijo que ela deu no fulano do lado lá naquela festa.
Patrício não se pronunciou, sabia que não havia tirado proveito de nada da festa por causa do seu '' incrível'' trabalho.
Patrick disse que o melhor da viagem foi a festa e estar junto conosco.
E eu, disse que a melhor parte sem sombra de dúvidas foi de ter ido pescar com Patrick, uma experiência incrível na qual eu adoraria poder ter novamente.
Naquela mesa, parecíamos até a família mais feliz do planeta, mas toda aquela felicidade acabou, quando Angélica apareceu saltitante na cozinha, com meu computador e disse:
- Porque você tem uma foto do tio Richard aqui?
Senti o coração perder uma batida, puta que pariu! Era óbvio que Angélica, do jeito que era, iria mexer até na aba anônima cheia de pornôs.
Assim que ela disse, todos, sem exceção de ninguém, me olhou porque aquilo não era algo comum.
- Porque eu sou fã. - respondi a primeira coisa que veio na minha cabeça.
- O que está escrito embaixo? Uma carta pra ele? - ela pergunta, não sabia ler ainda.
- Deve ser. - sorrio forçado.
- Lê pra gente, vovô?
- NÃO! - praticamente gritei.
- Não? - Patrick pergunta pegando o computador das mãos da pequena diabinha.
- Não. - murmurei ao ver que ele já lia, porém, apenas pra ele.
Firmei meus olhos em suas fisionomias e pude ver que à cada linha que o mesmo lia,  lágrimas formavam-se em sua linha d'água. Meu coração acelerava cada vez mais, eu quase podia ouví-lo.
O mais díficil daquilo não era a reportagem em si, e sim, o meu nome embaixo dizendo o que eu era, pra quê vim, o porquê de ter feito aquela matéria e o nome do meu real emprego.
O vi entregar o computador à Angélica e levantar com certa dificuldade, naquela altura do campeonato, suas lágrimas já caiam livremente.
- Você está demitida! Traidora.
E saiu andando.
Eu sabia que merecia ouvir aquilo, mas não imaginei que pudesse doer tanto, ainda mais vindo de quem veio.
Eu havia o decepcionado e muito!
- O que aconteceu? - Patricio perguntou sem entender e tirou o computador das mãos de sua filha para que pudesse ler o que tanto havia deixado Patrick daquela forma.
- Eu preciso ir! - levantei e sai correndo o mais rápido que pude.
Eu sei que deveria ir para o meu quarto.
Eu sei que deveria arrumar minhas coisas para sair dali.
Mas eu preferi ir até o quarto de Patrick.
E talvez aquilo não tenha sido a melhor escolha a ser feita.

Ao entrar, o vi deitado com a mão no coração, por um momento pensei que o mesmo havia falecido por estar naquela posição tão ridícula.
- Me deixe explicar... - pedi.
- Vai embora daqui Serena! - ele falou secamente.
- Eu precisei fazer isso. - uma lágrima rolou dos meus olhos.
- O que você precisou fazer? - Gael perguntou entrando com tudo dentro do quarto dele. - Acabar com a vida e reputação de uma família, essa é a sua forma de vingança Serena, você é muito idiota! - ele começa a me ofender.
- Sai daqui Gael o papo não é contigo! - foi o que eu consegui dizer.
- Mas é sobre a MINHA FAMÍLIA! Sobre a nossa reputação, você não tem o senso do ridículo? Até o Patricio está querendo te bater agora, garota babaca!
- A única pessoa que eu tenho certeza que devo satisfação, é o Patrick, não você.
- Vai embora daqui. Eu não quero suas explicações, nunca vou saber qual é a verdadeira. Você é uma mentirosa! - Patrick diz com certa dificuldade.
- Patrick... - tentei me aproximar.
Até que no impulso, Gael me pegou pelos braços fortemente e me tirou de lá de dentro, me jogou no quarto ao lado em cima da cama para ser mais exata, em seguida, bateu a porta com toda força do mundo. Eu podia sentir os meus braços arderem pela força que ele usou nos mesmos.
- Agora fala! Eu quero que você fala, porque você fez isso, sua maldita! - ele diz. - Olha o estado que você deixou o meu avô. - ele começa a socar a parede para não me bater.
- Vai se foder Gael! Eu já disse que não é à você que eu devo satisfações do que eu faço ou deixo de fazer. - falei passando a mão pelos braços que ardiam.
- É vingança? Você quer se vingar de mim, não é Serena? Você é tão ridicula que precisou destruir a imagem da minha família para isso. Foi tão covarde que sequer conseguiu dar um jeito de ferir somente à mim. - ele esbanjava o seu ódio.
Levantei da cama e indo até ele, mirei-lhe uma bofetada.
- Cala a tua boca! - gritei. - Aqui, o único maldito e covarde é você, que me deixou naquele ano, grávida de um filho teu! Covarde foi você que preferiu sumir do mapa do que me assumir com aquela criança que era pra ser a pessoa mais amada de todo o universo hoje! Você é covarde, você é um maldito! Um maldito que me tirou TUDO, tudo que você pode imaginar. Minha intenção nunca fora destruir a tua família e tampouco você já que você nem fazia mais parte de nada, porque a única coisa que me ligava à você, sua mãe matou! Aliás, ela sim é uma maldita desgraçada. Dela eu gostaria de me vingar, mas vingar de acordo, causar à ela o mesmo mal que ela me causou quando foi na minha casa e MATOU a minha filha, a minha Cecília que estava dentro do meu ventre. Foi ela, foi você, aliás, vocês dois que me tiraram toda felicidade que a vida um dia me proporcionou. Vocês são baixos, covardes, malditos, imundos! Os seres mais desprezíveis desse universo, não a tua família. Eu fiz isso sim! Eu me passei como cuidadora para conseguir informações porque a única coisa que havia me sobrado nessa vida e que eu precisava lutar, era a minha carreira. Isso me ajudaria, isso me fortaleceria, isso me faria não uma pessoa melhor mas sim uma pessoa de sucesso. Porque agora, eu pouco me importo em receber amor, carinho, proteção seja lá de quem for. As únicas pessoas na qual um dia eu quis receber amor, eu não pude! Eu não pude ver minha filha, eu não pude amá-la como ela deveria ser amada, eu não pude trocar suas fraldas, ensinar o que era certo e o que era errado. - suspirei em lágrimas. - Eu não pude! Eu não pude dizer que a amava, levá-la em seu primeiro dia de aula, fazê-la a criança mais feliz do mundo mesmo que o desgraçado do pai dela não estivesse conosco, EU NÃO PUDE! - gritei. - Sua mãe me tirou esse direito, a maldita da tua mãe! Você me tirou isso, a culpa foi toda sua Gael. E você pode ter certeza de uma coisa. - procurei me acalmar. - Eu estou indo embora daqui sim! Estou partindo e deixando o coração de uma das pessoas mais especiais pra mim, o do Patrick, mas eu preciso pensar em mim primeiro porque quando VOCÊ ME MACHUCOU, quando SUA MÃE MATOU A MINHA FILHA ninguém pensou em mim. - gritei.
E ele se calou.
Calou-se porque não sabia do que eu guardava.
Calou-se porque pelo menos uma vez na vida, aquilo havia doído mais nele do que em mim.

Paixão SublinhadaOnde histórias criam vida. Descubra agora