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Meus ouvidos detectam a reverberação ampla e contínua de um gotejar, passos que ecoam a uma grande distância, um burburinho intermitente e impreciso

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Meus ouvidos detectam a reverberação ampla e contínua de um gotejar, passos que ecoam a uma grande distância, um burburinho intermitente e impreciso. Abro os olhos e o teto rochoso curvado, desnivelado, entrecortado por correntes de água, se estende por todo o meu campo de visão.

Claramente estou em uma caverna. Não!

Com um salto me coloco de pé, arfando. O cenário familiar não me é consolo algum. Quando eu era criança, uma caverna era um presente. Um abrigo para o sono, um esconderijo, um refúgio.

Mas agora é um pesadelo. Não acredito que estou aqui.

Depois de tudo, eles simplesmente me mandaram de volta para Arabah?

Por trás de mim, uma voz gutural e rouca me saúda:

— Bom dia, flor.

Eu me volto e vejo um velho, sentado numa rocha, ao lado de pilhas e pilhas de pratos descartáveis, feitos de folhagem de Figueiras-de-Bengala. Uma miríade que se amontoa ao redor dele. Ele tem um prato inacabado numa das mãos e uma agulha na outra. Um raio de luz escapa de uma fenda no alto e o ilumina, conferindo a toda a cena um ar sinistro.

Quando ele ergue o rosto para mim, uma imagem mental surge como um sonho antigo ou um deja vu.

— Você! — brado, alarmada, sondando e tentando descobrir mais sobre o ambiente e sobre essa criatura diante de mim. — Quem é você?

— Oh... — ele responde com um tom, simultaneamente, cansado e espirituoso. — Ninguém. Só mais um imperdoável. Como você. — Com as mãos ocupadas e com o rosto, acentua o você, ao apontar para mim.

— Não, não como ela — a voz de Sander vem de trás de mim pouco antes de sua figura surgir no meu campo de visão. Seu nariz está coberto por uma espécie de pasta negra. — Ninguém é imperdoável como ela.

Ainda não me acostumei com a amargura e a acidez na voz do menino que achava tudo divertido. Afunilo meus olhos e contenho o instinto de fazer uma careta ou estirar a língua ou algo do tipo.

— Bem. — O velho dá de ombros e desvia a atenção para mim. — Ao menos, acho que isso faz de você especial. — Ele sorri e, por algum motivo completamente irracional, sinto vontade de sorrir de volta.

Quer dizer, as circunstâncias são totalmente impróprias. E acabei literalmente de conhecer o homem há trinta segundos, mas há algo nele tão familiar e reconfortante. Algo que me transmite a sensação de chegar em casa. Por outro lado, quantas vezes mais vou confiar em alguém que acabei de conhecer para depois quebrar a cara?

— Ah, sim. Definitivamente especial — Sander completa, caminhando lentamente até o senhor e apoiando suas mãos sobre os ombros do homem. — Mas não de uma forma positiva.

— Dá para você se calar? — esbravejo, a risco de parecer rude diante do novo amigo em potencial.

— Oh, e sabe se defender. Mais um ponto para ela — o homem diz com olhos azuis sorridentes e ergue a agulha no ar, como se fosse a marcação do ponto.

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