15.

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  — Quando você vem pra Inglaterra de novo? 

Tom riu enquanto deixava que as costas escorregassem pela parede, praticamente se jogando no chão gelado do set de gravações. Na tela do celular, a mãe sorria para ele, os olhos brilhando animados. 

— Eu literalmente voltei para os Estados Unidos há cinco dias, mãe. — ele havia se dado ao luxo de viajar para o país no começo do mês para comemorar o aniversário da mãe – uma viagem que havia durado muito menos do que ele gostaria. 

— E? Já estou com saudades. — os dois riram do maior clichê maternal escolhido. 

Eles estavam conversando há poucos minutos, uma ligação que o próprio Tom havia iniciado ao ter pelo menos uma pequena pausa em meio às gravações. Desta vez eram apenas cenas extras, spots, material para publicidade. O "grosso" dos próximos filmes já haviam sido filmados. Agora restavam poucas coisas a ser concluídas. Não que o filme já estivesse pronto, ainda havia mais o que filmar. Mas, pelo pouco que ele havia recebido do roteiro, não faltava tanto. 

— E aquela sua amiga? — a mãe perguntou quando os dois já haviam falado demais sobre a família e trabalho. 

— Qual? 

— A que você queria que fosse namorada. — o sorriso de Nicola fez com que o rosto de Tom ficasse ainda mais vermelho. 

— Ela... Ainda não conversamos direito. — ele não olhou para nenhum ponto em específico. Às vezes ele se questionava se era realmente uma boa ideia contar certas coisas para a sua mãe. 

Quer dizer, ele sabia muito bem como se sentia a respeito de Helena. Não era algo que ele nunca houvesse imaginado que poderia acontecer, apenas não era algo que ele desejava que realmente acontecesse. Ela, afinal, morava no Brasil. 

— Por que não? — o tom da mãe era de reprovação, e quando a reprovação vinha de uma mãe ela parecia três vezes maior do que o comum. 

— As coisas estão meio corridas, para ser sincero. — era verdade. Ele realmente estava completamente atolado de filmagens e materiais promocionais. Além do que havia filmado para Marvel, agora estava fazendo as filmagens de Chaos Walking. Quer dizer, a vida estava corrida. — E ela trabalha no horário em que eu conseguiria ligar, então... 

— Não é assim que você vai conquistá-la, Thomas. 

— Eu não pretendo conquistá-la, mãe. — ele suspirou a triste verdade. Ele não tentaria, de nenhuma maneira, ser algo além de amigo de Helena. Não seria bom para nenhum dos dois. 

Ouch. — a mãe fez um som como se houvesse sido atingida por algo realmente doloroso, o que fez com que a careta de Tom se transformasse em um pequeno e levemente triste sorriso. — Tem certeza disso, filho? 

Não, ele não tinha. Ele simplesmente odiava a ideia de ter que desistir de algo sem nem ao menos ter começado o algo em questão. Mas ele não conseguia ver uma realidade em que ele revelaria seus sentimentos para Helena e tudo ficaria bem. Se ela não correspondesse, ele tinha certeza que acabaria ficando um sentimento esquisito. Se correspondesse, ele não fazia ideia de como namorariam a um continente de distância. 

Ou seja. 

— Tenho. 

— Entendi. — Nicola fez uma careta triste, o que aqueceu um pouco o coração de Tom. Era bom ver o quanto a mãe se importava com ele. — Bom, de qualquer maneira, aproveita que eu vou ter que sair com o Paddy para encontrar seu pai e seus irmãos e liga um pouco para ela. Não é só porque vocês não podem ser algo a mais que não devem nem se falar. 

Eles se despediram rapidamente, encerrando a chamada de vídeo. 

Tom abriu o Whatsapp, indo direto no nome de Helena, perguntando-se se ele deveria seguir o conselho da mãe e ligar para a garota. Era conselho de mãe, afinal de contas. No geral, conselhos de mãe não costumavam ser ruins. 

A última ligação entre ele e Helena havia sido após a estreia de Homem-Aranha no Brasil. E havia sido estranha. Claro, não era por isso que eles não estavam conversando com frequência. Tom havia gravado as cenas para Vingadores 4, e já havia iniciado um novo projeto. Sem contar as muitas aparições em programas e quaisquer coisas que pudessem ajudar com publicidade positiva. E com Helena trabalhando no único horário em que ele estava acordado e em casa... Ficava complicado. 

Ainda assim ali estava o nome dela, com a palavra "online" escrita logo embaixo.
Ele poderia ligar para ela, certo? 

Não faria nenhum mal, afinal. 

— Tom! — o rosto animado da menina apareceu do outro lado, um sorriso que ia de orelha a orelha e realmente fez com que ele automaticamente se sentisse mais feliz. Mas em questão de segundos a animação dela foi substituída por algo parecido com preocupação. — Tom, por favor, me diz que você está em algum set de filmagem. 

Apenas então ele se lembrou que ainda estava com o figurino e a maquiagem, já que logo ele teria mais algumas para gravar. Não evitou começar a rir, vendo Helena suspirar aliviada em imediato. Claro, se ele estivesse realmente com o rosto sangrando, ele não estaria rindo daquela maneira. 

— Estou, relaxa. Como vão as coisas? 

— Melhores do que eu esperava. Principalmente porque você finalmente conseguiu um tempinho na sua agenda para me ligar. — ela piscou, fazendo-o soltar a risada mais sem graça do mundo. 

Ele não queria se sentir sem graça daquela maneira, mas como ele poderia evitar? Claro que aquela era Lena, sempre com uma piada pronta, fosse qual fosse. Às vezes parecia um flerte? Parecia, mas não passava disso: uma piada. 

Ele só queria poder lidar com isso com mais maturidade. 

— Esse sou eu, melhorando o dia das pessoas desde noventa e seis. — ele balançou os ombros e sorriu maroto, fingindo que estava tudo na mais perfeita ordem. 

— Cinco minutos conversando com a sua mãe e eu te provo errado. 

— Que ofensivo! — o queixo de Tom caiu pela audácia da garota. E ela, claro, começou a rir ainda mais. — Você não merece minhas ligações, Helena! Adeus! 

— Não, Tom, não desliga! — as palavras saíram atropeladas, a risada dela engolindo algumas sílabas e atrasando outras. 

— Me dá um motivo pra não desligar, sua abusada. 

Talvez ele agora estivesse abusando da boa vontade dela, mas ele realmente queria saber o que viria a seguir. Mesmo que ele acabasse se arrependendo depois. Provavelmente valeria a pena. 

— Você me ama? — ela pareceu meio incerta. E obviamente não poderia estar mais certa, mas Tom nunca admitiria. Por isso apenas levantou as sobrancelhas, como se falasse "você pode fazer melhor". — Eu te amo?

Ok, aquilo poderia ter sido um fator diferencial. 

Só que Tom era mais esperto do que aquilo. 

Ele sabia que ela dizia como amigo. 

— Sério, Lena? Esse é o seu melhor? — a careta de desistência dela quase o fez rir. 

— Tom! É verdade! — ela voltou a rir. — Não me faz implorar. Eu já disse que suas ligações sempre melhoram meu dia em um nível inacreditável. 

Então eu não estava errado. — ele agradeceu o sangue falso e a sujeira da maquiagem. Pelo menos assim Helena não veria o rosto dele ficando vermelho de vergonha. 

— Não no que diz respeito a mim. — ela revirou os olhos, odiando admitir que ele estava certo.
A conversa não durou muito, já que Tom logo precisava voltar para suas filmagens. 

Quando se levantou, guardando o celular no bolso, ele pensou que talvez o dia fosse ser mais divertido do que ele esperava. Era sempre bom conversar com Helena. 

E, claro, ele precisava agradecer a mãe. 

Mães nunca erram com conselhos.   

90 Por Cento [Tom Holland]Onde histórias criam vida. Descubra agora