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— E não é que a sua amiga é legal mesmo? — Jacob ria de alguma coisa que lia na tela do celular.

— Que amiga? — Tom franziu as sobrancelhas, olhando por cima do ombro do amigo e vendo o perfil da fã do Brasil. — A menina dos 90%? Ela não é minha amiga.

— Porque você é besta. Ela é mesmo divertida.

— Você realmente decidiu encher o saco da menina né? — Tom riu, observando enquanto Jacob respondia uma mensagem para a garota. — Isso aí é DM? Você deixa a sua ligada? Qual o seu problema?

— Primeiro que eu não tenho nem 10% do seu tanto de seguidores. E 99% dos meus seguidores só me seguem por causa de você. Fica meio fácil filtrar o que vale a pena e o que não vale.

Tom balançou a cabeça, concordando. Com certeza para Jacob as coisas deveriam ser mais fáceis mesmo. O filme solo do Homem-Aranha ainda não havia estreiado, ou seja, poucas pessoas conheciam o rosto dele. O que estava longe de ser o caso de Tom, que já tinha dado as caras em Capitão América: Guerra Civil. Sua vida realmente havia virado de cabeça para baixo.

Ele estava tendo um dos poucos dias livres de uma agenda extremamente apertada, e mesmo assim ele recebia mensagens constantes de seu agente. Ainda naquela semana ele teria que participar de mais alguns talk shows, sendo um deles com o Robert Downey Jr., e isso por si só o deixava relativamente mais nervoso que o normal. Tinha mais dois photoshoots agendados e uma gravação de vídeo promocional. É, as coisas sempre estariam corridas demais.

Mas mesmo durante toda a semana, Tom ainda pensava um pouco em Jacob e a Menina dos 90% – que sim, ele havia esquecido o nome completamente. Existia uma pequena parte dele, muito pequena mesmo, que sentia um pouco de ciúme, afinal, a garota era sua fã. Uma outra parte, ligeiramente maior, sentia um pouco de inveja. Ele queria ter tido a coragem de Jacob para se aproximar da fã. Mas se aproximar de fã soava tão... Bobo.

Ele ficou meio aéreo durante quase toda a gravação do vídeo promocional com Jon Favreau. Como bom ator que era, seguiu a risca todas as orientações que lhes foram dadas, mas cada repetição de fala e gesto não era nada além de automático. E por mais que achasse que estava fazendo um ótimo trabalho, era meio óbvio que alguém acabaria notando.

— Tom? Tá tudo bem com você? — Jon se aproximou em meio a um dos pequenos intervalos, comendo um biscoito que a produção deixava de fácil acesso.

— Está sim. — Tom balançou a cabeça, olhando para o biscoito que ele ainda segurava. A verdade é que ele realmente gostava de Jon, que havia recebido-o no Universo Cinemático da Marvel tão bem quanto Downey, o que se ele pensasse a respeito significava muito. — Na verdade... Posso te fazer uma pergunta?

— Não é nada relacionado a puberdade, né?

— Que? Eu nã– Eu já passei da puberdade faz um tempo!

— Eu sei, garoto. — Jon riu e bagunçou o cabelo de Tom. O gesto, mesmo que pudesse parecer que estava reafirmando a diferença de idade entre dois, pareceu na verdade realmente amigável, algo que ele poderia facilmente imaginar Jacob fazendo. — Pode perguntar.

— Você acha estranho ser amigo de fã?

Tom nunca imaginaria que a reação de Jon seria tão engraçada, e precisou de todo seu autocontrole para não começar a rir realmente alto ali na frente do homem. A expressão de Jon parecia confusa e, ao mesmo tempo, era como se ele estivesse questionando a sanidade de Tom – o que ele próprio também fazia às vezes.

— Onde você quer chegar com isso?

E então ele contou toda a história para Jon, desde sua ida ao Brasil até a mais recente conversa que havia tido com Jacob. Claro que, contando daquela maneira, Tom se sentiu um pouco – ou muito, era relativo – infantil, mas fingiu que aquilo era sim um grande e importante problema.

— Deixa eu ver se eu entendi direito. Então essa menina parece ser realmente legal, mas o problema é que ela é uma fã?

— Em resumo, sim, é isso mesmo.

— E o ruim de ela ser uma fã é que...? — Jon fez um gesto com a mão, esperando que Tom concluísse aquele pensamento.

— E se, sei lá, ele só quiser tirar proveito de alguma maneira?

— Bom, isso não tem como você saber se nunca tentar. — Jon balançou os ombros. Claro, para ele, que já havia vivido muito mais que os vinte anos de Tom, aquilo era provavelmente simples demais. O garoto estava apenas dramatizando. — Se você já achou ela legal e agora seu amigo só confirmou essa ideia inicial, eu não vejo como dar uma chance a uma nova amizade, mesmo sendo com uma fã, possa ser errado.

— Mas e se–

— Se ela acabar sendo babaca com você, corta laços, se afasta. Isso sempre acontece em algum momento na vida, garoto, e ser fã não tem nada a ver com isso. — eles ficaram um curto tempo em silêncio, Jon esperando alguma reação e Tom apenas pensando no que havia acabado de ouvir. — Tá, agora vamos voltar que ainda temos muito trabalho pela frente.

Ele concordou e também foi pegar um biscoito, tendo que engolir em duas mordidas porque logo já era hora de voltar para as gravações. Ele se sentiu muito menos aéreo após a conversa que havia tido com Jon. O homem estava certo, claro que estava. E talvez aquelas fossem exatamente as palavras que ele precisava para tomar coragem e mandar uma mensagem para a tal menina dos 90%.

90 Por Cento [Tom Holland]Onde histórias criam vida. Descubra agora