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Sander Kravz me encara, do outro lado do poço, de baixo para cima, com linhas profundas gravadas na testa

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Sander Kravz me encara, do outro lado do poço, de baixo para cima, com linhas profundas gravadas na testa.

Não consigo discernir sua expressão.

Está sorrindo? Está entediado? É um desafio?

Uma ameaça?

Sander empurrou Tink?

Por que faria isso?

Tento coletar todos os pequenos encontros que tivemos, todas as suas frases e inclinações. O sorriso de zombaria que constantemente carrega como um troféu. Seu desapego com aparências e a opinião dos outros.

O que há com esse garoto? Ele não é só estranho. Ele é... sombrio.

Mas que tipo de monstro psicopata empurraria uma garotinha?

Por que Sander empurraria Tink?

Obcecado por mim?

Obcecado... pelo Raah?

Havia uma tensão palpável quando se cumprimentaram. Há um passado entre eles?

Tardiamente, desligam qualquer que seja o mecanismo que metamorfoseava o ambiente e tudo se transforma numa paisagem noturna comum de chão de terra batida pontuada por retalhos de gramado. É só nesse momento que Sander finalmente desvia o olhar do meu, coloca as mãos nos bolsos e se afasta, tranquilamente, os ombros relaxados, os passos molengas.

Contenho o instinto de segui-lo e confrontá-lo. Não apenas porque há pessoas aqui bem mais qualificadas para fazer isso do que eu, mas porque preciso primeiro perguntar para Tink o que aconteceu exatamente. E, dependendo de sua resposta, arrancar do Raah qualquer informação sobre os Kravz que estejam escondendo de mim.

E então... não sei o que vou fazer.

Dou uma volta e caminho às pressas para o Centro Hospitalar.

Mas, o Destino me ajude, se eu descobrir que Sander fez isso de propósito... Não sei.

Eu seria expulsa.

O que provavelmente significaria meu fim.

Não. Não creio que seria necessário chegar a esse ponto. Justiça seria feita, com minha ajuda ou sem. Afinal, Tibbutz jamais seria o lugar que é se não houvesse justiça.

* * *

As portas do Centro automaticamente deslizam com minha aproximação. Quando elas se fecham, os sons e aromas externos são completamente bloqueados. O ambiente azulado é de uma neutralidade esmagadora e insuportável. O corredor é longo e estreito e cada um dos meus passos ecoa à distância.

Só consigo seguir adiante, em vez de fugir e meter os pés descalços no gramado como gostaria, porque, logo de cara, me deparo pela primeira vez na vida, mesmo que de longe, com a mãe da Tink e do Raah. Ou, ao menos, só pode ser a mãe deles, porque, mesmo daqui, percebo que tem exatamente as mesmas bochechas e queixo da menina e os mesmos olhos e boca cerrada sisuda do rapaz. Está com os braços cruzados e conversa com uma mulher, ambas vestidas exatamente com as mesmas cores do resto do Centro. Aquele azul "não existo" que mais se assemelha ao cinza.

HUMANO [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora