Capítulo 6

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 Bob sempre foi um grande boca aberta.

Gerard tinha certeza que, se quisesse que toda a cidade soubesse de algo, bastava passar a informação para o loiro, sentar e esperar; A notícia se alastraria feito o fogo que é conduzido por uma trilha de gasolina.

Da mesma forma, o ruivo também tinha completa certeza da pontualidade de Frank. O mais novo nunca escondeu a enorme responsabilidade que tinha e todas as qualidades que isso lhe trazia. Nunca estar atrasado era uma delas; Sempre que Gerard chegava para encontrá-lo nas quartas e nos sábados, ele já estava lá. Então, como já era de se imaginar, chegar naquela sala enorme e não encontrar o diácono foi completamente deprimente. Não havia Iero com seu sorriso tranquilo e a alegria que transparecia em seu olhar enquanto comentava, religiosamente em todas as vezes, o quanto estava feliz porque Gerard realmente havia vindo.

O ruivo não teve para quem responder que jamais perderia uma chance de aproveitar aquela companhia, não viu a bíblia aberta sobre a mesa ou teve a chance de sentir o calor emanado do corpo do menor a cada vez que arrastava-se um pouco mais para perto dele simplesmente porque não havia ninguém ali.

O vento que entrava pela porta sempre aberta agitava as chamas frágeis das velas em uma dança débil, tal como se fosse uma representação física da esperança que queimava o coração de Gerard por dentro. Sabia que Frank não se ausentaria sem explicar-se; Mesmo em tão pouco tempo, o conhecia bem o bastante para que pudesse confiar nele.

Tanto quanto desejava que ele confiasse em si.

Os minutos se arrastavam e as rajadas de vento traziam para dentro as folhas secas, flores mortas e nada da presença alheia. O cotovelo já descansava sobre a mesa e o rosto contra a própria mão, tão atento na direção da porta que sequer notou quando as velas começaram a se apagar uma por uma. Depois de duas horas, o fogo desistiu de derreter a cera sobre o castiçal de bronze e o ruivo cansou de esperar, agonizar sozinho.

Começou a caminhar por cada conto daquela igreja, procurando por Bob em vez de Frank. Queria uma informação e tinha certeza de onde iria conseguir. Passou pelo salão paroquial, o salão principal da igreja e a sala onde eles se reuniam com as crianças; Checou na enorme cozinha, bateu na tesouraria e espiou pelo vidro da janela que o cômodo trancado estava vazio, o que lhe deixou somente com uma única opção.

Arrastou os passos até a casa onde os dois diáconos viviam com o padre, tocando a campainha até que desistisse de entrar por bem. A igreja estava completamente vazia, o que dividia suas chances entre dar de cara com Brandon, Bob e Frank. Não encontrou ninguém em nenhuma das janelas do andar de baixo, ficando até mesmo na ponta dos pés para espreitar na janela do banheiro apenas por precaução. Notou uma janela aberta no segundo andar e, com aquele vento típico que anunciava um temporal de verão, aquilo indicava que alguém estava em casa.

Ou que ninguém ali se importava em dormir num colchão encharcado.

Somente um dos quartos tinha sacada; Havia uma escada esquecida no canto do jardim e um ruivo motivado a entrar naquela casa mesmo que precisasse escalar o lugar com as mãos nuas. Apoiou a escada enferrujada ao lado da sacada, respirando fundo pois o rangido alto de ferro velho e corroído se fazia presente a cada degrau que ele subia. Quando chegou no último e apoiou a mão nos balaústres da sacada, olhou para baixo por um instante e deu um impulso impensado, empurrando a escada para cair deitada no chão outra vez ao que se jogou na sacada.

Estava, definitivamente, velho demais para aquilo.

Não precisou forçar muito e o pequeno fecho da porta da sacada cedeu, afinal, ninguém se preocupava com segurança naquele buraco de cidade simplesmente porque nada acontecia lá; Gerard sabia que o maior risco que corria era perder sua carteira e vê-la ser devolvida com uma capa de crochê.

Sinner - FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora