#22- Novo Milénio

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Penúltimo Capítulo! Hoje a nota vêm antes do Capítulo, para dizer que sou muito grato por sua leitura e cuidado com a história, espero que tenham gostando de vivenciar um pouco das insanidade do Linderberg....Vamos ao capítulo.

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Desde o final da ditadura militar no Brasil, em mil novecentos e oitenta e cinco, minha seleção de vítimas teve que ficar  criteriosa, pois desaparecimentos de pessoas já não eram mais tão comuns. Quando os militares estavam no poder era quase certeza que levassem o crédito pelo sumiço, ainda mais quando acontecia na capital. Então de certa forma lamentei muito quando foram destituídos, e as pessoas passaram a acreditar na falsa liberdade que as eleições civis lhes dava.

Eu poderia dizer que lamentei pelo fato de que minha família prosperou imensamente com os militares no poder, mas estaria apenas sendo idiota, já que minha família tem prosperado nesse país, desde que chegou aqui, independentemente do sistema de governo. Nos valemos dos favores, e prestígio com a monarquia, no império, e na república presidencialista, inclusive na ditadura. O nome do governo, ou o homem que o controlava, nunca nos fez diferença. É certo que em alguns governos lucramos mais, mas em todos momentos desde a era dos bandeirantes, nossas relações políticas tem feito de nossa família cada vez mais rica.

O ponto é que com o final da ditadura os desaparecimentos eram mais notados. As prostitutas que antes eram até perseguidas pelo governo, agora tinham mais liberdade para seus negócios. As pessoas passaram a notar mais uma às outras, e até a considerar esse tipo de pessoa como parte da sociedade. Em todo país os jovens que haviam sido politizados para ajudarem na derrota da ditadura, agora passavam a olhar com mais atenção para os indivíduos da sociedade, e não faltam movimentos pelos direitos dos mendigos, mulheres, prostitutas, e qualquer coisa que fosse possível.

Era uma nova configuração de país, e eu tive que me adaptar. Se não podia mais pegar uma prostituta na esquina, e a libertar de sua vida podre, então passei a olhar para aqueles que cuidavam deles. Os jovens que se acham imensamente caridosos, e que faziam de tudo para se mostrarem bons. Muitas passando suas noites acolhendo mendigos no centro da capital, e dando comida para os indigentes. Esse eram os maiores causadores da desgraça  do mundo, mas também eram um grupo de alto risco, então mesmo quando comecei a pegá-los, eu já sabia que não duraria muito. A polícia estaria de olho no desaparecimento desse indivíduos.

Talvez eu tivesse mesmo muita sorte, ou talvez porque diminui bastante o ritmo, consegui manter isso por muitos anos, sempre me controlando para não fazer besteira. Nunca era um grupo muito grande, então eu realmente estava feliz em ter encontrado aquele grupo de mendigos desprotegidos, ainda mais tão perto de casa. Mesmo sendo arriscado, eu sabia que eles eram apenas mais um transtorno para a cidade, e as pessoas não iam sair procurando por eles. O povo de São João de Maraca, poderia até ser considerado um povo amigável, e de “bom coração”, mas a verdade é que a cidade se orgulhava muito do modo calmo, e pacato, e ter mendigos perambulando pelas ruas não combinava em nada com as fachadas bem cuidadas, e estabelecimentos comerciais decorados com bom gosto. Muitas vezes ouvi os comerciantes dizendo que os moradores de rua espantavam os clientes, e só faziam sujeira nas ruas. Ou seja menos seis deles só iria fazer bem a cidade, e eu ainda lucrava. Seis porque Adrian nunca mais seria mendigo.

Acho que se tornará enfadonho dizer minuciosamente como os outros morreram, então apenas digo que morreram, foram libertos, e me deram muito prazer com isso.

Com o passar dos anos fui aprendendo coisas novas, vendo coisas em filmes, e livros. Algumas bem interessantes, que decidi experimentar nas pessoas que capturava, e assim é bem verdade que nunca me ficou enfadonho.

Nos finais de semana que tinha livre, eu buscava Adrian, para pescar comigo no Lago Maninka, ou apenas viajávamos para outras cidades do interior, para ver coisas novas, e pescar. Ele era um garoto muito calmo, e inteligente, nunca reclamava da vida, e rapidamente sentiu afeto por mim. De minha parte eu gostava muito da companhia dele. Devo dizer que foi uma benção, depois de passar dez anos remoendo a morte de minha família, mas eu já estava cauterizado demais para tornar a deixar alguém entrar completamente em meu coração. Entretanto tivemos bons momentos, e eu cuidei para que ele crescesse bem, e tivesse todas as oportunidades possíveis na vida. Mesmo tendo certeza que quando ele descobrisse minhas atividades secretas, ele me repudiaria, considerando-me um monstro, mas não importava, pois tinha dado minha palavra para seus pais, e eu nunca volto atrás do que prometi.

Cinco anos depois de nos conhecemos resolvi levar Adrian para caçar, ele estava com dezoito anos, e era um jovem promissor na escola, e desejava cursar direito na universidade, e para isso teria que passar a morar na capital, então em nossa despedida, eu resolvi fazer isso, que era uma das atividades favoritas de meu pai, e do tio Maurice, e eles sempre levavam Frida e eu, em minha memória essas eram grandes lembranças, com meu pai, e queria dar uma experiência assim para Adrian.

Os anos dois mil já tinham chegado, e eu agora tinha cinquente e seis anos, não era mais um garoto, então mesmo que eu quisesse não teria mais filhos, e eu não queria, então ele era minha chance de mostrar um pouco do que aprendi com meu pai. No Brasil a caça de quase tudo é proibida, então escolhemos a península de Kamchatka, na Rússia, onde caçamos ursos cinzentos, o que ele realmente não gostou, talvez tenha pensado que iríamos caçar coelhos, ou coisa assim, mas quando abatemos o urso percebi que ele estava realmente desconfortável, enquanto os caçadores profissionais que estavam  conosco se mostravam excitados demais. Não confessei para ele, para não o deixar ainda mais pra baixo, mas a experiência não foi muito boa para mim também, na verdade foi bem diferente da época que caçava pequenos esquilos, e coelhos selvagens, em minha infância. É bem injusto usar uma arma de fogo para tirar a vida, pois não se dá nenhuma opção de reação. Por isso jamais usei em minhas experiências.

Voltamos ao hotel, e fomos comemorar boa caçada, no outro dia começamos a excursionar pela Rússia, e um pouco da Europa. Um mês depois retornamos ao Brasil. Ele foi a universidade, e eu comecei os preparativos de  uma nova ideia que tive na viagem.  Eu iria começar a alugar o Chalé para algumas temporadas.

Um novo milênio, um novo século, uma nova abordagem. O ano de dois mil e um, era bem vindo.

Histórias do Chalé - Relatos de Um Sádico [Completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora