#19- Adrian

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O garoto dormia tranquilamente quando retornei a sala de estar, talvez porque desconhecesse o que tinha acontecido ao seu pai, ou mais certamente porque estava sob efeito de um sonífero. Por vários minutos fiquei o observando, e tive certeza que precisaria de ajuda para acalmá-lo quando acordasse. Afinal ele era um garoto de treze anos, não um desmemoriado, então se lembraria que anteriormente tinha acordado preso num quarto no porão. Eu sabia exatamente quem poderia ser minha ajudadora, mas para poder chamá-la eu precisaria cuidar das pessoas que ocupavam os quartos no porão, pois era certo que em algum momento tanto o menino, quanto a Olga iriam querer ver o porão para que Adrian tivesse certeza que o pai não estava mais por lá. Essa possibilidade era ruim para mim, pois a cama metálica era totalmente presa ao chão, e eu não ia poder deslocar ela de lugar. Em minha mente achei que deveria cuidar primeiro da parte simples, removendo as pessoas nos quartos, e as levando para fora do chalé. Desde que estivessem dopadas eu poderia as deixar no mausoléu da família, e durante a noite ir buscá-las sem qualquer problema. Esse foi meu primeiro passo, e realmente se mostrou bem simples, dei graças aos céus pela construção daquelas passagens subterrâneas, que me poupavam o incômodo de ter que atravessar a propriedade carregando corpos desacordados. Depois de terminada essa etapa, pude ligar para Olga, e contar a triste história do garoto que tinha sido deixado pelos pais mendigos, que antes de partirem haviam implorado para eu cuidar do filho, e que desse uma boa educação para ele. Ela prometeu chegar no chalé em meia hora, e terminamos a ligação. Para disfarçar a cama metálica, usei algumas caixas velhas, que empilhei sobre ela, afinal era um porão, e eu sempre podia dizer que era uma cama velha que estava sendo guardada ali, até eu dar um fim nela. Assim tudo ficaria menos suspeito, embora eu apenas estivesse sendo cuidadoso ao extremo, pois mediante a carta escrita de próprio punho pelo pai da criança, eu não teria problemas em provar minha história, mesmo que tivesse que envolver a polícia na situação.

Olga, acompanhada de seu pequeno filho chegaram pouco depois de eu terminar arrumar o porão, e alguns minutos antes de Adrian acordar um pouco desnorteado. Deixei que ele se acostumasse com o ambiente, e só então me dirigi a ele.

-Bom dia Adrian, como você está? - Ocupei o lugar ao seu lado no sofá - Se sente bem? Dormiu a manhã toda. Precisa de algo?

-Eu tô bem. - Ele disse esfregando os olhos- Cadê meu pai, e o pessoal?

-Adrian precisamos conversar, tudo bem, fique calmo… - Coloquei minhas mãos em seu ombro- Os seus pais, e seus amigos já foram.

- E quando eles voltam? Pra dormir?

-Eles não voltam Adrian. Foram para longe, e não quiseram que você tivesse uma vida ruim nas ruas, então pediram para eu cuidar de você.

-Não, eu disse para eles que isso era bobagem - Algumas lágrimas brotaram em seus olhos - Pra onde eles foram? Eu vou também.

-Você não pode Adrian - Olga disse calmamente, se aproximando- Seu pai não queria que você tivesse que crescer nas ruas, sendo maltratado. Ele fez o melhor para você.

-Mas..mas...ele me disse que não ia fazer - Ele chorou - Eu disse pra ele que eu não queria nada disso, que era bobagem isso de eles me deixarem pra eu ter vida melhor.

-Então eles já tinham falado disso com você?

-Sim, senhora, eles queriam que me deixar em algum lugar pra eu estudar, e aprender coisas novas, mas eu disse que eu não queria, que tudo que quero é estar com eles. Minha família.

-Nós vamos cuidar de você, vamos te dar a melhor educação possível. Seremos como uma família também.

-Eu já tenho uma família, não preciso de outra não senhor.

Histórias do Chalé - Relatos de Um Sádico [Completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora