Victtória deitada no ombro de James estava por observar as gotas na janela em sintonia com as luzes da rua. James já estava dormindo e ela perdida em seus pensamentos. Começou sem perceber comparar James com Albert. Victtória tinha a alma de uma escritora, e querendo ou não, nunca haverá um momento se quer que ela vá esquecer.
James era um homem decidido, romântico, muito atencioso e sério. Albert era um garoto, misterioso, marginal, e totalmente envolvente. James era de mandar flores, Albert lhe ensinava andar de skate, James levava café na cama depois do sexo e Albert levava ela pra transar em uma construção. Personalidades diferentes, mas ambas encantadoras. Há momentos da vida de Victtória que ela queria poder ter os dois.
Por exemplo, depois de um dia cansado ela queria chegar em casa e deitar no colo de James para ele fazer um cafuné. Mas se por acaso o livro dela fosse publicado, seria Albert quem ela iria procurar para comemorar. Seria injusto ter os dois, afinal ela já teve sorte o bastante por ter apenas a oportunidade de viver momentos incríveis com eles.
Victtória sempre foi pessimista, as coisas sempre davam errado pra ela, e quando dava certo ela já imaginava o que de pior poderia acontecer. A lógica dela era um tanto quanto engraçada, pois se ela imaginasse o pior e se realmente o acontecesse, ela não ficaria surpresa já que era imaginável. Mas se caso pensasse positivamente, talvez á decepcionasse com o ocorrido.
Em quanto os pensamentos tomavam conta do quarto, Victtória pega no sono. No dia seguinte acorda cedo, o sol nem havia aparecido ainda, mas ela já estava de pé destinada a passar o dia todo caminhando. James acorda e a mesa estava arrumada com o seu café pronto. Ele se arruma e segue para seu emprego, contente.
Victtória ao sair na rua sentia a impressão de que estava no filme de sua vida. Tudo ao seu redor eram acontecimentos parecidos com os que ela viveu, e alguns idênticos aos que ela sempre sonhou viver. Era possível identificar os detalhes de forma explicita.
Como a garotinha sentada na escada da sua casa, com o polegar da mão direita levantado, lhe direcionando a câmara que estava nas mãos de seu pai. O sorriso da menina ao ver os olhos do pai brilhando no momento em que estava prestes a tirar a foto, era comovente por qualquer um que os notassem.
Do outro lado da rua, a expressão da adolescente ao se esbarrar com um professor em frente ao supermercado, era engraçada. Ela franzia os olhos demonstrando constrangimento, mas de forma discreta para que ninguém percebesse. Quando o professor passa por ela, de forma educada ela o cumprimenta, mas o seu "bom dia" foram às palavras ditas com a vergonha exalando dentro de si.
Logo à frente, havia uma garota a provocar um garoto. Estava claro que os dois se gostavam, mas ela o ignorava, e passava por ele quantas vezes possa imaginar. Ele orgulhoso como ela, resolveu jogar o mesmo jogo. Os dois se ignoravam, mas de fato estavam destruídos por dentro com a imensa vontade de abraçar um ao outro.
Victtória sorria ao ver todas aquelas cenas, seu sentimento era nostálgico. Para ela, de certa forma lhe confortava ver aquelas pessoas vivendo o seu cotidiano. Victtória estava em um momento de sua vida, que andava totalmente fora dos trilhos, mas naquele estante sentiu-se no caminho certo.
Quando finalmente se da conta, está distante da casa de James e o sol estava prestes a dar seu lugar à lua. Voltava para casa sendo levada pelo vento e as energias boas que a lhe cercaram. Por mais que parecesse um sonho, para ela era a realidade que sempre quis viver.
Ao chegar a casa, James estava preocupado a sua espera. Victtória explicou que foi apenas caminhar pela cidade. Contou-lhe tudo o que viu, e o que imaginou. James por mais cansado que estivesse, deu total atenção a ela. Logo após o jantar, foram dormir, estavam exaustos.
Na madrugada Victtória levanta com uma imensa vontade de fumar um cigarro. Foi até a janela da cozinha, e passou a observar a rua. As lembranças da sua infância lhe fez pensar, na inocência que ela tinha quando criança. Brigava com seus pais, o implorando para não fumarem. E nos dias atuais, ela quem fumava.
Não havia sentimento de culpa, apenas hipocrisia da sua própria parte. Ao decorrer da noite, três cigarros passaram por seus lábios. Em uma mão estava à xícara com café quente, e do outro lado o cigarro, e dentro de si apenas lembranças.
A sua vontade naquela madrugada, era de dançar no meio da rua, deitar na grama molhada para observar as estrelas, e tomar um vinho no meio fio da rua mais movimentada. O seu desejo era se libertar. Confirmar a certeza que a vida foi feita para viver.
Sentada no sofá da sala, ouvindo clássicos do rock, não conseguia pensar em mais nada. Era verídico que seu instinto era de liberdade, mas o seu cérebro não aguentava tanta informação. Com a cabeça a latejar, e a dor se espalhando, o coração pulsando rapidamente, a noite em neblina, deitou-se e adormeceu.
Quando acorda, James já havia ido para o seu emprego. Victtória se levanta e arruma-se para ajuda-lo, como nos velhos tempos. James fica surpreso e contente de ver Victtória o acompanhando no trabalho. Passam o dia juntos no mercado. Querendo ou não, tudo aquilo virou rotina.
Victtória estava feliz ao ver James realizado, mesmo ela ainda não ter realizado sonho algum. Talvez tudo o que estava vivendo era um sonho virando realidade, ou até mesmo uma história de um bom livro, ou sua vida criando seus próprios destinos. Decide deixar tudo como esta, mesmo com sua repentina vontade de virar sua vida de ponta cabeça, deixando tudo fora do lugar, para ela escolher onde direciona-los.
Ao amanhecer decidem levantar cedo para irem comprar a arvore de natal e algumas outras decorações natalinas. Tudo estava fluindo naturalmente bem. Finalmente os dias de Victtória estavam sendo especiais para ela. Naquele momento ao olhar para James dirigindo e segurando sua mão, o único desejo de Victtória era que tudo aquilo fosse eterno. Quando chegam à loja se divertem escolhendo suas decorações.
Estava quase na hora de James abrir seu mercado, então Victtória fica na loja para terminar de fazer as compras. No momento em que ele sai do estacionamento e vai em direção a decida, no seu lado direito um carro sem controle bate em seu carro. Victtória ao ouvir a batida, sai da loja correndo para ver o que aconteceu, e se depara com o carro de James de ponta cabeça.
A arvore de natal rolava morro a baixo, e com ela seus sentimentos. Victtória em desespero gritava o nome de James e ao chegar perto do carro vê seu estado e começa a gritar horrorosamente. Senta ao lado de James e tenta limpar os sangues que cercavam seu rosto. Victtória estava abismada e sem saber o que fazer, sai correndo aos prantos.
Novamente a vida insiste em ser ruim com Victtória. Quando as coisas pareciam estar dando certo, morre a única pessoa que ainda se importava com ela. Ela já não aguentava mais sofrer, aquela dor no seu peito estava-te sufocando bruscamente. Ela não via motivo para tanta tragédia.
Victtória sempre foi de acreditar que na vida tudo precisa de um equilibro. Que todo este mal que estava acontecendo com ela naquele momento, no futuro iria ser compensado com coisas boas. Afinal se ela não acreditasse nisto, ninguém mais acreditaria por ela. E agora mais do que nunca, ela tinha que encontrar forçar para continuar.
Chegando à casa de James, Victtória liga para alguns parentes para contar o ocorrido. Não iria ficar por muito tempo naquela casa, pois nem conseguiria. Passou o dia todo escrevendo, estava precisando colocar para fora o que sentia. A noite passou em claro imaginado o que seria dali pra frente. Teria que traçar metas e de uma maneira ou de outra, ter um objetivo especifico para ir adiante.
Obviamente não seria fácil, e infelizmente depois de muito tempo ela voltou a ter pensamentos suicidas. De qualquer forma imaginar seu suicídio baseado no seu cotidiano lhe fazia bem. Ela não iria se matar de verdade, até porque como tudo dava errado para ela, mesmo se tentasse não daria certo. Mas esses pensamentos lhe confortavam pelo fato de diminuir a dor ao imaginar que nunca mais sentiria nada.
No dia seguinte Victtória não vai para o velório de James, preferia acreditar que nada era real e um dia ele entraria novamente pela porta. Todo mundo na vida tem certa missão, e pessoas boas partem rápido porque sua missão é fazer alguém feliz, e quando finalmente conseguem, precisam ir embora imediatamente. Não é uma missão fácil e por isso só os especiais são escolhidos.
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Utopia ou Suícidio
AdventureA história não começa, e nunca acaba. Precisamos morrer todos os dias, para ser possível renascer. A real utopia é entre o nascimento e a morte. E o suicídio verdadeiro, é entre o adormecer e o acordar. Victória é uma garota insatisfeita com sua vi...