•19➼ Ice love•

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  ♔Noel

13/01/2010

14:30 horas

Pego a mão de Alison e olho os dois lados da avenida antes de atravessar pela faixa de pedestre. A loira apertava minha mão deixando possível sentir suas unhas entrando em minha pele, a medida que América, ao seu outro lado, tagarelava sobre sua adolescência regada a álcool e garotos. Fútil. 

A questão era que eu me identificava com a vida vazia da ruiva magra e bagunçada. Eu era o jovem bebendo e azarando todas as meninas, saindo com mais de três em um espaço de horas, usufruindo das regalias do dinheiro, tentando de qualquer forma fazer meus pais perceberem o garoto fodido que eu era.

E então, entrava a parte de mim coincidente com Alison: ambos éramos negligenciados por nossa família aristocrática. Ambos caminhávamos lado a lado em um caminho sem regras e sem placas indicando o caminho, por fim.

—Vamos deixar as fantasias no carro. —ouço a voz adocicada da mulher que fizera minha parte divergente da dela, se tornar o que deveria ser para ela. Se tornar melhor, se tornar tão profunda quanto eu me sentia ser. Me entregando uma bandeja de liberdade enquanto eu me entrelaçava a ela.

Alison me deu liberdade ao me permitir ama-la, ao me amar. E isso era amor. Eu não acreditava mais nos homens, nos meus amigos, dizendo que amar alguém era prisão. Eu era preso quando minha vivencia era momentos vazios.

Eu não precisei de muito mais que uma amostra da profundidade de amar Alison —e não qualquer um, pois, era ela que dava sentido ao amor, como tudo em que tocava— para não querer voltar para minha antiga vida. 

—Não querem mesmo passar a noite aqui? Poderíamos fazer uma noite de meninas! Fazem isso em Rosewood? —A ruiva diz enquanto sacode os braços gesticulando,  excessivamente animada.

—Chicago não é o meu sonho de férias. —Alison diz sem rodeios e para na calçada em frente ao lado Michigan, a metros do carro, assustando a menina acostumada com outro tipo de Alison, mais branda. Alison nota, mas simplesmente me olha erguendo a sobrancelha e eu pego a sacola de pano, onde eu havia trazido nossas roupas do carro para casa de América, para que nos trocássemos, e agora continha nossas fantasias.

Solto a mão de Alison e beijo sua testa, passando pelas duas e indo até o meu carro, coloco a chave na porta e puxo a trava, abrindo a porta e jogando a bolsa no banco traseiro. Travo o carro e volto a andar em direção a elas, gingando. 

Alison havia cumprido sua missão após um almoço regado a questionamentos de América e esporro de sua vó pela inconveniência. América havia concordado em providenciar identidades falsas, ser o abrigo de Alison e manter o contado entre nós dois. Sua única exigência fora patinar conosco no lago e nos aceitamos de bom grado —era o que estávamos indo fazer.

Entretanto, enquanto acompanhava a conversa das duas segurando a mão de  Alison e não expressando qualquer emoção, naquele sofá antigo, eu percebi o que ela estava fazendo e passou por minha cabeça a loucura daquilo.

Ela continha apenas 14 anos e estava sendo obrigada a agir como uma adulta, viver como uma fugitiva. Caralho. Era insano. 

Era insano desde que uma menininha de 7 anos me contou sobre sua armadilha para se livrar da irmã, POIS A IRMÃ A ATORMENTAVA e seus pais não faziam nada. Era insano que após isso, os pais dela ainda permitiam a irmã de ameaça-la —eu não mantinha duvidas de que fosse outra pessoa o remetente das mensagens— e era insano o medo que Alison nutria. Era insano ela guardar tudo para ela e não me permitir saber, por medo.

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