Capítulo 7

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 Era cômico uma cidade tão religiosa ter um clima que se assemelhava tanto com a forma que o inferno costumava ser descrito. O calor que havia reinado nas últimas semanas estava ainda mais impiedoso naquele dia e, se trouxesse outra tempestade no final da tarde, talvez o casamento fosse um grande fracasso.

A enorme fazenda do prefeito, logo na entrada da cidade, estava completamente decorada para aquela celebração. Havia um local destinado somente para eventos, mas Christa não aceitou mudar os planos de ter a cerimônia do casamento completamente ao ar livre. As cadeiras douradas estavam organizadas em fileiras, sendo o corredor criado entre elas um caminho formado por pétalas de rosas brancas. O calor pesava no ambiente e a ausência de vento era tão absurda que sequer os pedaços de flores espalhados sobre a grama se moviam. As mulheres agitavam os leques de forma ávida e as crianças grunhiam em desconforto, tentando arrancar os pequenos sapatos sociais sem que fossem pegas em flagrante.

Gerard estava acostumado com a gravata justa em seu pescoço e o peso do terno em seus ombros, mas aquilo já era demais. O paletó descansava sobre o colo e ele já havia afrouxado o nó de seda antes de desfazer os botões dos punhos da camisa, elevando as mangas até os cotovelos. Em sã consciência, jamais aceitaria o convite para o casamento de alguém que sequer conhecia em um dia que parecia ter sido feito para castigar qualquer ser humano que colocasse os pés para fora de casa, mas tudo aquilo era sobre Frank.

O ruivo havia encontrado nele uma bela razão para viver. Existiu por muitos anos e caminhou, sem rumo exato, em meio a solidão e a descrença na felicidade. Buscou preencher aquele vazio que fazia sua alma arder de todas as formas possíveis, mas nada bastou. Nada sequer chegou perto de lhe acalmar da mesma forma que Iero fazia; De lhe dar segurança e felicidade simplesmente por acordar em todas as manhãs.

Mal podia esperar para acordar ao lado de Iero em todas as manhãs.

Se já enfrentava missas semanais simplesmente para vê-lo por pouco mais de uma hora, qual seria a chance de perder aquele casamento?

A razão de seu desejo estava há alguns metros de distância, sendo o mesmo bom garoto de sempre. Ainda envolto pelo terno completamente negro, tal como sua camisa e gravata, conversava com os outros encarregados da igreja. Padre John, por vezes, usava um lenço de bolso para secar o suor sobre a testa e os quatro pareciam organizar os últimos detalhes da celebração e, se o ruivo não estivesse tão perdido sonhando acordado com o moreno diante de seus olhos, teria notado a fúria que Brandon direcionava para si.

O padre mais novo, também em trajes sociais, já não conseguia mais esconder o quanto detestava a presença de Way naquela cidade. Via o homem como um elemento tóxico, o maior empecilho que já tivera enquanto caminhava diariamente para tornar realidade aquilo que sonhara por tantos anos. Mesmo tentando destruir a proximidade entre ele e Frank, algo mais forte do que sua perversidade parecia manter os dois próximos. Sequer lhe passava pela cabeça o que realmente existia entre os dois; Era notável no olhar de Gerard o quanto ele desejava aquele que Brandon acreditava lhe pertencer, mas nunca iria esperar que Frank correspondia a cada desejo do homem da cidade grande.

Os instrumentos foram empunhados e a típica marcha nupcial se fez presente ao que todos se levantaram. O noivo caminhou ao lado de sua mãe, exibindo os fios encaracolados iguais aos dela e que, retorcidos em um penteado extravagante, deixavam a vista que talvez até o pescoço da mulher fora vítima de cirurgia plástica. A noiva chegou em uma carruagem puxada por dois cavalos brancos e Gerard quis rir; Achou aquilo completamente piegas, sem sentido, demonstrando interesse somente no momento em que o casal trocou as alianças, gostando de comparar o próprio trabalho ao alheio quando se tratava de joias.

Na caminhada até o descomunal salão de festas, o ruivo apressou o passo para alcançar Frank que logo diminuiu a velocidade que caminhava para distanciar-se dos outros.

Sinner - FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora