Quinze dias antes.
– Eu o vi na rua de manhã. – Robert, ou Bob, como praticamente toda a pequena cidade o conhecia, murmurou enquanto alternava o olhar entre o padre e o outro diácono. – O cabelo dele é vermelho como nunca vi antes. – Comentou.
– Vermelho como o fogo do inferno que vai consumir a alma pecadora que ele carrega. – O padre recebeu o olhar dos dois diáconos, apertando a bíblia entre as mãos. – Eu só estou aqui em consideração a senhora Way. Ela sempre foi um exemplo perante a igreja. Paga o dízimo, nos ajuda em eventos... Uma pena que seu neto seja um desviado.
– Se você preferir ir embora, eu e Bob podemos ficar. – Frank manteve o tom sussurrado, olhando em volta.
– Não, tudo bem. Quem sabe não podemos ajudá-lo a encontrar o caminho até Deus?
Gerard, deitado em seu novo quarto no andar superior, não ouvia nada da conversa. Estava absorto, esticado sobre a cama com ambas as mãos repousando em seu peito. A esquerda apertava uma folha de jornal dobrada enquanto a direita tentava puxar o outro lado, partir o papel ao meio. Abandonar os erros do passado da mesma forma que a maioria das pessoas havia largado-o desde que se perdeu em meio a depressão e os vícios que haviam lhe consumido. Do ângulo que estava deitado, conseguia ver a mala ainda feita sobre a escrivaninha, medicação para seis meses, seu celular e a carteira.
Desdobrou o papel, queria poder ler aquilo uma última vez antes de picá-lo em pedaços e deixar o passado para trás.
Em letras grandes, na capa do jornal de meses atrás, conseguia ler abaixo de sua foto "A Pior Criação da Família Way" e, em letras um pouco menores, a chamada para a matéria contava sobre como o primogênito e herdeiro da mais famosa joalheria dos Estados Unidos havia se envolvido em um acidente quase fatal pois estava dirigindo sob o efeito de álcool e drogas.
Tão clichê que quase doía.
Dizer que o acidente chegou perto de ser fatal foi um grande exagero. O carro e a árvore que acertou ficaram destruídos, isso era um fato, mas Gerard escapou ileso. Tão bem que o jornal do dia seguinte havia noticiado isso como um milagre, cuidando de humilhar Gerard logo em seguida.
O declínio em sua vida havia sido tão rápido quanto aquele acidente. Crescer com os pais ausentes e um irmão mais novo brilhante demais para ser real nunca foi uma grande alegria para Gerard, mas ele sabia que isso não era a culpa de sua depressão. Os pais se esforçavam para dar aos dois uma vida de sonhos, garantindo sempre o posto de maior empresa no ramo de jóias e relógios de luxo. O primogênito havia se formado em artes, mas trabalhava com os desenhos das peças preciosas enquanto o mais novo se destacava administrando as finanças da empresa antes mesmo de concluir a faculdade.
Quando acordou no quarto do hospital após o acidente, a primeira coisa que viu foi sua mãe perdida em um choro silencioso. A segunda foi o mesmo papel que, agora, tentava criar coragem para rasgar, jogado em seu rosto por um pai enfurecido, decepcionado, desesperado.
Talvez Gerard fosse um grande merda como seu pai fez questão de gritar enquanto o culpava, pela milésima vez, pelo queda momentânea nas vendas. O homem sabia que precisava afastar o filho da empresa o mais rápido possível, cogitando interná-lo em uma clínica de recuperação. Diante do apelo desesperado da esposa, cedeu a ideia de deixá-lo morar com sua sogra por um tempo.
Gerard não presenciou a mãe defendendo-o da vontade do pai de interná-lo como uma leoa briga para salvar seu filhote de um predador maior, mas sabia que ela era a responsável. Isso o fez sorrir pela primeira vez desde que chegou na casa de sua vó.
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Sinner - Frerard
FanfictionDe todas as merdas que Gerard já pensou que poderia fazer, se apaixonar por um padre jamais esteve na lista. {sin·ner - Pecador. Pessoa que transgride as leis divinas com atos ou pensamentos imorais. (Não há intenção de ofender ou desrespeitar qualq...