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Seiscentos e cinquenta reais. Era exatamente isso que ela havia pagado para estar ali, no meet & greet do Tom Holland. Trinta minutos de um painel exclusivo com o ator, podendo fazer as perguntas que bem entendesse. Ela ainda conseguia ouvir o pai reclamar pelo dinheiro gasto. E ainda assim ela não ligava.

— Eu queria saber como o assédio aumentou após você se tornar o Homem-Aranha. —ela viu a expressão do rapaz ficar confusa. Claro, ela teria que explicar a pergunta. — Tipo, se você estalar os dedos, 90% das pessoas que estão nessa sala com certeza vão chupar seu... — foi quando todos começaram a rir que ela percebeu que estava falando merda. Ela também riu, mas morrendo de vergonha. Queria poder enfiar a cabeça em um buraco, mas agora era tarde demais. — Chupar o que você quiser. Sempre... Hã... Sempre foi assim?

Tom Holland ainda estava tendo uma crise de risos, o que fazia com que todas as outras pessoas presentes no mesmo espaço também tivesse uma crise de riso. Ela, por sua vez, ria de nervoso. As pessoas riam dela, não com ela, e isso por si só era incômodo o bastante. Mas ela não iria sair dali até ter sua resposta.

— Não. — a resposta dele demorou tanto que ela quase havia esquecido a pergunta. — Na verdade nunca foi assim. Ninguém me achava bonito antes. A fama muda muita coisa mesmo. — todo mundo riu novamente, e ela agradeceu não ser mais o motivo. — Mas e você? Faz parte dos 90%?

Aquilo poderia tanto ter sido uma cantada quanto uma forma de fazer com que ela passasse ainda mais vergonha. Mas era meio óbvio que não seria uma cantada, apesar de ela torcer com todo seu ser para que fosse. Não, era só mais uma gracinha sem intenções maliciosas para lhe fazer passar vergonha em público.

— Se você pagar bem o bastante... — pronto, ela havia deixado implícito, em público, que era uma puta. Por favor, alguém me mata agora. — É brincadeira! Eu juro, é brincadeira! Meu deus, eu tenho idade pra ser sua mãe!

— Não tem, não. — era claro que ele não iria concordar. Ela tinha a mesma cara desde o doze anos, sempre pediam seu RG antes de entrar nos lugares. Confirmado: Helena Resende queria morrer.

— Tenho sim. — ela realmente estava tendo essa discussão com Tom Holland. Meu. Deus.

— Quantos anos você tem?

— Vinte e quatro.

— Menina, o que você fazia quando tinha quatro anos? — o choque estampado no rosto dele apenas fez com que todos rissem mais. E dessa vez ela também riu. Muito.

A cara que ele fez ao vê-la se aproximar para tirar uma foto – um direito incluso já nos malditos seiscentos e cinquenta reais – foi impagável. Ele começou a rir, o que também a fazer rir. Mas, diferente dele, ela sentia vontade de sair correndo dali. Já conseguia imaginá-lo em alguma entrevista de talk show contando sobre a fã mais idiota que um dia havia conhecido.

— Qual o seu nome? — ele perguntou enquanto a abraçava. Tudo bem, ela ganhou um abraço. Ponto positivo.

— Helena. Desculpa por aquilo...

— Desculpa? Aquilo foi o máximo! Eu não pensei que fosse rir tanto. — após a foto os staffs pediram para que ela saísse, mas o ator pediu mais alguns segundos. — Me passa seu Twitter? Gostei do seu humor.

Enquanto ela via-o abrir o próprio Twitter, digitar seu nome de usuário e seguí-la, Helena teve certeza que estava a uma respirada de desmaiar. Mas, ao se despedir dele e deixar que a próxima fã fosse tirar uma foto, ela pensou que em dois dias ele sequer lembraria quem ela era e eles nunca mais se falariam.

90 Por Cento [Tom Holland]Onde histórias criam vida. Descubra agora