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  ♔Noel♔ 

09/07/2012

09:00 horas

Eu estou quebrado, minha cabeça arde, meu corpo arde, tudo. Porém, é um dia importante, onde não importa se eu estou ou não cansado. Alison estava de volta à escola e apesar de ela ter mesmo colocado seu melhor sorriso, eu sabia que aquilo a assustava. Ela teve apenas um dia de volta ao inferno e então, lidou com a perca de sua mãe —querendo ou não, quem a criou. 

Sobre a questão do cansaço enquanto caminho pelo campo para as arquibancadas é devido ao meu próprio problema: Eric Kahn e a festa idiota que ele começou por volta das duas da manhã, após meus pais saírem para uma viagem emergencial. A noite de ontem, para mim e minha garota, foi um inferno e eu por alguns segundos, agradeci por Noah não estar vivendo aquilo, porque ele não merecia. Nem ele e nem Travis. 

Mas se pode aprender muito no inferno e, em meio ao caos, sempre há uma luz. A minha luz tinha um brilho dourado intenso com dois pontos azuis gelo.

  ❝ Ando de um lado pro outro no quarto, tentando acalmar Travis que berrava pela mãe e pelo pai, rejeitando até mesmo eu. Ele queria mama e eu tentava decidir se poderia descer lá embaixo, porque as paredes tremiam com a música que os bêbados desfrutavam junto de seus miolos moles. 

— Calma, bebê. —murmuro contra o cabelinho de Travis, suado pelas horas que conseguiu dormir antes de ser acordado por seu próprio pai.

Eu não poderia acreditar que já fui aquilo um dia, aquela pessoa que Eric vinha sendo. Eu não me imaginava mais com aquela futilidade, sem poder aproveitar nada. A música alta, as bebidas, as noites em claro sem uma conversa mais séria, aquilo não era diversão, era uma fuga alucinatória, problemática. 

Olho para a dona de meu novo eu, para a mulher que mesmo com sua pouca idade, com seus problemas e com seus medos, me transformou em quem eu estava condicionado e em quem eu me orgulhava de ser. 

Alison se levanta delicadamente, colocando os pés no chão como se fosse uma pena e caminhando com passos decididos, mas leves. Eu não poderia deixar de admira-la e agora, quando meus olhos veem os seus, apenas deixo em minha mente as lembranças boas. Eu a entendia, a compreendia, a via. Aquela pequena membrana que ocultava a  minha visão perante a ela, sumiu. 

Não, não deixei de penar para encontrar-me bem sobre Noah, mas era minha melhor amiga ali, era a pessoa que mais prezava por mim. E eu sabia daquilo porque ela me olhava com tanto carinho, com tanta enfatização sobre meu bem-estar, que estava propícia a escolher a solidão, apenas para ter certeza que eu não sentiria dor —dor que antes era por olha-la, dor infantil, era o ódio, o medo me consumindo, o medo de perde-la também.

Alison se via como uma pessoa mesquinha, mas eu não poderia concordar. Não depois de tudo que ela andava arriscando desde que estamos juntos, não do modo como eu a vi fazer quando preferiu se afastar de Noah do que coloca-lo na mira de -A.

Era essas coisas que eu precisava prezar, manter, amar, me importar.

Com calma, Alison pega Travis e o medo que antes eu tinha, o medo irracional de que ela fosse a vilã de matar bebês, se dissipa por completo. Olhando-a enquanto ela o embala em um coberto que resgata da poltrona, equilibrando-se para mante-lo firme nos braços enquanto faz aquele gesto, era impossível não perceber. Eu estava recuperado... não do luto, mas do medo.

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