#13- Ligações de Sangue

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No céu havia poucas nuvens, porém um vento forte soprava do norte, como se fosse o prenúncio de uma tempestade. As ruas da área central estavam quase vazias, enquanto os restaurantes serviam o almoço. Nunca tive qualquer interesse em comer naqueles lugares lotados de pessoas fúteis, que tratavam de assuntos supérfluos, enquanto se empaturravam de comida gordurosa, e de procedência muito duvidosa, mesmo que em alguns momentos eu frequentava esses lugares, para agradar minha noiva. Neste começo de tarde, eu saí da transportadora, para o meu merecido almoço, com planos de ir até minha casa, onde a cozinheira estaria com meu almoço pronto. Estava quase no meu carro quando a vi próxima a praça central, o vento brincava com seus cabelos, enquanto ela tentava de todas as formas mantê-los no lugar. O vermelho vivo de cada cacho, de cabelo, em contraste com sua pele alva, e suas sardas pequenas, dava a ela um ar de ingenuidade, e inocência. Por alguns minutos fiquei a observando lutar contra o efeito do vento, sem qualquer sucesso, e então correu na direção que eu estava, os cabelos saindo sobre os seus olhos. Quando vi que se aproximava demais, tentei sair de sua trajetória, mas de alguma forma, ela me vi, e também tentou evitar a colisão, porém acabamos indo para o mesmo lado, e seu frágil corpo se chocou com o meu, fazendo com que ela fosse de encontro ao chão de pedra. Vendo ela no chão, estendi minha mão para ajudá-la a se levantar, ela aceitou o gesto de gentileza. Olhei rapidamente para o seu corpo, e não havia sinal de machucado, ou sangue, então dei um sorriso leve, mas não tive a mesma resposta, quando ela retirou os cabelos da frente dos olhos, pude ver lágrimas secas em seu rosto, e outras que se formavam nos olhos.

-Você está bem? Se machucou? - Perguntei ainda muito próximo a ela.

-Sim, eu estou bem - Sua voz era suave, apesar de chorosa - Só bati forte demais no chão.

-Parece que você já estava chorando antes de cair.

-Apenas uma notícia ruim, mas logo passa.

-Acho que tudo pode ser resolvido não é - tentei parecer positivo - Precisa de ajuda para chegar em casa?

- Não precisa, estou passando alguns dias na casa de meus tios, fica logo ali - Ela disse indicando a casa azul no outro lado da rua.

- Então somos parentes, ou algo assim - Mirei seus olhos, que agora percebi serem de um verde acinzentado.- Prazer, sou Florêncio Linderberg.

- Somos algo assim, apesar de eu não ser Vallar, sou da outra parte da família. Prazer, Olga Borba

- E porque uma das princesinhas da cidade estava chorando na praça?

- Pelo jeito você não herdou a sutileza de seu pai, ele se dava bem com nossa família. Por causa da influência do Vallar.

- Meu pai fez muita coisa que nenhum Linderberg fez antes, algumas boas, outras nem tanto...

- Você quer dizer que ele errou em fazer as pazes com nossa família? Ou só está sendo irônico?

- Quero dizer que ainda não sei porque você chorava.

-Uma garota não tem o direito de derramar algumas lágrimas?

-Sim, mas supostamente você deveria ser feliz, e muito animada, sua família tem a cidade nas mãos, praticamente tudo aqui é de vocês.

- Eu já disse que recebi uma notícia triste - Ela mudou o tom voz - E não é verdade, algumas coisas são da Família Vallar, e suas.

- Você tem o que? dezesseis anos? Deve saber que a Família Vallar, é só uma ramificação da Borba Alencar.

- De fato, mas sendo assim o Linderberg que não concorda com a aproximação com a escória Borba Alencar, acabou se apaixonando, e casando com uma.

Histórias do Chalé - Relatos de Um Sádico [Completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora