Terças-feiras eram sempre um saco. Ninguém ia ao bar em uma terça-feira. A quantidade de cliente era quase zero, especialmente durante a madrugada. No máximo alguns universitários que nunca ficavam até tarde porque no dia seguinte tinham aula e/ou estágio. Ou seja: os poucos clientes que iam para o bar acabavam indo embora muito cedo. Então toda terça eles fechavam muito mais cedo e faziam muita, muita limpeza.
E não, Helena não gostava de ficar limpando. Sim, ela limpava a casa de Flávio, mas aquilo estava muito longe de ser algo que ela fazia por prazer; ela apenas se sentia obrigada, já que, novamente, seu irmão não lhe cobrava aluguel, apenas ajuda com as contas. Limpar a casa era o mínimo que ela poderia fazer.
Mas limpar o bar era totalmente diferente de limpar a casa. Em casa ela tinha a bagunça dela, a de Thais e de Flávio, e nenhum dos três era realmente bagunceiro. Algumas louças para lavar, banheiros, passar um pano na sala, coisa simples, fácil. No bar? O chão estava sempre sujo de cerveja, caipirinha, vodca, álcool no geral. Pedaços de batata frita, calabresa e frango ficavam por toda a parte do local, porque aparentemente as pessoas não sabia como comer porções.
A pior parte era, claro, limpar o banheiro. Se banheiros públicos geralmente já eram a melhor definição de nojo que poderia ser dada, apenas porque as pessoas simplesmente não davam descarga e pareciam urinar por toda a extensão da cabine, banheiro de bar conseguia ser pior. Porque a maior preocupação não era urina ou fezes. Eram vômitos e sabe-se lá mais o que – Helena preferia ignorar o que sua mente já tinha certeza. E quando a "tia da limpeza" lavava – realmente lavava, de jogar água pra todo lado – o salão, Helena acabava tendo que lavar os banheiros.
Mas terça tinha uma única coisa boa: o uso do celular ficava liberado. Todo mundo se conectava ao wifi do bar para poder escutar músicas pelo Spotify e tornar toda a questão da limpeza um pouco menos chata. Era o que Helena costumava fazer antes de ter o Twitter pipocando com notificações de Tom. Não que eles estivessem conversando tanto assim, mas naquele dia em especial ele parecia animado. O celular dela não parava de vibrar. Um pouco escondida, ela secou a mão e abriu o aplicativo, vendo vinte e uma mensagens do rapaz que se dividiam entre "Lena!" e "Ei, Lena!".
"Que foi, Tom?" ela respondeu, um pouco impaciente e um pouco curiosa.
"Vcê repsondeu!" a resposta veio em questão de segundos, com alguns erros de digitação, o que não era muito usual de Tom. Não que eles conversassem com a perfeição da língua inglesa, claro que haviam algumas gírias. Mas aquilo estava simplesmente digitado errado. "Achei uqe voê já tva dormindo!!"
"Eu estou trabalhando. Tá tudo bem?"
"Tuso óimo! O J me trouxe pra um bar supr legal, vc ia amare!"
Ok, pausa para reflexão. Ele ainda estava digitando errado e estava em um bar. Helena saiu do aplicativo para ir até a tela principal de seu celular, onde ela havia salvado um relógio com o horário em Los Angeles, porque ela era patética a esse ponto. Vinte e duas e trinta e cinco, exatamente cinco horas de diferença, já que no Brasil ainda estava com horário de verão. Não eram nem onze da noite e Tom parecia meio bêbado. E digitando tudo errado. Ela teria que lidar com isso.
"Aposto que eu ia. Você parece estar se divertindo!" ela poderia ser casual sobre aquilo, mesmo estando com o ego super inflado por ter sido lembrada por Tom Holland enquanto ele estava bêbado.
"Eu sto! Ei, eu tava aqiu pensando que a gnt devaria comçar conversar por facetime!"
Aquilo era algo novo, para o qual ela não estava muito preparada, precisava admitir. Eles estavam trocando mensagens por Twitter há, o que, dois meses, quase isso? Ao mesmo tempo que era bastante tempo, era muito pouco. Helena também não saberia dizer se aquilo era só Tom bêbado, mas ela iria aproveitar essa oportunidade, certo? Certo. Ninguém poderia julgá-la.

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90 Por Cento [Tom Holland]
Fanfic{CONCLUÍDA} Ela sempre precisava ficar lembrando a si mesma sua condição de fã. Ele sempre repetia a si mesmo que ela era só mais uma fã. A distância ajudava. Os sentimentos, não. ------------------------------------------------------------- IMPORTA...