Capítulo 13 - Desconhecido

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OBSERVANDO COM CUIDADO o seu escritório pessoal, Juliet tinha colocado tudo que era necessário e gostava ali, guardava a crescente coleção das leis de variadas línguas em prateleiras limpas, em ordem alfabética rigorosa, com as lombadas de couro voltadas para fora a fim de exibir os títulos.

Uma mesa de madeira exibia papéis a serem estudados e uma escultura que ela mesma tinha feito na época em que queria ser escultora de madeira.

O rei não aprovara, como sempre. Uma rainha nobre e filha de uma grande família não deveria machucar os dedos com farpas de madeira, quebrar as unhas com ferramentas, ou ficar com olheiras por causa de noites mal dormidas devido a esculturas sem sentido.

Provavelmente o escritório ficaria fechado por semanas, meses ou até anos, se só pudesse voltar quando o dever hereditário ordenasse.

- Entre. - Sua voz saiu mais ríspida que pretendia, quando bateram na porta.

Ela estava de pé, de costas para a entrada, mas pelo barulho de saltos espancando o chão, Juliet se virou ciente que Roberta estava presente.

- Estão 20 minutos atrasados - advertiu.

Airon ignorou o comentário, cruzando as longas pernas de modo calculado enquanto pousava os olhos astutos sobre a prima.

- Olá para você também.

- Como se fosse fácil cruzar meio país, mesmo em um jatinho particular - disse-lhe a mulher, que apoiava as mãos no encosto da poltrona, conforme sentava. Roberta Santiago era uma mulher esbelta com seus cabelos curtos, negros e chanel no ombro. Corpo magro, pele rosada e olhos grandes e pretos como jabuticaba. Parecia muito jovem, mesmo que fosse quase cinco anos mais velha que Juliet. Seu ar juvenil escondia com precisão uma Irmã Trung, capaz de sorrir como abutre em meio à carniça.

- Prometo melhores acomodações na próxima vez. O caso é que partirei para Muíça amanhã, não tive muito tempo para pormenores - ambos ficaram surpresos com a notícia, deixando Juliet ligeiramente aliviada que os rumores de seu noivado não fossem talvez tão notório assim. - Surpresos?

- Sim. - Recuperado da notícia, Airon estreitou o olhar, fitando algo que ainda não era capaz de ver. - Então você está noiva do príncipe muíço.

- Acho que ficariam chocados se soubessem de tudo... O noivado não era segredo para ninguém, ao que parece, só para mim. - Admitiu, enquanto apertava a unha na palma da mão.

- Um sanguinário no trono de Abele. - Roberta começou. - Faz muito tempo que não temos reis assim.

Juliet ouviu a nota de diversão no tom de sua voz, embora tudo que podia ver era o rosto tranquilo dela. Conhecia-a vida inteira, mas Roberta era sempre um enigma.

- O que pretendem fazer nos próximos dois meses? - Inquiriu Juliet, dando uma olhada aos dois rapidamente.

Já estava quase anoitecendo quando finalmente Juliet se dirigiu para a ala mais afastada do Castelo, ciente de que o lugar era grande o bastante, para que ela não soubesse o que acontecia em tudo. Uma suave melodia se fazia ouvir cada vez mais alto quando Juliet bateu à porta. Lúcia estava no meio do quarto, sentada em uma pequena poltrona, dedilhando cordas no violino, enquanto sua perna esquerda estava amparada numa tipoia.

Usava um traje amarelo e os cabelos impecavelmente atados à altura do pescoço. Juliet sempre achou a jovem Lúcia uma mulher belíssima, dona de uma delicadeza de uma verdadeira rainha, apesar dela ser a segunda na sucessão do seu trono em Gates.

Vê-la tocando tão abstraída de sua presença, mesmo sabendo que a tinha visto, lhe deixou um tanto melancólica.

A princesa a estudou cuidadosamente, esperando o fim da melodia antes de falar. Os olhos verde-amarelos não refletiam mais raiva, mas se apresentavam ensombreados.

- Fui descoberta. - Lúcia sorriu fracamente para ela quando baixou o violino até pousar sobre o colo. - Não fique brava.

- Não estou. Não mais.

Juliet andou pelo quarto até aproximar-se do lindo buque de flores no aparador do quarto de hospedes, quarto que Lúcia sempre costumava dormir quando estava em Abele. Eram lindos lírios amarelos que faziam incrível conjunto com os cabelos loiros de Lúcia.

- Foram de Liam.

Juliet afastou a mão da flor rapidamente, como se ela tivesse picado. Voltou-se para Lúcia com o semblante carregado.

- Não deveria aceitar presentes de desconhecido, Lu.

- Ele não é nenhum desconhecido, é seu noivo pelo que fiquei sabendo - redarguiu Lúcia, meneando a cabeça e procurando nos olhos claros razões que justificassem a aspereza na voz de Juliet. - Ele foi mal com você, Juliet?

- Não - a admitiu, imaginando por que Lúcia não parecia tão aborrecida como tinha pensado com a notícia. - Não da maneira que você quer dizer.

- Mas esteve chorando - comentou a amiga, fazendo-a concluir que todos os artifícios como o blush e a máscara facial, não lhe valeram de nada.

Os vincos na fronte de Lúcia se aprofundaram.

- Sim - confirmou, suspirando.

- Me conte o que esta havendo, Ju.

- Estou indo para Muíça amanhã. Não sei o que fazer.

Lúcia a fitou, estranhando.

- Você é Juliet Genevieve e uma Gilbert, ainda por cima, você sempre sabe o que fazer.

Juliet riu, um tanto amargamente.

- Estou confusa, com raiva. Raiva dele, raiva de meu pai, raiva de mim mesma.

Lúcia se remexeu, inquieta.

- Me desculpe não poder estar presente quando soube da notícia. Estava no hospital, como sabe, mas deveria ter ao menos telefonado. Pensei que... pensei que iria querer ficar sozinha.

- Não se desculpe. Você tinha razão, precisava ficar sozinha para tirar aquilo tudo do meu sistema. Estou um pouco melhor agora, pelo menos consigo aceitar esse infortúnio e pensar sobre isso.

Lúcia fez o seu tom ser leve ao dizer:

- Pense pelo lado positivo, Ju. Vocês poderão se conhecer melhor na Muíça. A Muíça é um país lindos, cheio de contraste.

Algo faiscou nos olhos de Juliet, antes de eles se tornarem insondáveis.

- Falando nisso, o príncipe lhe convidou para Muíça, pelo que soube. Facilita as coisas.

- Sim - confirmou Lúcia. - Facilita o que? O que está pretendendo fazer?

- Nada demais. Quando estivermos em Althea lhe conto tudo - começou ela, enquanto se encaminhava à porta. - No momento certo.

As sobrancelhas de Lúcia se ergueram. Quando ela estava com aquela cara, não adiantava insistir, Juliet manteria sigilo. Lúcia não estava segura, mas assentiu para ela.

- Está bem.

. . .

Lúcia é um amor, ou não é?

Lúcia é um amor, ou não é?

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O designo de JulietOnde histórias criam vida. Descubra agora