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Mesmo que eu passasse um milhão de anos tentando, jamais conseguiria descrever a Festa da Singularidade à altura

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Mesmo que eu passasse um milhão de anos tentando, jamais conseguiria descrever a Festa da Singularidade à altura. Para a maior parte dos pontos altos, não há vocabulário no meu idioma para tanto. Tampouco conheço a partir da Natureza ou do meu repertório cultural parâmetros de comparação. Qualquer tentativa de aproximação seria extremamente precária.

Mas derrota é parar de tentar.

Eu e Tink passamos, solenemente, por baixo de uma cortina verde de Tarlmounia, onde se encontra a entrada para a celebração.

Depois disso, tudo se torna um breu.

Não sei dizer se minha visão pouco a pouco se acostuma com a escuridão ou se existe alguma espécie de iluminação artificial que gradualmente revela o cenário. Só sei dizer que lentamente começo a distinguir o panorama. O chão em que piso em nada se diferencia do horizonte distante escuro, salpicado de estrelas. É feito do mesmo negrume sem fim do firmamento, com constelações e galáxias espalhadas em diferentes profundidades e variadas intensidades de brilho. Por um segundo, cogito que se trate de um espelho, refletindo o céu acima, mas nós mesmas não temos reflexo. A impressão é de que estamos flutuando, mas o piso em si é sólido e firme.

Então, do ar brotam pequenas faíscas dançantes ao nosso redor. À primeira vista penso que são vagalumes ou algo do gênero. Mas então as chamas desaparecem totalmente como se nunca estivessem estado ali. Quando surgem novamente e rodopiam ao nosso redor, tento encostar numa delas e minha mão a atravessa como se nunca tivesse existido.

Do véu de escuridão do horizonte surgem figuras, assim do nada, como se atravessassem portais ou cortinas de veludo negras; suas silhuetas se transformam em imagens humanas, coloridas, como uma transição acelerada da lua minguante à lua cheia. Cada ser tão iluminado quanto à exposição da luz do dia, o que é incrível considerando o contraste do ambiente escuro ao nosso redor. E, assim, o salão ao ar livre está repentinamente repleto de personagens ilustres e policromáticas.

Entre as figuras, reconheço algumas pessoas, entre elas, minha doutrinadora.

É aí que me dou conta de algo e tento controlar um impulso gigantesco de rir e chorar ao mesmo tempo.

— Tink... — Puxo a menina, que parece tão deslumbrada quanto eu, pela ponta de uma pena sintética. — Me fala uma coisa... por que estão todos vestidos de pavão?

Ela olha para as criaturas flutuando ao nosso redor e os analisa de cima a baixo, sem disfarçar.

— É mesmo. — Ela eleva uma mão ao queixo. — Não tinha reparado.

— Como você não tinha reparado? — Tapo os olhos com uma mão, rindo de nervoso. — Estamos todos vestidos de... pavão!

— É o que eu falei para você! — Ela se defende, abrindo os braços de forma a apontar para tudo em torno como demonstração do que está dizendo. — Todo mundo realmente singularestá usando! É o que está acontecendo.

HUMANO [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora