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As portas do apartamento de Raah deslizam com a nossa aproximação. O sol está nascendo e já perdi a conta de há quantos dias não durmo. Acho que a última vez foi antes da Festa da Singularidade.

Agora, depois de tudo o que aconteceu, estou tão exausta que sinto que não me importaria de fechar os olhos e nunca mais acordar. Existe um limite para os nossos corpos. Após esse limite, toda a existência parece perder o significado.

Será que após o limite, eu deixaria de ser considerada humana?

Afasto o pensamento e sigo Raah, conforme ele adentra o pórtico anterior. Numa coluna, ele aciona algum mecanismo e um jato de água começa a jorrar a partir de uma miríade de micro-orifícios no teto, como uma espécie de cachoeira. Estico uma mão e permito que meus dedos desfrutem da deliciosa temperatura e pressão do jato d'água, tão convidativos.

— Você pode se banhar. — Eu o vejo por trás da cortina de água saltar alguns degraus e caminhar apressadamente na direção de um corredor. — Eu vou preparar, enquanto isso, o seu quarto — anuncia.

— Espera, o meu o quê? — pergunto, atônita, enquanto recolho meu braço e dou uma volta ao redor do estranho chuveiro para enxergá-lo melhor.

Raah, imediatamente, dá meia-volta e retorna, com passos lentos, exibindo um meio-sorriso culpado.

— Você não achou que ia voltar para os Kravz, depois de tudo, achou?

— Mas... aqui? — pergunto, ainda estupefata. Não só fui liberta da prisão, irei morar com... Raah? — O que sua mãe acha disso?

— Foi ideia dela. — Ele sorri amplamente e cruza os braços. — Ela acha que você será uma boa influência para mim.

— Você quer dizer que ela acha que vai ser mais fácil vocês me manterem sob controle se eu morar aqui — concluo e reviro os olhos.

— É uma forma de interpretar os fatos — Raah diz e pisca com um olho, antes de girar para ir embora novamente. — Aproveite bem o banho.

Não consigo evitar esboçar um leve sorriso, embora não seja a melhor sensação saber que você será espionada o tempo todo. Estarei segura, ao menos. Com alguém que conheço. Alguém que amo.

Alguém que amo. Repito isso compulsivamente em meu cérebro, tentando me relembrar desse fato. Eu o amo. Eu estou em casa.

Entro na água, com meus trajes imundos, e me deixo purificar, renovar, para essa nova vida que me aguarda. O mero toque da água nos meus músculos enrijecidos dói como se eu estivesse coberta de hematomas. Quero relaxar, mas quando fecho os olhos, revivo a cena em que Sander é depositado com força de joelhos no chão.

Com um susto, abro os olhos e encaro a sala vazia, me relembrando que estou na casa de Raah. Vim para cá com um objetivo e isso é motivo suficiente para que eu não fique olhando para trás com arrependimentos.

HUMANO [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora