Os primeiros sinais do sol já podiam ser notados no horizonte quando retornei para casa, os empregados cuidavam de seus afazeres, e meu pai lia seu jornal sentado na poltrona da sala. A princípio não o notei ali, e já ia subir as escadas, quando ele pigarreou forte, e disse:
-Onde foi tão cedo? Pensei que tinha se retirado com dor de cabeça ontem.
-Fui dar uma volta, acordei um pouco agitado, foi uma noite com muitas emoções, meu pai.
-Deve mesmo ter sido cedo, pois estou nessa poltrona desde as cinco da manhã, e não lhe vi passar por aqui.
-O senhor sabe que ainda tenho a mania de descer pela árvore dos fundos.
- Um costume muito feio, diga-se de passagem, parecendo um gatuno, se esgueirando pelo telhado, quando há tantas portas nesta casa, e você é livre para ir e vir quando quiser.
-É só um costume meu pai, nada demais, coisa que guardo da infância.
-Mas você não é mais uma criança. É um homem feito agora, com uma noiva que precisa de você. Não pode ficar fazendo coisas de criança.
-Prometo parar meu pai. - Busquei mudar de assunto - O senhor sabe se Frida já acordou?
- Creio que não, ela foi dormir muito tarde ontem, e um pouco preocupada. Você sabe como ela é, está sempre se preocupando com os outros. A prima dela Carol ligou avisando que uma amiga de infância estava vindo para a cidade. Parece que seria apenas uma visita rápida, mas até a hora que ela se retirou para dormir não tinha recebido outras notícias.
- Pensei que todas amigas de infância de Frida, fossem da cidade.
- Essa é do Espírito Santo, pelo que parece, mas já deve chegar hoje.
- Espírito Santo? Foi isso que o senhor disse?
- Sim, foi exatamente o que disse, claramente. Você está bem Floren?
-O senhor sabe o nome da garota? Podemos ligar na cidade, ver se ela apareceu por lá. -
-Melissa - A voz de Frida veio do alto da escada - Ela está com o namorado, acho que o nome é Guto.
- Bom dia meu amor... Melissa e Guto, eu vou pessoalmente até a cidade, preciso mesmo buscar umas encomendas que fiz. – Eu aparentava estar mais nervoso do que queria demonstrar, por só agora me recordar do carro do casal, que ainda estava na beira da estrada, e que seria uma prova que eles estiveram ali. - Volto logo!
- Eu vou com você, com certeza. Eu sei bem mais sobre ela, isso pode ajudar - Frida disse começando a descer as escadas.
-Meu amor, ela deve estar bem, em algum hotel com o namorado. Eu acho que é perda de tempo você ir até a cidade.
- Deixe de bobagem Floren, sempre que posso eu estou na cidade, e nunca foi uma coisa penosa. - Minha noiva disse com o tom de voz um pouco elevado, mas sem perder sua classe natural.
-Tudo bem, vamos de uma vez. Deixo você no centro da cidade, e vou buscar minha encomenda.
Era completamente perigoso que Frida fosse comigo até a cidade. Primeiro porque eu não pretendia chegar até a cidade, afinal o casal não tinha chegado até lá. No entanto tinha a possibilidade que alguém pudesse ter cruzado com eles, ou até mesmo encontrado o carro na beira da estrada, e contar isso a minha noiva. Conhecendo minha noiva, ela faria pressão para que tivesse uma investigação minuciosa.
Eu tinha cometido um erro inconsciente, e agora tinha que consertar rapidamente. Existia uma enorme diferença entre desconhecidos, e pessoas com ligações de amizade com famílias importantes na cidade. Assim que o desaparecimento deles fosse oficial, haveria uma grande comoção para que fosse descoberto o paradeiro deles. E então como se fosse um castigo por minha arrogância, a existência aquele pai comerciante, agora parecia de alguma forma um pouco mais assustadora.
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Histórias do Chalé - Relatos de Um Sádico [Completa]
Misteri / ThrillerComo um sádico Serial Killer se forma? Como Florêncio Bahn Linderberg se tornou o homem capaz de caçar, torturar, e matar tantas pessoas sem demonstrar qualquer remorso? Em História do Chalé, podemos companhar parte da adolescência, e fase adulta...