20.

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O começo foi estranho.

Quer dizer, primeiro porque Helena não conseguia acreditar muito bem no que estava acontecendo. Por alguns dias ela teve certeza de que havia sonhado absolutamente tudo, porque sonho era a única maneira lógica de aceitar tudo aquilo.

Aos poucos tudo foi ficando mais real.

Nos primeiros dias ela e Tom conversavam exatamente da mesma maneira, parecendo apenas amigos e nada mais. E então vieram os primeiros flertes explícitos. As primeiras provocações. Até finalmente chegarem ao ponto de realmente parecerem namorados.

— "Quando você vier pra L.A. eu não vou te deixar sair da minha cama". Uau. Eu nem sei medir o tanto que você vai dar pra esse menino. — a voz de Eduarda soou por cima do ombro de Helena, deixando claro que a amiga estava lendo sua conversa sem nenhuma vergonha.

— Caralho, Eduarda! — Lena puxou o celular para longe, bloqueando a tela e olhando feio para a amiga, o rosto ficando quente. — Por que você tá lendo a minha conversa?

— Ué. Eu 'tô entediada. Não esqueça que foi você quem pediu pra eu vir na Polícia Federal contigo pra fazer o passaporte.

— Porque você estava pela região. E isso não é sinônimo de "pode ler minha conversa com o meu namorado", você está ciente disso, né?

Eduarda apenas revirou os olhos, voltando a mexer no próprio celular. Helena bufou, respondendo rapidamente a mensagem de Tom. Não que ela estivesse brava com Eduarda, apenas estava com vergonha. Mensagem de teor sexual não era exatamente algo que ela queria que fosse compartilhado.

Mas não podia culpar a amiga. Elas estavam ali fazia quase quarenta minutos – isso porque ela havia marcado horário. Helena sabia que, depois que fosse chamada, seria realmente rápido. O problema era ser chamada.

— É muito ruim namorar a distância? — Eduarda largou o próprio celular novamente, voltando a prestar atenção em Helena.

Ela parou por um minuto. Óbvio que era. Quer dizer, ela não podia nem beijar o namorado. E por mais que eles conversassem basicamente todos os dias, não era mesma coisa, nem de longe. Ela queria tocar e ser tocada. Beijar e ser beijada. Por isso queria aquele passaporte logo, para fazer aquela viagem logo e finalmente estar perto de Tom. Mas aqueles malditos não lhe chamavam.

— Sim. — ela suspirou, deixando o celular um pouco de lado para dar atenção a amiga. — Quer dizer... Eu não posso fazer muito do que eu queria, entende?

— Tipo dar pra ele?

— Cala a boca.

Cinco minutos depois Helena finalmente foi chamada. E o processo para tirar passaporte era realmente muito rápido. Mal haviam olhado para todos os documentos que haviam pedido para que ela levasse. No fim apenas uma foto e era isso, seu passaporte estaria pronto dali uma semana, quando ela poderia finalmente retirá-lo. E que fizesse uma boa viagem.

Foi obrigada a ouvir mais algumas gracinhas de Eduarda no caminho para casa, apenas tendo paz quando a amiga desceu sete pontos antes. Pelo menos agora ela tinha a consciência tranquila em relação ao passaporte. O próximo passo era tirar o visto, o que todo mundo dizia ser chato demais. Os Estados Unidos eram realmente paranóicos em relação a gente de fora.

Thaís e Flávio ainda não haviam chegado do trabalho, o que Lena considerava um alívio. Eles estavam no constante clima de lua de mel desde o pedido de casamento, o que só a lembrava todo o tempo o quanto ela estava atrapalhando a intimidade dos dois e precisava sair daquela casa logo. Mas ela ainda não havia conseguido um emprego melhor porque a vida tinha dessas.

Mesmo estando sozinha em casa ela foi para o próprio quarto, se trancando a conectando o wi-fi. Abriu a conversa com Tom, vendo que o status dele estava online. Pensou em simplesmente mandar uma mensagem, mas qual seria a graça? Se ajeitou melhor na cama, arrumou um pouco o cabelo e iniciou uma chamada de vídeo.

— Oi, gatinha. — quem atendeu foi Harrison, piscando para ela.

— Haz! Oi, amor! — ela piscou de volta, arrancando uma risada do rapaz.

— Eu ouvi isso! — a voz de Tom soou ao fundo e em poucos segundos o rosto dele estava aparecendo ao lado do melhor amigo. — Eu fico fora dois segundos e minha namorada e meu melhor amigo flertam.

— Quem manda ter uma namorada linda?

— Quem manda ter um melhor amigo lindo? — Helena e Harrison falaram exatamente ao mesmo tempo, fazendo Tom revirar os olhos. — High-five virtual!

Helena levantou a mão, vendo Harrison repetir o gesto e Tom começar a rir sem parar. Tom então expulsou Harrison, rindo enquanto ia para o próprio quarto e trancava a porta. Um pouco de privacidade era bom, obrigada.

— 'Tá, eu tenho uma novidade. — ela observou enquanto ele se deitava na cama, a imagem tremendo um pouco. — Tirei o passaporte!

— Já? Ainda estamos em novembro! — Tom começou a rir da careta que ela fez. Era uma notícia boa, caramba! Era pra ficar feliz. — 'Tô brincando. Na verdade, se você pudesse, eu comprava a passagem para você embarcar amanhã mesmo.

— Como se você estivesse super tranquilo, né? — ela tentou manter o tom neutro. Como ela queria ir para Los Angeles ficar perto daquele menino, meu deus.

— Helena, se você estivesse aqui eu tiraria tempo da puta que pariu pra ficar com você.

Merda.

Nessas horas ela simplesmente odiava estar no Brasil, de todo coração. Ou odiava que ele estivesse nos Estados Unidos. Resumindo, ela odiava a distância. Que merda. Tudo o que ela queria era estar ali, com ele. Ouvindo-o falar aquelas coisas pessoalmente. Ela tinha certeza que a voz dele era diferente pessoalmente, ela ainda lembrava do único encontro que eles já haviam tido. Quando eram apenas fã e ídolo. Quase um ano atrás. Agora eles eram namorados. A distância. E tudo o que ela queria era estar ao lado dele, na cam–

— Eu te odeio. — ela não conseguiu evitar, mas havia acabado de lembrar da mensagem que ele havia mandado e Eduarda havia lido. E falado da mensagem o tempo todo.

— Hã... Desculpa? — ele franziu as sobrancelhas e riu. — Eu não entendi muito bem de onde isso veio ou onde eu errei, mas desculpa.

— A Eduarda leu aquela mensagem. De que você não vai me deixar sair da sua cama quando eu for pra L.A.

— Ah.

— Ela ficou falando disso o tempo todo depois.

— Óbvio.

— Sobre como eu vou ficar dando pra você.

— Certíssima. — ele riu ainda mais da cara de chocada que ela fez. Mas... Não tinha nenhuma mentira naquela história toda, né? — Ela parece uma menina muito inteligente.

— Thomas. — ela usou um tom de repreensão.

— Ah tá! Você pode zoar com o Harrison mas eu não posso encorajar sua amiga que, vamos ser sinceros, só falou a verdade?

— Eu te odeio. — ela repetiu com um enorme sorriso no rosto.

— Não, Lena, você me ama.

E ela odiava o fato de que aquela era a maior das verdades. 

90 Por Cento [Tom Holland]Onde histórias criam vida. Descubra agora