# 16- Retaliação

113 28 112
                                    


Todos estão sempre prontos para louvar o lado bom de deixar cativar por outra pessoa, mas o ninguém diz que ao se deixar cativar, você está dando ao outro o enorme poder de te destruir. A partir do momento que seu coração se abre, ele está vulnerável, e não dependem mais de você as variáveis para sua felicidade.

No momento em que deixei Frida entrar em meu coração, eu sabia que uma rachadura tinha sido feita em minha armadura, e não haveria qualquer reparo para essa fissura. Mas também estava ciente de que ela não faria nada para me magoar, eu estava certo disso, para mim estava claro em seus olhos que eu seria precioso para ela, assim como ela era para mim.

Diante de  uma multidão de pessoas, que esperavam que eu falasse belas palavras sobre a mulher que aprendi a amar a cada. Todos aqueles olhos atentos, ouvidos sedentos por palavras que os fizesse compreender algo sobre minha esposa. Eles queriam uma parte dela, que eu preferia guardar para mim, cada lembrança, cada instante que ela se fez minha alegria. Porque eu tinha que expor agora para ele? Naquela manhã, minha recém chegada mãe, havia me dito que isso seria a melhor homenagem que eu faria a Frida, mas eu me recordava bem que ele havia ficado calada no funeral de papai. Porque eu tinha que ser diferente? Porque eu tinha que me postar diante daquelas pessoas, e dar em palavras o melhor daquela que tinha sido de múltiplas formas, apenas minha. O discurso que eu havia rascunhado, agora me parecia idiota, incompleto, pois palavras alguma poderia ser escolhida para descrever tudo que ela significava para mim. Decidi deixar ele de lado, e falar sem planejamento:

Eu não queria estar nessa posição - Comecei dizendo - acho mesmo que ninguém gostaria, mas o fato é que estou, e isso infelizmente não pode ser mudado. Frida foi desde que tenho lembranças, a minha amiga mais fiel, compreensiva, e amável, e foi assim mesmo nos momentos que eu menos merecia isso. Mais tarde quando a pedi em casamento, eu tremia como uma criança, como medo de ser rejeitada, mas ela me aceitou, não porque eu merecesse seu amor, mas porque ela me amava além do meu merecimento.

Eu poderia listar aqui todas as boas qualidades de minha esposa, e tentar fazer com que todos aqui conhecessem mais dela, mas a verdade é que se alguém não pode experimentar a gentileza, dedicação, e amor de Frida enquanto ela vivia entre nós, tão pouco será capaz de compreender sua magnitude em minhas palavras. Então não farei isso.

Não é segredo para ninguém que ela levava em seu ventre nosso filho, nosso pequeno Klaus Enrico Vallar Linderberg, um ser inocente, que nunca poderá conhecer nada que há nesse mundo. E esse é um crime que não merece ficar impune. Talvez  nem todos saibam mas no final da tarde do fatídico dia, o homem que causou tanta dor em nossos corações, ao atropelar minha esposa, veio também a falecer, no mesmo hospital. Mas isso é tão pouco diante do tamanho do buraco que ele abriu no seio de nossa família. Não pode ser a devida paga por ter negado a vida a um bebê inocente, ter tirado uma filha única de uma mãe já dolorida por uma recente perda. Além de roubar a esperança de um esposo apaixonado, sem dizer da companhia de primos, tios, e amigos. A morte dele não faz sanar o vazio que ficou em nós, e eu o odeio por ter cruzado o caminho de minha esposa, e afirmo aos senhores que de modo algum, em tempo algum ele deveria ter tido abrigo na Terra. Se houvesse justiça nesse mundo, ele e sua família deveria sofrer a mesma dor que sinto agora, mas de uma forma lenta, e ainda mais angustiante.

Hoje diante de você prometo que Frida não será esquecida, e que nada do que passou se perderá no tempo. Sua morte não será em vão. E peço que os senhores quando fizerem suas orações peçam por forças para que a família possa suportar sua falta.

Obrigado a todos que estão aqui presentes.

Frida ocupou o lugar ao lado de Maurice, no mausoléu de sua família, e toda multidão se dispersou rapidamente, ficando apenas eu, minha mãe e tia Leda. Agora nossa família se resumia a três pessoas, e ali diante da última morada de Frida, não ousamos proferir mais palavras, apenas ficamos em silêncio, talvez elas estivessem, assim como eu, tentando captar um restante da essência de minha esposa. Uma hora após o final do funeral, saímos dali, ainda calados. Não havia palavras que transmitisse o que já estava estampado em nossos olhares. Deixei as mulheres em minha casa, e retornei a pegar a estrada, indo em direção ao antigo caminho, onde tempos antes eu tinha desovado o carro de Melissa e Guto, e da mesma ponte em ruínas me coloquei na borda, pronto para me jogar dali. Dar um final a minha vida, indo ao encontro de Frida, e nosso filho, pareceu-me o melhor a fazer, quem sabe eu poderia no outro mundo conhecer meu menino, brincar com ele, ser o pai que eu havia me preparado para ser. Não existia mais nada para mim nesse mundo, além da dor que tomava conta de mim, e fazia com que eu não sentisse nada além dela. Não havia mais propósito, para minha existência. Quando fui me lançar, ouvi uma voz:

Histórias do Chalé - Relatos de Um Sádico [Completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora