Helena estava completamente desesperada.
Faltava exatamente um mês para sua viagem para Los Angeles. Quando Tom mandou o voucher das passagens ela teve certeza de nada daquilo poderia ser real porque simplesmente não fazia o menor sentido. As coisas estavam boas demais para ser verdade.
Quer dizer, não que tudo estivesse maravilhoso. Ela ainda estava trabalhando no bar e sem dinheiro o bastante para sair da casa de Thaís e Flávio. Mas pelo menos ela tinha conseguido ir até a última etapa de uma entrevista da sua área – e não tinha passado, mas pelo menos foi uma das finalistas. Poderia não parecer muito para absolutamente ninguém, mas esse simples fato havia dado uma nova energia para Helena.
Mas seu foco no momento era a viagem. O voucher já estava certo, ela partiria no dia vinte de abril, exatamente à meia noite. Viajaria a noite inteira e chegaria no dia vinte mesmo, no começo da tarde. Se tudo desse certo. O passaporte já estava em mãos e, após momentos de pura tensão em que ela tinha certeza de que tudo daria completamente errado, ela havia conseguido o visto. Tudo estava saindo absolutamente bem demais.
Por isso ela estava desesperada.
E se ela chegasse em Los Angeles e descobrisse que na verdade não tinha ninguém a esperando? E se Tom apenas decidisse que não queria mais namorá-la e ela que se virasse para passar aquele um mês nos Estados Unidos? Sério, o dinheiro que ela havia conseguido guardar não era muito. Honestamente.
— Lena, respira fundo. Sério.
— Eu não consigo! — ela ia de um lado para o outro no pequeno apartamento de Juliano. Na verdade eram cinco passos para a esquerda, cinco para a direita. O apartamento era mesmo bem pequeno. — Tudo pode dar errado! Ju, eu acho melhor eu não ir.
— Agora você está simplesmente sendo maluca. — Juliano finalmente se sentiu exausto, segurando a amiga pelo braço e a puxando para o sofá. — Você está planejando essa viagem desde o ano passado, o cara é seu namorado e ele literalmente já comprou as passagens.
Juliano então pegou o maço de cigarros de Dênis, o estendendo junto a um isqueiro para a amiga. Helena abriu a janela e se sentou mais na ponta do sofá, acendendo o cigarro e dando uma profunda tragada. Ela quase nunca fumava, apenas quando sentia que a situação estava realmente desesperadora. Como naquele momento.
— A gente pode ver com a companhia aérea se tem como fazer a dev–
— Helena, cala a boca! — Juliano estava realmente se esforçando muito para não dar um tapa na amiga. — Ouve o que você 'tá falando! Para com isso, respira fundo.
Ela então o fez. Respirou fundo. Mais ou menos sete vezes. Tragou novamente o cigarro. Juliano, mesmo com toda sua falta de delicadeza, estava completamente certo. Ela havia esperado por aquela data durante tempo demais para simplesmente pirar agora. Helena precisava manter o foco no que realmente importava e ir logo pra droga dos Estados Unidos realizar vários sonhos.
Tipo, sair do Brasil.
E, sabe como é, beijar o namorado.
— Você está certo. Eu preciso me manter calma.
— É óbvio que eu estou certo. — o sorriso de Juliano a faz bufar. Ridículo. Ela precisava escolher melhor seus melhores amigos. — Agora o que realmente importa: você vai mesmo pintar o cabelo?
E tinha isso.
Dois dias antes ela havia tido outra crise em que ela tinha certeza que, assim que Tom a visse pessoalmente, ele iria terminar com ela. Porque ela não era essas meninas perfeitas de Hollywood e porque estava longe de ser uma modelo e honestamente ela era bastante comunzinha. E ela sabia que era bonita e até estava em um ou outro padrão de beleza, mas ao mesmo tempo ela se sentia completamente insegura e brava consigo mesma.
Novamente, Helena sabia que era uma mulher bonita, ela se amava e tudo o mais, mas quem nunca teve um momento de insegurança que atirasse a primeira pedra. Por isso ela havia decidido que iria viajar diferente e faria uma surpresa para Tom. Em poucas horas ela e Juliano iriam para o cabeleireiro e ela iria deixar seu cabelo cinza. Era isto.
— Eu preciso. Não posso estar exatamente igual a última vez que ele me viu.
— Miga, para se ser louca. Ele te viu em 2016 e foi por tipo cinco minutos, no máximo. Contém isso aí.
— Tá, mas agora somos namorados. Eu só quero... Sei lá. Quero ver ele logo. — ela balançou os ombros e fez bico.
— Você precisa. — Juliano concordou, fazendo uma expressão muito séria. — Faz quanto tempo que você não beija na boca? Vocês estão no relacionamento aberto mais monogâmico da história.
— Eu não quero beijar outras bocas, Ju. Quero a do Tom.
— Nossa, você 'tá muito apaixonada por esse menino, né? — e, certo, ela já sabia disso, mas ouvir o melhor amigo falar era ainda mais verdadeiro. — A última vez que te vi tão apaixonada assim por alguém foi em 2012, quando você e a Bea namoraram.
— Bom, a Bea era incrível. Qualquer um se apaixonaria. Se ela não tivesse se mudado para cinco estados de distância nós ainda estaríamos juntas. Real. — Helena não evitou sorrir ao se lembrar da ex. Elas haviam terminado bem, permanecido amigas, essas coisas.
— Como é que você não encarou um romance de estados de distância mas tá encarnado um com países diferentes?
— Foi a Bea quem quis terminar. — ela se levantou e apagou o cigarro no cinzeiro, deixando-o lá com outras pontas. — Mas sem mágoas. Ela até 'tá namorando outra menina.
Eles conversaram sobre tudo e nada até finalmente dar a hora de ir para o cabeleireiro. No meio do caminho Helena quase desistiu e voltou para a casa de Juliano, mas era por isso que o amigo estava ali. No geral ele sempre impedia Helena de deixar que o medo ganhasse. Por isso ela ficava tão feliz de ter o rapaz ao seu lado, por mais que muitas vezes ele parecesse duro demais ou mesmo rude.
Por muitas horas Helena ficou sentada na cadeira do cabeleireiro, jogando conversa fora com o amigo, ouvindo piadas de Paul – era o nome do cabeleireiro – e trocando mensagens com Tom. Tantas horas que quando ela finalmente saiu de lá, com o cabelo lindo e completamente cinza, a noite já havia caído há horas.
Ela voltou para casa de Juliano, onde ficou com ele e Dênis por mais algumas horas conversando e comendo algumas – várias – besteiras. Apenas quando os dois amigos foram dormir que ela abriu o sofá cama, puxando a coberta que haviam lhe dado e aconchegando a cabeça no travesseiro. Com o celular ainda em mãos abriu novamente a conversa com o namorado.
"Ei, eu tenho uma surpresa pra você" ela digitou rapidamente, sem precisar esperar para que os dois tracinhos ficassem azuis.
"Mostra"
"Não, só quando eu for pra L.A."
"MALVADA!" ele mandou três carinhas vermelhas bravas, o que fez Lena rir. Baixo, claro. Ela não podia acordar os amigos.
"Relaxa, tá chegando" e um emoji piscando ao lado.
"Não aguento mais esperar".
Ela também não aguentava.
Mas tudo bem, só mais um mês e ela finalmente estaria ao lado do namorado. Literalmente.

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90 Por Cento [Tom Holland]
Fanfiction{CONCLUÍDA} Ela sempre precisava ficar lembrando a si mesma sua condição de fã. Ele sempre repetia a si mesmo que ela era só mais uma fã. A distância ajudava. Os sentimentos, não. ------------------------------------------------------------- IMPORTA...