CAPÍTULO 11 - Museu

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DECIDIDA A DESPEDIR-SE DA MÃE, ela vestiu-se cuidadosamente, preocupando-se com os pormenores do seu aspecto, como havia meses que não fazia.

Maria não apareceu e não tivera nem a coragem nem a vontade de chamá-la. Lúcia também desaparecera.

Assim, passou uma hora com o aparelho de cachear, como costumava fazer nos anos em que sua mãe estava viva, encaracolando e penteando meticulosamente o cabelo acabado de lavar. Precisava de um tempo sozinha, antes que Maria lhe atormentasse com a mala que teria de fazer às pressas, o que lhe renderia uma dor de cabeça, tinha absoluta certeza.

Estava realmente assustada como Lúcia ainda não havia arrombado sua porta até agora. Juliet suspirou. Mesmo sendo tão jovem no auge dos vinte anos, Lúcia provavelmente entendia que ela queria assimilar tudo com calma. Lúcia às vezes a entendia melhor que ela mesma.

Desceu as escadas numa caminhada fácil e apreciou a forma como a névoa matinal envolvia os jardins de Inverno, lateral do castelo. Olhou para os lados, verificando se ninguém olhava e aumentou o ritmo para passo de corrida ligeira, enquanto percorria o caminho de acesso para o vilarejo. Não demorou nem vinte minutos depois e já estava no museu.

Era uma mulher alta e esbelta, de cabelo longo e desalinhado. Os olhos perscrutavam o terreno da entrada: os cornisos delicados, a imensidão de amores-perfeitos que vira semanas antes em sua última visita e os canteiros que só teriam flor dali a algum tempo... Flores que ela nunca mais poderia ver.

Para ela, não havia um lugar que lhe trouxesse paz e que pudesse competir com a Elizabeth House, tal como não havia museu que se equipara se à sua imponente elegância.

Por hábito, parou na antessala e cumprimentou os funcionários. Ninguém estranhou sua presença. Juliet vinha com bastante frequência aqui. Subiu a escadaria dupla até à varanda que envolvia o primeiro andar, depois se dirigiu a ala oeste, a sala de artes.

A sala era espaçosa e ricamente decorada com vários quadros pintados a mão pela rainha Elizabeth Genevieve Brandan Gilbert. Esse era o lugar, o seu lugar. Adorava as janelas altas que sua mãe tinha escolhido, a madeira trabalhada no parapeito do segundo andar, o amplo espaço do salão. Tudo ali era tão perfeito e sólido que Juliet se sentia rica, muito rica de possuí-lo como herança de sua mãe e poder dividir isso com outras pessoas. A ideia do museu tinha sido sua afinal de contas.

Antes de sair de Abele, queria muito despedir-se da mãe, mas não era no cemitério que conseguiria fazer isso. Aqui, refletiu levantando os braços abertos, era o lugar que mais se lembrava da mãe.

Sua mão pousou em reverência em um dos quadros. Conhecia todos os detalhes dos duzentos quadros, mas alguns lhe intrigavam, como os da coleção de "Afetos".

Havia um quadro, intitulado Maternidade, que uma mulher, de cabelos negros e lisos, abraçava um filho de olhos incrivelmente verdes. As cores em tons pastéis, o olhar de doação, o aconchego, tudo se harmonizava e transmitia a sensação de vida. Em contraponto com a obra anterior, estava a mesma mulher, dessa vez sozinha, com predomínio de cores sombrias, do azul e o verde. No final, apenas um letra: C.

Os quadros seguintes, Juliet sabia a quem se tratavam. Eram as irmãs bosnianas de sua mãe. As mulheres que brigavam entre si á mesa de jantar, em um tom rico de verde, a cor da Bósnia.

Sua mãe era conhecida pela sua diversidade na pintura, algumas eram sóbrias e outras carregadas de cores. Juliet pessoalmente gostava mais das pinturas com espátulas e tinta a óleo. Apesar de sua técnica grosseira, o resultado das obras era muito delicado.

A maioria dos quadros da mãe, retratava cenas corriqueiras, geralmente, logo depois das chuvas, mostrando o cotidiano das cidades e países que visitou, natureza e músicos.

O designo de JulietOnde histórias criam vida. Descubra agora